Confesso que não compreendo os economistas de esquerda que apelam à instituição de eurobonds, sobretudo porque conhecem a economia política da integração: qualquer mecanismo de mutualização do risco deste tipo será acompanhado pelo reforço da condicionalidade política supranacional e logo pós-democrática. Teríamos ainda mais comissários a falar inglês com sotaque no Ministério das Finanças, metendo o bedelho em tudo. Em relações internacionais, nesta zona, nem um snack é grátis.
Entretanto, enquanto o constrangimento do euro não vai para um dos caixotes do lixo, fazendo companhia às regras orçamentais e das ajudas de Estado, as euro-obrigações não oferecem vantagem óbvia em relação ao programa mínimo de um Banco Central, mesmo que seja o BCE: intervir no mercado secundário, comprando títulos, garantindo taxas de juro duradouramente baixas para os títulos de tesouro nacionais, sendo que o Banco que ainda não é de Portugal devolve ao Estado português, sob a forma de dividendos, o que este paga em juros. Obviamente, ainda ficamos sob a chantagem do BCE, mas pelo menos não temos reforço do mando supranacional que já existe.
Para lá deste programa mínimo, os Estados poderiam ter acesso ao mercado primário, comprando-lhes o BCE diretamente os títulos, complementando ou substituindo-se aos bancos como fazedor de mercado, assumindo de forma ainda mais clara que as condições de financiamento são determinadas politicamente. Na zona euro, isto equivale monetariamente a um unicórnio.
Finalmente, o Banco Central poderia fazer o que a Reserva Federal está prestes a fazer e optar pelo financiamento monetário, neste caso creditando as contas das famílias. E quem diz as famílias, poderia dizer também os Tesouros nacionais. É tão simples que a mente bloqueia, como dizia o grande John Kenneth Galbraith. E o financiamento monetário tem a vantagem de não deixar lastro de dívida. Seria uma operação excepcional para tempos excepcionais.
Estou convencido que a elite alemã preferiria acabar com o euro, antes de dar almoços, lanches e jantares grátis aos povos a sul. E também por isso os povos terão de colocar fim a esta distopia económica e monetária mais cedo do que tarde.
Nada supera um Banco Central na dependência do governo nacional. É tudo mais simples, rápido e democrático.
Letter: It is time for Brussels to launch a eurobond
ResponderEliminarFrom Aidan Regan, Matthias Matthijs, Catherine de Vries, Thomas Piketty and others
The Covid-19 crisis will make or break the eurozone. The European Central Bank has said it will do whatever it takes (March 20). It has signalled it will use whatever monetary policies it can to finance and support the fiscal effort.
No member state should have to seek a bailout or sign a memorandum of understanding to access emergency EU funding. This is a European crisis. It requires a European solution.
Rather than have each member-state issuing their own debt to fund their fiscal efforts, we call on the European Council to agree a common eurobond.
We need a common debt instrument in order to mutualise the fiscal costs of fighting this crisis. Now is time for action. Now is the time for solidarity. It is time for eurobonds.
Aidan Regan
University College Dublin
Mark Blyth
Brown University
Matthias Matthijs
Johns Hopkins University
Catherine de Vries
Bocconi University Milan
Thomas Piketty
Paris School of Economics
For a full list of signatories, go to www.newpoliticaleconomyeurope.eu
Que bom. Estava a pensar que eram minha falta de conhecimento e de perícia económica que não me deixavam entender o que pediam os economistas, quando o que diziam era música para os ouvidos dos tecnocratas da comissão europeia e ruído para mim. Agora o comentário esclareceu a questão.
ResponderEliminarÉ tudo muito simples, rápido e democrático se não ligarmos aos detalhes... E como de costume, o diabo está nos detalhes.
ResponderEliminarAssumindo que existe um consenso para sairmos do Euro entre os diferentes governos da UE, a dívida essa continua lá quando sairmos. Claro que podemos fazer uma desvalorização competitiva, que implica automaticamente um abatimento de dívida mas depois quem nos garante que os credores nos continuam a financiar?
Há claro, a ideia mais ao menos louca de se pôr os bancos centrais a imprimir dinheiro, mas sem acesso a reservas de moeda forte para financiar importações essenciais, combustíveis, tecnologia de que não dispomos, mesmo que o Estado refinancie os bancos e empresas, isso não ajuda muito, pois não? O que se segue é uma coisa chamada inflação galopante...
Não, isto não é nada simples, rápido e democrático, isto é leninista. Utilizar uma crise que vai deixar a Economia de rastos para a acabar por destruir por completo. Keynes atribuía aliás a Lenine a utilização de tal mecanismo de deboche financeiro para pôr o mundo de pernas para o ar...
Se isto é para ser assim, e claro que será assim porque quem canta loas à China e a Cuba ou à Venezuela (ou à defunta URSS) já se sabe ao que vem, por amor de Deus, venham já as Eurobonds...
O caminho sem a Europa já se perdeu à 46 anos.
ResponderEliminar"... E também por isso os povos terão de colocar fim a esta distopia económica e monetária mais cedo do que tarde...". Diz muito bem, "os povos".
ResponderEliminarOs diferentes Governos dos diferentes Países da UE, com os seus tempos eleitoriais díspares, esses, funcionaram apenas ao seu próprio ritmo de legislatura a legislatura, um espasmo com duração demasiada pequena para contribuir para a coerente solidez da moeda supra-nacional. Ganhar umas eleiçõesitas com empréstimos do BCE ou outrem, foi a regra. Solidificar uma Moeda de outrem, o sagaz gato (a Alemanha) com mítico rabo de fora (BCE), não tinha que ser opção, nem à força.
Agora veio a ordem de endividar (nessa moeda) à fartazana!. Qual será a directiva seguinte dos DDT ?. Vão deixar-se arrastar pela permanente derrocada dos outros?. Não é de crer.
Nesta dita União Europeia, alguns sempre conseguiram manter alguma a solidez da "sua", própria, deles, Economia/Finança. Agora será necessário reformar aos parâmentros da moeda dita "comum".
Ou fugir para a frente....
O outros "governos", sem controlo monetário próprio não sendo portanto na realidade "o governo do País", foram deixando os seus respectivos Países desgovernados, sem anéis nem dedos, apenas para manterem o seu ego, a ilusão de algum sofrego, doentio, poder.
Restam "os povos".
"Quanto mais medito na capacidade que temos de nos enganar, mais se me esvai entre os dedos lassos a areia fina das certezas feitas."
ResponderEliminarFernando Pessoa "Alguns textos do Barão de Teive".
"O que se segue é uma coisa chamada inflação galopante..."
ResponderEliminarPorque?