quarta-feira, 20 de março de 2019

Duas palavras para Luís Aguiar-Conraria: causalidade reversa

Num artigo de opinião onde começa por puxar dos galões assinalando que é professor de economia monetária internacional, Luís Aguiar-Conraria vem afiançar que “[s]em poupança não há investimento e sem investimento não há crescimento”. Voltarei mais tarde, com mais tempo, a este assunto. Por agora, recordo ao professor Conraria que, além de outros, os professores Keynes e Schumpeter nos deixaram boas razões para pensarmos que a causalidade é reversa e deixo a tradução de um pequeno trecho de um estudo produzido com a chancela do Banco de Inglaterra por dois dos seus economistas.


“Primeiro discutimos a causalidade lógica. Considere-se o caso especial de um novo empréstimo destinado a investimento físico. O empréstimo e o depósito criado levam a investimento adicional que doutro modo não teria ocorrido porque o investidor não tinha acesso ao necessário poder de compra. Eles [empréstimo e depósito] têm de levar, por definição, a poupança adicional, especialmente enquanto resultado da identidade da contabilidade nacional entre poupança e investimento (numa economia fechada e a nível global) e não enquanto resultado de um equilíbrio entre poupança e investimento gerado por uma taxa de juro de equilíbrio. A direção da causalidade é, portanto, do financiamento para o investimento para a poupança. Por outras palavras, a poupança não financia investimento, é o financiamento que o faz.”

9 comentários:

  1. Tudo indica que o Conraria deve andar a poupar para abrir uma fábrica de chouricos. Entretanto vai treinando o enchimento.

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  2. O Conraria é um tipo que se acha a última bolacha do pacote. Mas basta tê-lo um semestre para descobrir que é mais cagança que outra coisa.

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  3. Eu até concordo que não existe consenso relativamente ao que gera o quê. Mas dizer que o estudo é feito sob a chancela do BI é capaz de ser algo exagerado: 'The views expressed in this paper are those of the authors and should not be attributed to the Bank of England or the International Monetary Fund.' Em qualquer instituição há, espera-se, visões divergentes. No FMI também há quem critique o FMI e a UE pelo tratamento dado à Grécia, não há?

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  4. Dúvidas só pode ter quem não faça ideia de como funciona o sistema bancário.
    E acha Jaime Santos que o BoE permitiria que fosse publicado sob a sua chancela um estudo factualmente incorrecto?

    Não sabe que até quando as grandes instituições que se "enganam" por óbvios motivos políticos aparece uma nota de rodapé a explicar que é possível que as previsões não estejam certas?
    O caso mais flagrante foi a estimativa do multiplicador fiscal considerado no último Memorando da troica para a Grécia. O aviso de que o valor considerado em letras gordas "podia ser muito superior" (ou seja, era treta), estava lá, mas em letra miúdinha só para salvar a honra dos técnicos.

    Quanto mais não fosse pelas vezes que esse estudo foi partilhado e citado pela "crème de la crème" dos economistas a nível mundial isso devia levar Jaime Santos a não dizer disparates.

    S.T.

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  5. O debate pula e avança! “Eu até concordo “ é muito bem! Excelentes notícias! Na ausência da concordância de Jaime Santos, os argumentos de Schumpeter, Keynes, Kalecki, Banco de Inglaterra, MMT, etc, não iriam, sequer, a jogo. É muita generosidade da sua parte. Agradece-se muito mais uma contribuição informada. https://goo.gl/nKdCJX

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  6. Eu sugiro ao Jaime Santos que leia algo mais prosaico(é uma leitura agradável) de um actor contemporâneo. Está traduzido:

    Dinheiro - Uma Biografia não Autorizada de Felix Martin - Editor: Temas e Debates

    https://www.wook.pt/ebook/dinheiro-uma-biografia-nao-autorizada-felix-martin/15560779

    Verá que o que os primeiros cambistas começaram por fazer nos primeiros anos da Idade Moderna, já lá vão uns séculos, não assim tão diferente do que dizem os autores do citado documento com a chancela do Banco de Inglaterra.

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  7. Para lá do recente video do professor jorge Bateira neste blog:

    http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2019/03/o-mito-do-mercado-da-poupanca.html

    Curiosamente Jaime Santos comentou este post pelo que estava desatento ou é muito esquecido. ;)

    Mas também há este video do professor Warner, em que explica as questões técnicas e legais da criação de crédito pelos bancos. Mas o essencial é que não é necessário que hajam poupanças depositadas para haver crédito e investimento. Video em inglês.

    https://youtu.be/qpq2eqz6mR0

    Também há este pdf mais específico sobre o que se discute:

    https://www.boeckler.de/pdf/v_2011_10_27_de_carvalho.pdf

    Lamento, mas também em inglês, o que é bizarro porque o autor parece ser português.

    Fica aqui um trecho:

    "The persistence of Classical ideas on the relation between saving and investment so many
    decades after the publication of the GT bears witness to the power of their appeal not only for the general public but even to economists, who should know better. In fact, that so many
    economists still think that saving is a pre‐condition to investment, just as it was in the corn economy, bears witness also to the difficulty of understanding how modern economies work. Of course, the persistence of the corn economy model of thought is also responsible for the correlate ideas that an economy, like a family, has to live within its means and that austerity is the right receipt to deal with a debt overhang."

    S.T.

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