quarta-feira, 27 de maio de 2020
Transacções infernais
A TVI teve acesso ao contrato de compra e venda do Novo Banco, cuja divulgação pública tem sido uma exigência levantada nos últimos dias na esfera política. A primeira estranheza passa pela identidade do comprador: em vez de Lone Star, o nome que surge no contrato é Nani Holdings. O contrato a que a TVI teve acesso é confidencial e está guardado a sete chaves no banco de Portugal. Um documento extenso, mas que, logo ao início, surpreende: o que podemos ler e que, a 31 de março de 2017, foi celebrado o contrato entre o fundo de resolução e a Nani Holdings. O primeiro manteve 25% do banco e o segundo adquiriu 75%. A Nani Holdings, adquirente, é detida a 100% pelo Lone Star Fund, no Luxemburgo. Este, por sua vez, tem como maior acionista, a Nani Superholding, com sede no paraíso fiscal das Bermudas, e é detida por uma diversidade de fundos geridos pela americana Lone Star, dona indireta do Novo Banco. O mesmo é dizer que será difícil fazer o percurso inverso até à responsabilização. Ou seja, até quem tem de pagar ou devolver seja o que for.
Não há grandes comentários a fazer a este excerto da notícia da TVI. Confirma-se simplesmente a sordidez associada a este processo político de internacionalização da banca nacional, em que pagamos, mas não mandamos, compelido pela integração europeia e, infelizmente, aceite pelo governo.
Entretanto, e isto é mesmo uma nota de rodapé, é óbvio que Centeno não deve ir para governador da sucursal de Frankfurt, mas se calhar pode: afinal de contas, Carlos Costa tinha experiência em transacções com paraísos fiscais da sua passagem pelo BCP.
A impossível resposta à pergunta: Quem possui o quê, como, quando e onde?
ResponderEliminarUm chavão vem a propósito: o segredo é a alma do negócio.
Estas redes intricadas são desenhadas para proteger o negócio de interferências na "porta giratória".
A "porta giratória" que em Portugal quase se faz à descarada, com a exposição de alguns atores menores (quase todos comentadores televisivos), o que se mostra útil para mascarar os "big fish", os que não podem aparecer na TVI.
Esses são protegidos por um sistema "digno" da omertà, como o prova a omissão dos nomes dos caloteiros da CGD e dos utilizadores da "porta giratória".
ResponderEliminarÓ Inácio. Mas nós sabemos os nomes da CDD. Basta folhear os seus conselhos de administração e os nomes dos ministros. Ir ao livro do bloco central de interesses. E procurar em neoliberais ao saque
Não são esses. São os outros. Os que mergulham directamente nas águas servidas pelo poder, incluindo os serviçais em função na CGD.
As prioridades andam trocadas, ó Inãcio.
N-nani?! - diriam os Japoneses... se tudo isto não fosse óbvio.
ResponderEliminarO cheiro a esgoto que emana de tudo isto ultrapassa em muito as"portas giratórias" e os actores menores e os caloteiros da CGD, referidos aí pelo Inácio Silva.
ResponderEliminarPercebe-se que o Inácio ( há dias era em forma de "anónimo" ) insista em falar na CGD de cada vez que se destapa uma coisa muito mais tenebrosa. Certo e sabido que quando se fala no NB aparecem candidatos à desconversa
"Com a crise, as instituições europeias colocaram os governos dos países periféricos a injectar somas astronómicas para salvar bancos que «não podiam falir». Depois da nacionalização dos prejuízos, esperam as mesmas instituições que os governos nacionais favoreçam a internacionalização da propriedade das instituições bancárias, abdicando de intervir na sua gestão para impor a defesa de lógicas públicas ao serviço do desenvolvimento e da democracia"
Este modelo de "suciedade" tem o alto patrocínio da União Europeia.
A internacionalização da banca nacional começa, desde logo, pela incompetência com laivos criminosos ou mais do que isso (como no caso do BPN, BPP, BES, BCP e CGD) com que foi gerida a banca nacional, pública e privada. A melhor gestão bancária entre nós foi a gestão privada espanhola.
ResponderEliminarA Lone Star comprou um mono que mais ninguém queria e que os diversos Governos não quiseram certamente nacionalizar, como defendeu (e bem) Vítor Bento. Afinal, a experiência do BPN foi tudo menos brilhante e esse banco acabou vendido por tuta e meia... O risco era, convenhamos, elevado...
Por isso, não, João Rodrigues, não vale a pena ir procurar culpados lá fora que estão todos cá dentro. E fica ainda a pergunta: se é isso que pensam de Centeno, por que é que não apresentaram há muito uma moção de censura ao Governo do PS? É que a responsabilidade última da acção política é de António Costa... E mesmo que Centeno saia, Costa fica...
Juncker e o caso Luxemburgo leaks e ou os Panamá papers da Mossack Fonseca advogados com a sua lista de clientes que ia desde presidentes a embaixadoras da ONU mas onde também constava o insuspeito o Grupo Espírito Santo e mais 223 contribuintes (individuais e ou empresas) portugueses?
ResponderEliminarAlguém ouviu ou soube de algum desfecho (tirando o mea culpa do p.ministro da Islândia) formal acerca dos nomes implicados?
Pois. Eu também não. O que nos leva a outra grande questão:
Será que matando as offshores o capitalismo actual fica ferido de morte ou ainda terá capacidade de se reinventar ?
De que vale saber a Verdade se não sabemos o que fazer com ela?
Adam Tooze:
ResponderEliminar"(...) the point is not to demonise bondholders and fund managers.(...) The true embarrassment lies elsewhere - IN EUROPE'S COLLECTIVE WILLINGNESS TO RELY ON 'MARKET DISCIPLINE' AS A SUBSTITUTE FOR POLITICAL AND CONSTITUTIONAL AGREEMENT. IT IS THE ABDICATION OF POLITICS THAT HAS MADE EUROZONE SOVEREIGN DEBT UNSAFE."
É a abdicação da ação política que tornou insegura a dívida soberana na zona euro.
Dizer que o Santander foi bem gerido é original, pelo menos. A seguir, loas ao DB?
ResponderEliminarJS cada vez mais perdido nas suas diatribes justificativas da trampa que entranha o seu modelo de sociedade
ResponderEliminarAgora até água benta deita sobre a Lone Star É desonesto quando se refere ao BPN, absolvendo os canalhas que se esqueceram de nacionalizar a parte suculenta. E mente quanto à banca espanhola
Em espanhol ou em alemão, a dança segue ao som do cavaquinho?
Jaime Santos deita água benta na banca espanhola. Quer com isto mostrar que o sucedido com a nossa banca foi "incompetência".E até lhe atribui uns "laivos" criminosos, num assomo de virtuoso personagem. Vê a ponta do dedo.
ResponderEliminarPelo meio,junta a banca pública à privada.
Rasura a verdade e falsifica os factos
Fala assim genericamente nos "bancos públicos" em Portugal durante a crise. Um mar de bancos públicos,como se sabe, depois dos amigos de Vara terem privatizado os bancos públicos. Cuja gestão, enquanto públicos na época da Revolução, não se viu manchada pela actividade dos gestores privados que se lhe seguiram
O que faz JS?
Foge para os braços da banca espanhola. Opta pelas grilhetas espanholas
E "esquece" graciosamente a corrupção na banca espanhola
-Rodrigo Rato, antigo ministro da Economia do Partido Popular e antigo diretor-geral do FMI , preso por corrupção e condenado pelo seu envolvimento no escândalo financeiro dos "cartões black" do banco Caja Madrid.
-Suspeitas de lavagem de dinheiro, contas no exterior (off-shore) do conglomerado financeiro BBVA (segundo maior banco da Espanha)
-Relatórios da operação Zelotes no Santander
-Fraudes fiscais no Santander
Será esse um desejo secreto de JS? Passar toda a banca nacional para as mãos de Espanha?
Já agora lembremo-nos da privatização do banco Totta & Açores em 1989 que deu origem a uma grande polémica sobre a passagem da banca nacional para mãos espanholas. Champalimaud, pouco antes indemnizado pelo Estado pela anterior nacionalização, ficou com o banco apelando à protecção dos empresários nacionais… antes de o vender ao Santander! E quem mexeu os cordelinhos deste negócio do lado do Estado acabou por aparecer depois do lado do banqueiro.
Uma chatice esta questão da memória
De como os espanhóis são uns queridos.Na exacta medida em que oferecem ( falsos) argumentos ideológicos para o descalabro
Diz JS:
ResponderEliminar"Afinal, a experiência do BPN foi tudo menos brilhante e esse banco acabou vendido por tuta e meia..."
O escrutínio das opções políticas que nos trouxeram a este ponto e das alternativas possíveis é tão importante hoje como sempre foi.
Infelizmente para JS a história demonstra que a dita experiência do BPN teve responsáveis e tinha alternativas. Por acaso os responsáveis fazem parte das elites defendidas por JS
Quando o Governo do PS decidiu intervir no BPN, deixou de fora um vasto e valioso património do grupo SLN/BPN, designadamente de natureza imobiliária, que poderia e deveria ter servido para evitar que a pesada factura provocada pela acção mafiosa do “bando” do BPN recaísse na bolsa dos portugueses e penalizasse o País.A existir uma nacionalização, ela deveria ter abrangido a totalidade do Grupo SLN/BPN, permitindo assim equilibrar o prejuízo que o Estado iria ter com aquela intervenção.
Em vez da operação que, em Novembro de 2008, o Governo PS realizou no BPN, houve quem defendesse a nacionalização de todo o Grupo SLN/BPN já que essa era a melhor forma de defender o interesse público, de impedir que alguns accionistas, que se tinham servido do BPN, continuassem a beneficiar dos activos não nacionalizados do Grupo e pudessem responder por prejuízos causados e por actividades criminosas e fraudulentas. Por tudo isto, o PCP votou contra a “nacionalização de todas as acções representativas do capital social do BPN”, no que foi apenas acompanhado pelo Partido Ecologista os Verdes.
A estratégia do Governo do PS para o BPN foi, desde sempre, muito clara: “limpar” os prejuízos e os créditos incobráveis ou duvidosos; proceder à privatização do banco limpo de passivos, pronto para dar lucros ao grupo privado que o viesse a comprar. Na prática o Estado português pagou ao BIC para este comprar o BPN fazendo previamente a recapitalização do banco na ordem de centenas de milhões de euros.