Depois de António Costa, Teresa de Sousa entrevistou Marcelo Rebelo de Sousa. A entrevistadora e o entrevistado são, uma vez mais, a expressão do europeísmo em crise. Dado que Marcelo Rebelo de Sousa borboleteia sobre muitos temas, pousando rapidamente numa ou noutra ideia convencional, basta sublinhar meia dúzia de coisas de forma igualmente rápida.
Em primeiro lugar, uma das preocupações do Presidente da República de Portugal é que daqui a uns anos não haja qualquer potência europeia no G-7, o que diz obviamente tudo sobre a confusão entre os interesses do centro europeu e os interesses específicos desta periferia num mundo felizmente mais multipolar.
Em segundo lugar, reconhece que a integração europeia não tem outra potência hegemónica que não seja a alemã – “o eixo Berlim-Berlim”, como apoda certeiramente, embora suspire pela liderança de Merkel. Entretanto, a política externa alemã resume-se por aqui ao objectivo de manter trancados muitos países europeus numa prisão monetária. Porque será?
Em terceiro lugar, fingindo subestimar a lógica política e das políticas inscrita nas regras da União Europeia, em geral, e da Zona Euro, em particular, fala de um “projecto de valores” e da sua “pedagogia”, sem se atrever, no entanto, a elaborar. Na realidade, os “valores” já existem e são os da concorrência de mercado sem fim. Marcelo substitui o antagonismo político por uma versão aparentemente afectuosa de paternalismo.
Em quarto lugar, fala do espectro dos populismos e do colapso do chamado extremo-centro, convocando um dos seus grandes pensadores, popular à direita e entre certa esquerda – o comissário Carlos Moedas –, quando este defende que o problema são “os medos”. O problema, na realidade, é que gente como este antigo e talvez futuro quadro da Goldman Sachs tem ainda nulas razões para ter medo.
Em quinto lugar, o balanço do triunfo institucional do bloco central europeu, que Marcelo tão bem encarna e que tão afanosamente tenta manter por cá, não é reconhecidamente o melhor: “Temos uma Europa com mais clivagens, mais divisões, com lideranças mais fracas, com novos problemas e velhas questões sociais”.
Finalmente, vem a solução: “A Europa continua a ser fundamental para Portugal”. A geografia não é destino político, claro. Em Marcelo, tudo é aparência; até a falta de ideias.
Não surpreende, ou não fosse o centrismo o buraco negro do pensamento político.
ResponderEliminarO Centrismo político deu ao Mundo o Estado Providência enquanto o radicalismo deu a URSS, a Alemanha Nazi e por aí a fora. Nada mau para um buraco negro ou se calhar a definição é a correta, é aquele que sorve toda a informação, enquanto os restantes a rejeitam.
ResponderEliminarMarcelo é popularucho, mas dizer que não tem ideias é algo injusto, João Rodrigues. Já dizer que o João Rodrigues e correlegionários não têm nem cheta nem, sobretudo, um plano, isso é rigorosamente verdade. Mas o agitprop e a linguagem do apelo ao medo são o que sobra a quem não tem mais nada.
Mas não se esqueça que as pessoas do Centro político registam tais apelos encapotados à sublevação e à subversão. E o medo é como as migalhas, pode sempre sacudir-se. E da última vez que isso foi feito, em 1975, isso não se fez sem que o lado oposto registasse um pânico significativo.
Não ameace ninguém, porque as ameaças não passam esquecidas...
Ler-se estas pérolas: "O Centrismo político deu ao Mundo o Estado Providência" basta para aquilatarmos da ignorância ou da má fé de quem expele tais asneiras.
ResponderEliminarAs tentativas de reescrita da História têm destas coisas. Tentam passar postulados ideológicos manhosos e colaboracionistas, como se de coisas sérias se tratassem. E arrotam ainda ameaças quando se vêm frontalmente postos a nu
O espectáculo que oferecem é paupérrimo. O que sobra passa todavia também por esta linguagem de arruaceiro pedante a mostrar que tudo isto passa por questões de classe. O "sem cheta"de facto é a linguagem obscena em uso pelos donos do dinheiro