terça-feira, 24 de março de 2020

A crise existencial da direita económica portuguesa


No programa Choque de Ideias da RTP3, Fernando Alexandre defendeu ser essencial  a compra de dívida pública dos estados da zona euro por parte do BCE neste momento. E eu concordo.

No entanto, quando confrontado com o facto de essa ser uma medida há muito exigida pelo campo da esquerda como resolução para a anterior crise da zona euro, mostrou-se visivelmente agastado e soltou de rajada dois argumentos para salvaguardar a sua coerência em relação ao passado:

1) Que essa compra pelo Banco Central trará inflação. "Não há almoços grátis".

2) Que este mecanismo não seria apropriado para resolver a crise de 2010 sem recurso à austeridade, porque "desta vez é totalmente diferente".

Para estas afirmações só há um antídoto: perguntar porquê até à exaustão.

Como já defendi aqui, não há nenhum motivo razoável para esperar que uma inflação descontrolada suceda  nem para considerar que igual solução não teria evitado o sofrimento social da austeridade em 2011.

O que estamos a assistir é a um conjunto de economistas num ato de contorcionismo argumentativo, perante o dilema entre defenderem o que acham certo e, ao mesmo tempo, manterem a coerência face à  sua posição de inevitabilidade da austeridade na crise passada.

Todo o apoio é bem-vindo neste momento. Mas, pela seriedade no debate, não deixemos passar isto em branco.

4 comentários:

  1. Será que a esquerdalhada acredita que sabe o que fazer da economia portuguesa - capitalista, aberta e integrada na zona euro - quando lhe metem dinheiro a rodos nas mãos?

    Está tudo alucinado?
    46 anos, uma economia frágil, três falências e uma dívida monstruosa são tudo acontecimentos a que a esquerdalhada é alheia?

    O facto de não saberem, não poderem (e suspeito não quererem) realizar o socialismo, justifica que tenham promovido este capitalismo, entre o tímido e o tosco, com leis e práticas que toleram - se é que não promovem - os capitais negativos nas empresas e em que as falências fraudulentas são notícia raríssima e ocultada?

    Que a 'doutrina dos coitadinhos' justifique à esquerda o seu alto conceito de si mesma - já o mesmo ocorria com as jocistas de outras eras - não lhe justifica fazerem da ciência económica um delírio de intenções frustradas.

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  2. Isto é "gente" sem vergonha.Hoje dizem uma e amanhã dizem outra. Então façam o favor de dizer por que é que, no mesmo "espaço económico,e perante situações de crise financeira, sim por que a atual situação só é diferente por causa do "bicho" o resto vamos lá parar com um nível de incidência muito maior.
    Então em 2009 não incentivaram as economias, perante a crise,a fazerem despesa...e ..??..

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  3. Esse Fernando Alexandre foi e sera sempre um tretas, dois apontamentos apenas para ilustrar o que digo:
    1) aquando Secretario de Estado: a bela trampa que fez com o SIRESP, limpe as maos a parede. depois dos grandes incendios pos-se ao fresco e aquilo nao foi nada com ele, ele so esteve no governo dos Pafiosos para ver a bola ou coisa assim...
    2) 2011, em pleno apogeu do Passolas e Pafiosos afins, andava por ai a escrever que a reducao do numero de feriados era uma medida economica essencial para a produtividade postuguesa.

    Leia-se isto no "a destreza das duvidas" leiam em especial como o "pensamento" desta cambada de pandegos se desenvolve na caixa de comentarios - a certa altura ate o Luis Aguiar-Conraria se junta a festa:

    http://destrezadasduvidas.blogspot.com/2011/11/o-trabalho-em-portugal-uma-interrupcao.html

    Hoje em dia fazem de conta que nunca disseram aquilo que disseram. Continuam comentadores encartados diarios em canais de TV e colunas de opiniao de "jornais de referencia". Como e que se continua a dar tempo de antena a esta gentalha que sistematicamente falha, reiterada, contumazmente em TODAS as previsoes que fazem e um misterio rodeado por um enigma.

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  4. Convinha então que fossemos todos honestos e que se reconhecesse que as práticas da Grécia ou de Portugal antes da crise não eram sustentáveis. Poderá dizer-se que a culpa do modelo económico que levou a tais práticas se deve ao Euro (o que é verdade em parte), o que não se pode é dizer que seja racional permitir que as pessoas se reformem cedo quando na Alemanha se reformam já desde há anos com 67 anos, por exemplo, ou que o Estado Português continuasse a esconder dívida nas empresas públicas porque não se encontravam englobadas no perímetro do sector público.

    O mesmo se pode dizer dos muitos sistemas de pensões existentes em França e que configuram uma grave violação do princípio da igualdade. O objectivo da Esquerda é defender o bem comum, não defender corporações particulares que é o que faz a Direita (defende os ricos).

    Se é socialismo, é para todos, não é para ricos ou para remediados.

    Claro que me irá responder que a receita foi profundamente punitiva e eu concordo mas o que a crise veio foi pôr a nu as insuficiências e as injustiças geradas dentro de Estado Social. Provavelmente isso é inevitável e não é razão para acabar com ele, mas também não vale a pena cruzar os braços e recusar que se mude o que quer que seja...

    Ou seja, num mundo de recursos limitados (e não nos referimos apenas aos financeiros, que são o menos, mas sobretudo aos naturais) não se pode querer tudo e agora...

    Aliás, convém lembrar que vamos partir de uma situação de penúria a seguir a esta crise e que vai ser preciso repartir sacrifícios, sendo que quem mais tem, mais deve suportar, obviamente. Só que é preciso assumi-lo em lugar de se prometer a terra de onde escorre o leite e o mel...

    Como disse o insuspeito Daniel Oliveira, provavelmente vamos ter que trabalhar a dobrar... Preparem-se pois...

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