«É, sem dúvida, importante divulgar informação regionalizada e apontar potenciais causas para os resultados diferenciados observados nas diversas regiões. Mas convém enquadrar estes resultados numa visão mais ampla, quer do ponto de vista conceptual, quer no que se refere ao conhecimento do território de Portugal continental. A primeira distinção a fazer é entre exposição, suscetibilidade e vulnerabilidade. Sendo a origem do coronavírus externa ao país, o conceito de exposição define-se, numa primeira fase, em função do grau de abertura de cada território ao exterior. Por exemplo, as áreas metropolitanas, as regiões exportadoras, as regiões com dinâmicas transfronteiriças mais intensas ou as áreas que mantêm uma circulação regular de pessoas com comunidades emigrantes (neste caso, da Europa) estão mais expostas à possibilidade de importação de vírus. Mas as características de cada um desses tipos de territórios são diferenciadas sob muitos pontos de vista. (...) A vulnerabilidade de cada região – neste caso, medida através da incidência de casos de infeção e da sua gravidade – são o resultado do jogo de duas componentes – exposição e suscetibilidade – que pode variar ao longo do ciclo epidemiológico, sobretudo à medida que a exposição externa vai sendo mais controlada. (...) Numa segunda fase da pandemia, a exposição passa a definir-se sobretudo em função de focos internos através de dois tipos de difusão, uma por contiguidade física e outra por interação funcional. A primeira ocorre a partir da expansão em mancha de óleo dos focos preexistentes em direção a áreas e concelhos vizinhos, baseada em movimentos pendulares casa-trabalho, cadeias de abastecimento, enfim, todo o leque de interações físicas que famílias, empresas e outras entidades com uma localização relativa próxima mantêm entre si. (...) A segunda, difusão por interação funcional, envolve as cidades de média dimensão (em geral, capitais de distrito). Estas aglomerações urbanas, pelo tipo de serviços especializados que possuem (universidades e politécnicos, hospitais regionais, equipamentos públicos de nível supramunicipal, etc.) e pelos grupos sociais que aí residem (com maior mobilidade), mantêm uma relação significativa quer com as áreas mais expostas internacionalmente (e que estiveram na primeira linha da importação de casos infetados), quer com concelhos das áreas rurais.»
Do recente artigo de João Ferrão, «A geografia da covid-19: algumas precisões», de leitura imprescindível para ir além de análises simplistas e mostrar que a textura do território é essencial para compreender a evolução e expressão espacial de uma epidemia como a que estamos a viver, nos tempos em que a estamos a viver. O mapa ali em cima, aliás, permite perceber por que razão se devem relativizar - e muito - as ponderações desabridas de casos registados e vítimas mortais pela população de um dado país. Basta imaginar os resultados muito distintos que se obteriam (nas comparações com Espanha), se a área de Portugal correspondesse apenas à faixa litoral ou ao território a sul do Tejo.
Mais uma crise provocada.
ResponderEliminarEm vez de nos enfiarem todos em casa, bastaria obrigar ao uso da máscara.
Só que há um problema: não havia máscaras para toda a gente.
Pior: agora estamos todos dependentes da china, até para o fornecimento de máscaras e, por acaso, a china mudou a estratégia exportadora neste tipo de mercadoria: agora, os clientes que esperem.
Paulorodrigues, aliás joão pimentel ferreira, continua a insistir na sua versão Bolsonaro
ResponderEliminarNo Público comentava esbaforido. Bastaria o uso da máscara.
Começou a ficar agitado quando o SNS aguentou o primeiro embate. Meteu o rabinho entre as pernas no seu discurso de ódio contra o SNS e por momentos deixou de fazer poemas eróticos à privatização da saúde