segunda-feira, 30 de março de 2020

Três notas sobre a economia política disto tudo


1. Lembram-se da economia do pingo (trickle-down economics), aquela que dizia que os ganhos dos ricos iriam mais cedo ou mais tarde beneficiar os pobres? Pouco importa, é uma ideia que já foi há muito para o caixote do lixo da história intelectual, dados os estudos económicos sobre a desigualdade. Entretanto, a economia política do pingo pode ter, isso sim, uma aplicação na transmissão da covid-19: o vírus parece descer em cascata pela pirâmide social abaixo, dos globalistas, também designados de passageiros frequentes, geralmente mais ricos, para os enraizados, os que não saem do mesmo sítio, geralmente mais pobres.

2. Tenho-me lembrado da fórmula famosa de Mervyn King, quando era governador do Banco de Inglaterra, durante a crise de 2007-2008. Era mais ou menos assim: os bancos podem viver na escala internacional, mas vêm morrer na nacional. Hoje, sabemos que também as pessoas vivem ou morrem onde estão os soberanos e também em função da qualidade e da quantidade da resposta pública coordenada. Como até o macroeconomicamente perigoso Centeno do sininho reconheceu relutantemente, a acção está nos Estados. No fundo, são as velhas questões sobre poder e obediência, sobre soberania e legitimidade nacionais, que emergem.

3. Será o fim do fim da história? Não tenho a certeza, embora esta seja uma das questões que mais me interessa, a tal sombra de Fukuyama. Sei que esta crise apanhou demasiada esquerda num estado político lamentável, minada por hábitos intelectuais globalistas e identitários, fazendo do respeito por regras estúpidas hábito de vida. Uma esquerda que está reduzida na UE a apelos ao bom senso das elites, em nome da salvação de uma distopia monetária que em parte a destruiu. Já é tempo de reconhecer o óbvio: o futuro não deverá ser pós-nacional.

3 comentários:

  1. A ala ppd do psd está na expectativa de repetir 2011, incluindo Rui Rio a ser sumariamente corrido, para ser substituído por Passos Coelho e voltar a ir "além da troika".
    Nunca estiveram tão perto de o conseguir e, se assim acontecer, lá virá de novo o mito de que o psd vem reparar os estragos que o ps faz (a única coisa que não é verdade nisto é a parte do psd reparar o que quer que seja, já que os dois partidos atuam em tandem).
    O cds (até parece que estamos a falar de um Credit Default Swap político), está apostado em que, se a situação piorar para os lados da burguesia e o estado for incapaz de lhes segurar os rendimentos, que os militares (burgueses) intervenham com um golpe de estado.
    O Xicão até já se voluntariou para ajudar as FA (vá-se lá saber para quê…).
    Portanto, a oeste nada de novo.

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  2. Às portas e às hortas, Portugueses!

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  3. O problema da esquerda, é persistir na imposição da "vanguarda esclarecida",

    não estando interessada na vontade do Soberano que,
    ainda por cima... DESQUALIFICA.

    Neste caminho, restam as tentativas de infiltração - por cima - nos "centros de decisão",

    que prosseguem o seu caminho para se instalarem ( para já!) em Marte, local onde a "vanguarda esclarecida", se sente como... marcianos!

    LÁ QUEREM SABER DO NACIONAL.

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