sábado, 29 de junho de 2019
Visão de classe
“Assim que se chega à região do Douro, ela arrebata. E pensa-se logo em quem se teria lembrado de plantar vinha nestas encostas íngremes, que hoje lhe dão um floreado tão especial.” Luísa Oliveira foi ao Douro e pensou nos termos da classe dominante da região, mas em versão eterno feminino, o que deve fazer toda a diferença, sei lá.
A jornalista da Visão não pensou logo em quem construiu os socalcos, plantou as vinhas ou colheu as uvas; em quem fez e faz o Douro, em suma, nas condições em que o fez e faz. Já se escreveu sobre o Douro de forma arrebatadoramente neo-realista. Nestes tempos de celebração sem fim dos ricos e das ricas, de corrosão moral sem fim, escreve-se de forma confrangedoramente neo-ilusionista, esquecendo as perguntas fundamentais, as perguntas sobre as mãos de novo invisíveis.
Obviamente, este neo-ilusionismo está em linha ideológica com o porno-riquismo que esta revista celebra semanalmente, de norte a sul deste país fracturado – Bellino e Ralph Lauren investem em empreendimento de luxo para fazer Hamptons no Alentejo.
Quando vejo este tipo de noticias sobre as vindimas lembro-me sempre das "ofertas" de "emprego" para as ditas que referem de forma explicita que são um estágio.
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ResponderEliminarEu penso, de imediato , em camionetes e camionetes de romenos .
Há ainda uma outra "visão". A visão das mulheres que faça chuva ou faça sol, terminam o dia empregnadas de suor e terra. Essas não usam Ralph Laurent ou Vutton.
ResponderEliminarCelebrar a riqueza, não é celebrar o modo que a construiu.
ResponderEliminarE sempre se sabe, salvo a que não mais é que exibição de dívida, que uma característica seguramente contém: alguém aforrou em vez de consumir.
Alguém sacrificou o gozo do momento para ambicionar um bem, que tem por maior, no futuro.
Obviamente a esquerdalhada sempre elimina qualquer conteúdo sacrificial à riqueza e sempre exalta o sacrifício do explorado, que só o é porque alguém aforrou o bastante.
Se é verdade essa do estágio, só atesta do ridículo de uma legislação que obriga a fantasias linguísticas para ilidir a farsa da evitabilidade do trabalho de curta duração.
ResponderEliminarO Berardo e o Salgado devem ter aforrado como o caraças.
ResponderEliminarJá os estou a ver evitar beber uma bica para juntarem mais uns 100 milhões até ao fim do dia. São uns sacrificados.
A imbecilidade das teorias do direitalho consegue sempre descer mais baixo na espiral da aldrabice.
Vejo o comentário produzido pelo José, em que sublinha a sua adesão à tese de que a acumulação e a riqueza no seio do sistema capitalista resultam do carácter prudente e industrioso de uns, em contraponto com o laxismo e incúria de outros, e sou levado, assim sem mais nem menos, para um filme que fez sucesso na década de 80 e que entre nós foi exibido com o nome de "Regresso ao Futuro". Suspeito que a narrativa do filme será mesmo manifestamente exagerada: não foi provado até hoje, que possamos andar por aí a saltitar umas quantas décadas (ou séculos, porque não?) assim num abrir e fechar de olhos e tudo por efeito da velocidade relativamente vertiginosa de uma qualquer geringonça em que nos façamos transportar. Mas, por outro lado e regressando ao comentário do José, fica aqui a demonstração factual de que um indivíduo pode ter o corpo no século XXI mas raciocinar exactamente como se porventura estivesse lá para os finais do séc. XVIII. Olhem que é obra.
ResponderEliminarAdvinha o Francisco que a vinha do futuro dará uvas em cada semanam É muita visão!
ResponderEliminarE o querido Cruz nem planta nem se endivida, faz de guru na blogosfera a ver se um dia está no 10 de Junho.
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