Quando mais se olha para os números, mais se apercebe que algo não está a correr de feição face àquele optimismo inicial, plasmado nas declarações públicas de membros do Governo. Nessa altura, era fácil, o problema era chinês, E depois, foi italiano. Bastava lavar as mãos.
É verdade que Portugal, apesar de estar no canto mais ocidental da Europa, continua a fazer parte do continente com maiores taxas de crescimento no número de infectados. Há 5 dias, a Europa tinha uns 19% dos casos mundiais e presentemente tem cerca de um terço. É, pois, natural que Portugal seja contaminado por essa trajectória.
Mas foram visíveis as reticências e as hesitações políticas em tomar medidas drásticas, mesmo quando já se sabia o que aí vinha. Foi visível o embaraço em anunciar meias medidas de apoio às empresas que se sabia de antemão que de nada valem face a um efectivo problema de contenção e ainda para mais delapidando as verbas escassas da Segurança Social. Foi visível o atraso em decidir fechar as escolas e adoptar medidas de cobertura de rendimento dos trabalhadores em quarentena. Foi visível que, quando a Itália estava a explodir, o Governo lá decidiu fechar o aeroporto aos voos de Itália, mas pelos vistos não se salvaguardou que o mesmo fosse feito para os voos de ligação, vindos de Itália (vidé reportagem de hoje do programa da RTP Bom Dia Portugal). Foi visível o medo em tomar medidas mais fortes quando se decidiu fechar os portões aos estrangeiros viajantes de paquetes, mas não aos que vinham de avião. O própio ministrio da Administralção Interna, Eduardo Cabrita - .que anunciou que ia proibir eventos com mais de ... 100 pessoas (!), afirmou:
"Exceto aos cruzeiros e aos voos provenientes de Itália, neste momento, não temos nenhuma justificação que fundamente o encerramento total de fronteiras."Nem horas depois, o próprio primeiro-ministro veio dizer que iam discutir com o Governo espanhol o fecho das fronteiras para viagens de lazer... Que visão à la longue: foi preciso haver em Espanha 7798 contaminados, com 292 mortos, para o Governo tomar uma decisão e ainda por cima só para o dia seguinte. Há cerca de dez dias que Espanha tem um número de infectados semelhante ao que hoje Portugal registou!
Esta lentidão em tomar decisões foi visível nos anúncios às pinguinhas sem se conhecer, desde o início, um verdadeiro plano de contenção, com uma cadeia de comando clara a eficaz. E sobretudo com meios financeiros à disposição.
Segundo informação recolhida, os Hospitais continuam sem kits de diagnóstico ou máscaras, sem óculos ou fatos de proteção, vivendo num pandemónio!
Foi - e é - visível que, entre a adopção de medidas eficazes em defesa da saúde pública e a salvaguarda das metas orçamentais, essa decisão é ainda agora deixada pelo Governo à União Europeia, mesmo quando se torna claro que se o vírus já está e em fase exponencial e que a UE é lenta - sempre foi - a tomar medidas que salvaguardem o bem-estar das populações.
Apesar de ter a total capacidade de decisão sobre as suas fronteiras, o Governo português apenas tomará a decisão sobre Espanha... depois da reunião dos ministos da Administração Interna, marcada para amanhã!
Portanto, qual é agora realmente o plano para daqui para a frente? Existe?
Pela diletância, senão mesmo incompetência na gestão das medidas, nunca as autoridades nacionais jogaram para conter e reverter a propagação.
ResponderEliminarSuspeito até que a intenção é tão sómente jogar para o empate, isto é, para retardar a propagação o quanto baste para evitar um "excesso" de caos. Só que, como subestimaram a progressão do virus o caos vai ser muito pior do que as autoridades previram.
Como já escrevi noutro comentário, está-se a jogar na "imunidade de manada" (herd immunity).
É isso mesmo, os governos da EU, UK e USA, com o seu adiar de medidas, estão a tratar as populações como se gado fora.