terça-feira, 16 de julho de 2019

Nem de propósito


Na passada quarta-feira, o Jornal da Noite da SIC juntou Bernardo Ferrão e José Gomes Ferreira para comentar o debate do Estado da Nação, que teve lugar nesse dia à tarde na Assembleia da República. Quem tivesse saudades de assistir a uma análise político-económica na linha da «economia do pingo» e em versão Dupond et Dupont - que nos é tão familiar desde o início da crise - terá ficado satisfeito.

José Gomes Ferreira afirmou, por exemplo, que «este Governo, e os partidos que o apoiam, são incapazes de reconhecer que quem cria emprego são as empresas» e que estas «têm que ter um bom ambiente e não têm», desde logo porque o «alto nível de fiscalidade» a que estão sujeitas está a «encher os cofres do Estado» e a «tirar rendabilidade a muitas» delas.

Nada contra a defesa deste ponto de vista, mesmo que omitindo o desequilíbrio cada vez maior, desde 2004, entre os rendimentos do trabalho e os rendimentos do capital, que o Alexandre Abreu oportunamente aqui assinalou. O problema é a persistente ausência de contraditório, mesmo quando se trata - como é o caso - de comentadores supostamente alheios ao plano de análise político-partidário. Isto é, uma ausência que acentua os enviesamentos existentes nesse plano, como há poucos dias se demonstrou aqui. É caso para dizer, nem de propósito.

12 comentários:

  1. Os minions dos oligarcas são tão fofinhos, nos seus fatos-macacos azuis.

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  2. Caro Nuno Serra, não posso estar mais de acordo com seu post, depois de ter assistido à falta de seriedade destes comentadores, enviei de imediato um e.mail à SIC a denunciar a falta de isenção (situação habitual e persistente) destes senhores tendo para o efeito chamado atenção para a violação grosseira que estavam a cometer em relação ao estatuto editorial deste canal televisivo

    Rui Carvalho


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  3. Tudo muito bem escrito. O problema é que eles até tem razão no que afirmam.
    As interpretações possíveis de números são só isso.

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    1. Têm razão? Então porque o emprego está a aumentar nessas condições?

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  4. Eu respeito qualquer ponto de vista económico. Respeito menos a ignorância de dois emproados e desprezo por completo lambe-botas do patronato. São dois seres muito rasteiros. Andar de cabeça erguida não é para esta casta.

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  5. O Grande Salto em Frente dos 10% de margem na hotelaria e restauração é a verdadeira reforma geringonça.
    O que é certo é que o pingo pingou e os geringonços podem proclamar 'criamos emprego'!

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  6. O grupo impresa tem uma enorme tradição de vassalagem. O ponto alto da carreira é serem convidados da casa do patrão.

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  7. Há quantos anos andamos a criticar a falta de contraditório na comunicação social especialmente no que toca a “Europa” e economia?

    O Nuno Serra sabe bem que nunca será convidado para ocupar o lugar de Gomes Ferreira, e muito dificilmente será convidado a refutar os seus argumentos no mesmo palco que ele ocupa regularmente.

    O Nuno Serra sabe bem que isto é assim intencionalmente.

    Gomes Ferreira faz parte da tropa de pseudo entendidos em economia se que fingem preocupados com o bem da nação, na realidade, Gomes Ferreira e a restante tropa do “não há alternativa” são actores e estão a desempenhar um papel que visa a alienação da população, aquilo que Gomes Ferreira faz dificilmente pode ser chamado de jornalismo, é entretenimento...

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  8. Este fenómeno de lavagem ao cérebro é evidente em Portugal, mas penso que em vários outros países da esfera dos EUA se passa algo de semelhante.
    Nos próprios EUA, na França e no Reino Unido, por exemplo, mas penso que não só.
    É bom é que haja cada vez mais pessoas conscientes desse fato.

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  9. Caro Rui,

    De facto nos EUA, as realidades editoriais estão subjugadas a uma das partes. Ou seja, ou são declaradamente Republicanas (como a FOX) ou declaradamente democratas (como a CBS). A chamada "imprensa livre" existe mas está "entalada" entre estas duas partes. Em Portugal, a imprensa não declara de que lado está porque, supostamente, é tudo imprensa livre. No entanto, isto é uma miragem. Os jornais e canais privados, e a grande maioria dos seus comentadores políticos, tendem a afirmar uma visão de direita sobre os vários temas. Estes dois da SIC são um bom exemplo disso. Estes "fazedores de opinião" são do pior veneno que pode haver numa democracia pois controlam as massas, muito facilmente, através do tempo de antena que os seus amos e patrões lhes dão. Eles estão lá para deliberadamente enganarem quem os vê, para criarem narrativas e convencer o publico que elas são verdadeiras. No entanto, não são especialistas, são "opinadores", mandam "bitáites" e muita gente lhes dá ouvidos. O controlo, assim, torna-se implícito. O que é extremamente perigoso.

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  10. Alguns bons comentários a este oportuno texto de denúncia

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  11. Mas o capitalista Francisco Louça , que integra o concelho consultivo do Banco de Portugal ,membro do conselho de estado , tem o seu programa semanal neste canal , assim como a amiga Mortágua também .

    Gostei muito da palavra : denúncia. Utilizada por um dos comentadores deste blog .

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