quarta-feira, 20 de março de 2019

Mais do que a dívida pública, a dívida externa

Acabaram de sair as estatísticas das contas externas portuguesas relativas a Janeiro. Mostram que a capacidade de financiamento da economia portuguesa face ao exterior está agora menos favorável do que no início de 2018 (que por sua vez era menos favorável do que no início de 2017). Não é de espantar, mas deve merecer atenção.

Todos sabíamos que à medida que a economia portuguesa recuperasse as contas externas iriam degradar-se. Mais crescimento económico significa mais consumo e mais investimento; dada a dependência energética e tecnológica do país, isto significa necessariamente um aumento mais que proporcional das importações. Além disso, aumenta também o repatriamento de lucros e juros para estrangeiros que têm comprado empresas e activos portugueses.

O problema é que a dívida externa portuguesa é uma das maiores do mundo e é uma das maiores fragilidades da economia nacional (e também da espanhola e da grega). Quem empresta dinheiro ao país (seja ao Estado ou ao sector privado) não gosta de ver Portugal a aumentar ainda mais a sua dívida externa em proporção do PIB. Podemos ter uma certeza: a partir do momento em que a dívida externa deixar de cair em percentagem do PIB (e é possível que isso aconteça em 2019, apesar da dívida pública continuar a cair) as dificuldades de financiamento de Portugal vão aumentar.

Muitos insistem em criticar o governo por não ter assegurado uma descida mais rápida da dívida pública. Eu há algum tempo que o critico por ter sido feito muito pouco ou quase nada para lidar com este enorme problema estrutural que é a dependência da economia nacional face ao exterior. Gostaria de não ter razão.

2 comentários:

  1. Se eu quisesse ser sarcástico diria: E para que serve ter um "Ronaldo da economia" a presidir ao Eurogrupo?
    Se quando a situação é séria se justifica mentir (Junker dixit), porque não contornar as regras quando estas "são estúpidas"?
    Oooops, afinal disse e sou sarcástico, quem diria. ;)

    S.T.

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  2. De acordo, Ricardo Paes Mamede, mas tendo em consideração a situação da banca e a própria falta de capital no País, o que pode o Governo fazer se não tentar atrair investimento estrangeiro? A tentativa de internacionalização da Economia começada nos tempos de Guterres falhou, com campeões nacionais como a PT a acabarem em mãos estrangeiras. Parece-me que esse padrão continuará para o futuro, por falta de capital interno e também devido à falta de qualidade da gestão portuguesa, pública e privada. Venha pois a gestão estrangeira...

    Nesse contexto, a manutenção da CGD na esfera pública, mesmo que sujeita às mesmas regras dos restantes bancos, terá sido uma espécie de prémio de consolação do Governo (sou até capaz de apostar que foi por isso que este acabou por alienar o NB à Lonestar). Espera-se que tenha daqui para a frente uma gestão mais profissional e espera-se que o tal Banco de Fomento vingue...

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