quarta-feira, 18 de março de 2020

A distopia está bem e não se recomenda

Os incendiários comentários de Lagarde foram aplaudidos em partes da Europa, particularmente na Alemanha. ‘Como a senhora Lagarde apropriadamente disse, a redução de diferenciais da taxa de juro não é com o eurosistema’ defendeu, no Domingo passado, um grupo de altos dignitários alemães nas páginas do Frankfurter Allgemeine.

Este grupo, que inclui o antigo primeiro ministro da Baviera, Edmund Stoiber, o antigo ministro das finanças, Peer Steinbrück e o antigo ministro da economia Wolfgang Clement, também defendeu que o BCE começasse a subir as taxas de juro depois da crise (coronavírus) acalmar.

Seis dias depois de Lagarde ter criado as condições para o ataque especulativo dos mercados às dívidas públicas a que estamos a assistir e apesar das suas desculpas públicas e das juras a pés juntos de Centeno e das autoridades europeias que tudo o que for necessário será feito, o que se continua a ver é isto:


Uma inação inaceitável. Ditada pelos mesmos de sempre, pela lógica de sempre da Zona Euro. Paga pelos mesmos de sempre. Apesar das piedosas declarações em sentido contrário.

8 comentários:

  1. Vai daí, não percebi qual era a solução.
    Fim do mercado de capitais?
    O BCE compra a dívida a juro fixado?
    Eurobonds em que cada AR fazia os orçamentos que entendesse?

    ResponderEliminar
  2. O think tank IMK (macroeconomic policy institute), ligado à confederação sindical da Alemanha DGB publicou um artigo este mês, designado "For a sound fiscal policy: enabling public investment".
    A propósito da obsolescência das infraestruturas públicas alemãs e da má situação financeira da generalidade dos órgãos municipais, os autores mostram que o investimento público se manteve ou até se reduziu ligeiramente nos últimos 20 anos, ao mesmo tempo que o PIB aumentou quase de forma ininterrupta (com a exceção de 2008).
    O excedente foi usado principalmente para compensar reduções de impostos.
    A quem? Aos ricos, claro.
    Em vez de infraestruturas, o governo alemão prefere o investimento na defesa, onde gasta 37,5% do investimento total (imaginem para quê...).
    Entretanto e a propósito das regras impostas aos países do sul da europa, os alemães são muito criativos a propor formas de contornar a "lei", quando é preciso pedir dinheiro emprestado (se os preços não subirem, serão necessários 45.000.000.000 €/ano), que vão desde a alteração da constituição até à criação de PPPs com privados.
    Mas o mais engraçado são as possíveis justificações que eles dão para o nível anormalmente baixo das taxas de juro atuais.
    Nada sobre a distopia do euro, nada sobre o quantitative easing. Não!
    Para eles, há uma panóplia de eventuais causas para a "festa", que vão da "saturação de poupanças" (que traduzido dá: as classes médias não têm onde aplicar as poupanças), "estagnação secular" (teoria de que o modelo económico atual estará em fim de vida), o crescente fosso entre a procura e a oferta de ativos seguros (que é a mesma coisa que "saturação das poupanças"), as alterações demográficas, a transformação digital e as "firmas superestrelas" (deduz-se que sejam os fundos abutre).
    Quando nos fazemos reféns de povos ignorantes, temos que estar preparados para o pior.
    Já temos experiência suficiente de como funciona a ignorância.

    ResponderEliminar
  3. Merkel já abriu a boquinha: "Corona Bonds"

    https://www.investing.com/news/economy/merkel-says-germany-will-consider-joint-bonds-to-fight-virus-2113442

    Mais uma vez, aquilo que se considerava inpensável torna-se plausível e até desejável.

    "“Some risk sharing is necessary,” Rutte told reporters after the video conference."

    Mark Rutte, que tem sido um falcão do austeritarismo. Ver gente como esta borrar-se de medo alivia do risco que enfrentamos.

    ResponderEliminar
  4. Fico espantado com tanta escrita a dizer horrores do sistema - o que é por aqui uma banalidade - e ninguém a falar das consequências do que vai inevitavelmente acontecer - recessão - e do que deve fazer-se a seguir.

    E mais espantado fico pelo facto de esse silêncio abranger os ideólogos do planeamento central, porque este é um momento propício a que um tal planeamento possa ter oportunidade e protagonismo. Onde estão os planos?

    ResponderEliminar
  5. O Jose já os disse, para que pergunta? Mas invés de bonds para criar mais rendas, financiamento directo. E invés de fechar o mercado de capitais, fechar os mercados de derivados especulativos.
    Além disso, criar imediatamente dinheiro na conta de todos os cidadãos, a repetir enquanto a coisa durar, além das moratórias já anunciadas.
    Nada de novo, portanto. E nada que vá acontecer.

    ResponderEliminar
  6. Alguém pode acreditar na sinceridade do pedido de desculpas da Lagarde, enquanto fazia um "thumb nail"? E nas juras de Centeno, à espera da promoção? Cá estaremos no final do ano para vermos o efeito desastroso destas políticas.

    O troll pantomineiro continua a fazer de conta que tem alguma coisa para acrescentar ao debate com as suas tiradas manholas, e esquece-se voluntariamente do muito que se discute e das alternativas que se propõem em termos de dinâmica económica para os sectores estratégicos e para o emprego. Mas como bom sabujo que é mantém a coerência.

    ResponderEliminar
  7. Com exactidão: sectores estratégicos que o Estado capturado não entregou a rentistas, designadamente no sector da saúde, do tratamento à produção farmacêutica, ou que volte a ter o controle para um benefício alargado à população, como os CTT, por exemplo.

    ResponderEliminar
  8. Mas, é a primeira vez que ela "nos f***" e depois pede desculpa? Mas já agora, quem é a LAgarde? De onde é que ela vem? Como é que ela se comportou na Crise das Dividas soberanas? Engano? Não há enganos, o que há é gente estupida demais para continuar a confiar neles!

    ResponderEliminar