quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Notícias feitas à pressa?

Recorrendo a dados do Eurostat, o JN destacou na capa da edição do passado domingo que «os contratos precários aumentaram 1,8 pontos percentuais entre 2008 e 2017» em Portugal, sendo que à escala europeia «só a Croácia apresenta um valor superior», com «um aumento de 3,6 pontos percentuais», no mesmo período.

Reproduzida por outros jornais (por exemplo aqui, aqui, aqui ou aqui) e nos noticiários do dia, a peça do JN tem contudo dois problemas. Por um lado, porque mesmo fazendo referência a esse facto, não retira as devidas ilações da quebra de série estatística verificada em 2011, que inviabiliza a interpretação dos dados feita pelo periódico. Por outro lado, porque não sendo essa quebra de série nada irrelevante (os valores para Portugal mais que triplicam de um ano para o outro), é dispensada na notícia a referência à redução do peso relativo do trabalho precário - e não o seu aumento - entre 2011 e 2017. Ou seja, uma diminuição em cerca de -0,7 pp nos anos que compõem a série estatística mais recente.


De facto, a aproximação dos critérios utilizados pelo INE aos critérios utilizados a nível europeu, a partir de 2011, mostra que este indicador da precariedade laboral estava subavaliado até essa data, em termos comparativos (passando Portugal a posicionar-se acima da UE, ao contrário do que sucedia até 2010). Mas mostra também que, desde então, essa forma de precariedade tem vindo a diminuir (e a aproximar-se da média europeia, que se mantém em torno dos 2,3% entre 2011 e 2017), passando de 3,6 para 2,9%. O que permite uma leitura bem distinta (e distante) dos títulos que povoaram os jornais no início da semana, a apresentar Portugal como um «dos países europeus onde o trabalho precário mais subiu», ou como um país onde os «contratos precários aumentam 1,8 pontos percentuais entre 2008 e 2017».

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