"Contas certas" é o título filme publicitário. Contas certas - orçamentais, julga-se! - é a causa por que Portugal está melhor, uma ideia que entronca tão bem no discurso da direita nacional liberal de que o Estado é que é o culpado de tudo de mal que existiu e existe no país. E que se nós reformarmos o Estado tudo irá melhor.
"Contas certas" - leia-se, o contra-argumento da direita que cola o PS a José Sócrates - fez com que o optimismo tenha voltado. "Contas certas" - isto é, a mesma linha que confirma a responsabilidade de Sócrates - é afinal a nossa salvação... à direita! "Contas certas" fez-nos ter o orgasmo de chegar ao défice mais baixo da democracia... sem que se pergunte se ter défice não seria melhor. "Contas certas" faz com que cresçamos como nunca crescemos no século XXI - falta dizer que neste século mal crescemos por razões que o PS nem tem coragem de analisar neste filme! Costa de ora em quando diz umas coisas, mas não traduz esse pensamento em nenhuma estratégia nacional que se veja e que não seja hoje... "Contas certas", porque lhe interessa ir buscar votos à direita.
E - veja-se lá - o filho do engraxador que veio para a cidade, que agora já tem um relógio e um fato, vai ser entrevistado por uma multinacional que lhe vai dar emprego de certeza. E o portuguesinho, coitado, vai cheio de orgulho de que o país agora está a andar bem... e vai convencer os estrangeiros de que agora é menino lindo. A única irreverência é que não leva gravata...
E é com esta musiquinha que o portuguesinho vai feliz à entrevista.
Mas conviria conhecer as condições contratuais que vão oferecer ao filho do engraxador. Ah mas isso não é argumento porque - como o frisa tantas vezes a direita - "é melhor ter emprego do que não ter nenhum". Vai ter um período de experimental de 180 dias, um contrato a termo, sem pagamento de horas extraordinárias e aceitam-se apostas sobre o ordenado que vai receber.
E se nada disto não fosse já suficientemente mau, temos uma falsa conversa do primeiro candidato socialista, uma candidato ao Parlamento Europeu, supostamente um lugar de soberania colectiva, a sacralizar este discursinho falacioso e enganador.
"Isto é mesmo importante, Henrique. Já viste? Uma empresa externa a criar uma oportunidade como tantas oportunidades de emprego criadas em Portugal este ano"... E vem o Henrique e diz: "É possível conciliar Contas Certas com desenvolvimento social... e económico".Vejam várias vezes essa parte. Até parece que, inconscientemente, o Henrique pensa "social?"... Se calhar, não...
É isto que se quer como desígnio nacional? Conviria que o PS pensasse muito bem naquilo que quer. Ou se quer apenas mais do mesmo: criar o ambiente propício - como sempre o defendeu a direita - para que as multinacionais - píncaro do sucesso e paradigma das sociedades modernas - venham investir neste paisínho pequenino e obediente, honrado e apertadinho, de "Contas certas".
A ideia é muito clara:
ResponderEliminarOs estrangeiros acreditam 'em nós' para que trabalhemos para eles, e para que lhe respeitemos o seu capital.
Que os portugueses não acreditem 'em nós' é normal, porque somos socialistas e isso implica que tenhamos que tornar claro que os portugueses não podem sentir-se explorados por portugueses, pelo menos sem que os ponhamos a pagar uma pipa de impostos e os exponhamos na praça pública como grandes canalhas; para isso temos jornalistas bem treinados.
E quando dizemos que 'criamos' centenas de milhares de postos de trabalho, é uma maneira de dizer, pois além dos empregos para a matilha e clientela, praticamente não fizemos pregar um prego.
Foram ainda os estrangeiros que puseram os juros negativos a promover que o capital se transformasse em imobiliário, e consumo; e visitam-nos; e os impostos que tudo isso rende; que dá tão boas contas!
O que 'nós' somos é especializados em confiança, em futuro, em orçamentos e cativações (que orçamentos e rectificações são instrumentos de austeridade de direita)
Portugal é "socialista" quando até bandalhos mafiosos como o Berardo são condecorados só por serem ricos ?
EliminarBem, se pessoas como o José, que depois de vermos toda aquela bandalheira ainda continua a rebaixar-se perante um Berardo e a insultar quem o critique fossem uma minoria ainda poderia ser. Mas vocês ganham eleições, o país está a saque por capitalistas mafiosos como o Berardo. O José queixa-se de quê ?
Vi este vídeo e revi-o. Trata-se de um documento precioso sobretudo porque encerra em si o âmago da narrativa de uma certa social-democracia. Poderíamos arriscar dizer que esta é a narrativa da social-democracia europeia, mas essa seria uma afirmação não isenta de riscos e que, porventura, não seria capaz também de condensar aquilo que verdadeiramente aqui nos é oferecido. Neste preciosíssimo vídeo, há um apelo a um modo de ver o Mundo cuja matriz recupera no essencial os recônditos mais profundos do miserabilismo nacional, forjado culturalmente em 48 anos de fascismo que o tempo ainda não desvaneceu. Se soubésseis o que custa mandar, preferíeis obedecer toda a vida!, foi a frase lapidar cunhada por Salazar. E, como o Pedro Marques aqui revela, esta doutrina ainda constitui um modelo de pensamento, em que a menorização de uns quantos indisciplinados (os trabalhadores, os assalariados, os que vivem acima das suas possibilidades), exige o rigor punitivos dos que mandam, para que aqueles se portem bem, para que as contas estejam certas, sempre na esperança de que o seu comportamento submissivo, resignado e conformado, leve ao reconhecimento e ao mérito que transformará uns quanto em classe média.
ResponderEliminarQue me desculpe o candidato Pedro Marques, mas sempre daqui lhe digo, sem acinte nem jactância, que o tom rendido mas ao mesmo tempo de espanto e maravilha perante tudo aquilo que o capitalismo afinal oferece (qual pai e mão generosos), aos seus filhos dilectos (e esses são os que se portam bem, os que obedecem, os que não protestam nem se desalinham), esse seu ar de quem vem dos subúrbios e pede delicadamente que o deixem entrar nos salões da capital do reino, o ar de filho da periferia que subiu a pulso e que agora está de bem com a vida, esse desvelo de aspirante a classe média (e aqui subscrevo com a devida vénia tudo o que disse a tal respeito a Profª. Merilena Chauí), deveriam provocar indignação e asco, ao próprio em primeiro lugar, que jamais deveria consentir que o arrastassem para tal papel e figura mas também a um partido que ainda se designa a si próprio por socialista
"Mas conviria conhecer as condições contratuais que vão oferecer ao filho do engraxador."
ResponderEliminarO Henrique nunca perde: está desempregado e se não quiser aceitar as condições, continua desempregado (não piora). Se as condições forem boas e ele aceitar, fica a ganhar. Ou seja, na pior das hipóteses fica na mesma.
Caro anónimo.
EliminarSim. E se a minha avó não tivesse morrido ainda hoje era viva.
Quer dizer o quê com essa platitude ?
Que não se deve tentar melhorar a qualidade da oferta de trabalho através de politicas governativas ?
Leu isso em algum panfleto da CIP ?
Aí vêm as falsas virgens…
ResponderEliminarO Berardo é um emigra que da mercearia passou às minas e ganhou dinheiro.
Vale bem mais que toda uma cambada de cretinos que nada fazem ou fazem fazer.
E defende o que tem sem fazer a figura ridícula dos funcionários sem memória e sem vergonha que saem ilesos de comissões ridículas de tanto 'faz de conta' que não sabemos o quanto de lodo cobre o complexo politico -financeiro -partidário.
Claro ó José.
ResponderEliminarLadrões e corruptos só são maus se forem "funcionários".
Se forem empresários a gente dá-lhes medalhas e lambe-lhes as botas.
Você é o perfeito exemplo da mentalidade que nos levou ás bancarrotas.
Se fosse por você os empresários até tinham o direito de prima noctis com as noivas dos "colaboradores" e contribuintes.
Diga lá, você é empresário ou só lhe fizeram uma lavagem ao cérebro ?
A esquerdalhada não sabe distinguir um empresário de um financeiro.
ResponderEliminarE ainda que ambas as profissões coincidam numa mesma pessoa, recusam-se a distinguir as suas acções e metem tudo no mesmo saco, que é onde gostam de ter quem quer que tenha algo de seu.
Entenderem que o sector financeiro é sobretudos a área do complexo político –bancário –partidário, leva-os a nele mergulharem os empresários, que a todo o tempo os confrontam com a total inépcia da esquerda para entender ou agir em mercado livre.
Ó josé, o Berardo tem empresas em muitos ramos que não a finança. Como o turismo, produção de vinho, etc.
EliminarTambém gostei da tua separação entre empresários e financeiros "mesmo que sejam a mesma pessoa" como geralmente são.
Assim, na tua teoria, a mesma pessoa é duas ou muitas pessoas diferentes.
Verdadeiro dogma da santissima trindade capitalista !
Está explicado porque é que as dívidas deles nunca são deles e acabamos nós por as pagar. É que cada um deles são tantas "pessoas" que ás tantas se esquecem de qual delas devia o dinheiro que todas essas "pessoas" juntas numa só torraram em proveito da únca pessoa real - o aldrabão de carne e osso que concentra essas "pessoas" ficticias todas.
De qualquer modo informo-te que o capitalismo actual está completamente financeirizado e que como tal os financeiros são os capitalistas que contam.
De facto este vídeo do PS deixa desconfortável qualquer um com um mínimo de dignidade.
ResponderEliminarFaz lembrar um série inglesa de tv dos anos setenta, se não me engano a familia Belamy, que retratava uma família burguesa de 1900 que vivia com uma data de criados na cave. Os criados também andavam todos perfiladinhos e engraxadinhos na presença dos patrões.
Tá-se a ver qual é o papel de Portugal na ordem liberal...
A evidência não permite que se tome por ingenuidade o que não passa de negação.
ResponderEliminarAssim chamar 'ordem liberal' à evidente e historicamente inevitável arrogância da matilha socialista.
Ó josé, o PS é tão socialista como tu.
ResponderEliminarFoi o partido que mais liberalizou a economia com privatizações, PPP e cmec's.
Como tu o PS é grande amigo das grandes famílias capitalistas do regime anterior, como os famigerados Espirito Santo, que tanto enterram este país.
A treta do socialismo, sempre que convém, é colocada num patamar de alta complexidade teórica e funcional, quando na prática se resume ao princípio de que 'O Estado cuida'.
ResponderEliminarÉ no entanto evidente que TODOS sempre apontam ao Estado absorver monopólios de serviços essenciais e ninguém sugere que o Estado monte uma fábrica de parafusos ou que fabrique pão!
No essencial propõem-se tributar os privados tanto quanto o necessário para comprar os votos que os põem no poder.
Socialismo é tão só um modo de dizer que dá votos de lerdos e empregos à matilha.
Ó josé, o estado sempre cuidou dos ricos.
ResponderEliminarO socialismo apenas acrescentou o cuidado dos pobres e da classe média.
Nobres e capitalistas sempre beneficiaram de apoios, rendas, monopólios, leis em benefício exclusivo etc.
No periodo da expansão foram as esquadras reais que asseguraram o saque do ouro e escravos e a conquista de mercados e segurança dos capitalistas.
No auge do liberalismo económico os capitalistas até tiveram o maior "subsídio estatal" de todos os tempos, que foi a conquista colonial do mundo e inúmeras guerras entre as potências capitalistas - tudo com o objectivo de garantir matérias primas e mercados aos capitalistas protegidos pelos respectivos estados.
Foram essas conquistas militares, dirigidas pelo estado e pagas com o dinheiro dos impostos e o sangue das classes baixas, que criou o capitalismo actual.
A treta do self made man como tipificação do capitalismo real sempre foi mesmo uma treta.
A maior parte dos capitalistas sempre viveram á sombra do estado.
Caro José.
ResponderEliminarO estado só não produz pregos e pão porque a sua ideologia neoliberal não deixa.
Aliás os comunistas fartam-se de sugerir que o estado produza pregos e pão e você diz que é mau.
Como exemplo histórico, temos a totalmente estatal URSS que produziu o melhor tanque da sua época, o T34, a ainda melhor e mundialmente mais fabricada espingarda de assalto, e pôs no espaço o primeiro satélite artificial e o primeiro astronauta. Para além de fabricar paletes de bombas atómicas e mísseis intercontinentais.
Mesmo no ocidente toda a alta tecnologia está dependente da iniciativa e investimento estatal americano no complexo industrial-militar.
Tanto o seu computador como a internet que usa para insultar o estado foram criados por iniciativa estatal no âmbito da industria de defesa.
Sugerir que o estado, se quisesse, não seria capaz de produzir pregos e pão...