domingo, 9 de setembro de 2018

Um jornal civilizado


Pode parecer questão menor, afectando pouca gente, e para mais assente na ideia do fim de uma obrigação. Em meados de Agosto deste ano voltou a falar-se do eventual fim da reforma obrigatória na função pública aos setenta anos (...) Não se trata, como nunca se tratou, de declarar a incapacidade inevitável e generalizada dos cidadãos de setenta anos. Trata-se de partilhar o tempo de trabalho e as responsabilidades que se lhe associam. Trata-se de declarar o fim de um ciclo e o início de um outro onde as capacidades de cada um possam ainda ser úteis socialmente. Trata-se de não eternizar lugares ou poderes, o que só não seria considerado positivo se se tivesse alguém por insubstituível. O exemplo que habitualmente surge não é o de um auxiliar que, não tendo outra vida para além de um corredor de um ministério, se recusa a largar uma cadeira e um horário. Fala-se do investigador que se perde, do juiz, do médico ou do professor que faziam tanta falta, dos dirigentes que querem continuar a ocupar os seus postos de batalha. E, se não é desejável a eternização de funções, a verdade é que nada condena hoje um profissional aposentado à inacção. Um investigador, por exemplo, ainda que aposentado, pode continuar a fazer parte de equipas, a coordenar projectos, a orientar trabalhos, a escrever. Pode sempre manter actividade, partilhar a sua experiência e as suas reflexões de diversas formas, sem ter de ocupar um lugar para o qual muitos profissionais altamente preparados estão disponíveis. É de muito mais do que uma mera escolha pessoal que aqui se fala (...) [O]nde o problema do modelo de civilização se volta a colocar, neste debate, é no padrão de duração de tempo de trabalho, onde o fim da obrigatoriedade da aposentação é apenas mais uma alavanca para tornar natural outras obrigações.

João Luís Lisboa, Trabalho e civilização, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Setembro.

13 comentários:

  1. Tem razão quanto à 'eternização', risco maior numa sociedade em que a avaliação é ausência maior.
    E quando se diz que sempre será o caso de tratar-se de «um lugar para o qual muitos profissionais altamente preparados estão disponíveis», está seguramente a pressupor uma não avaliação, que disponibilidade para subir na carreira seguramente sempre haverá.
    É o padrão esquerdalho: mais coisa menos coisa sempre somos iguais e a avaliação é coisa de somenos.

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  2. Um bom exemplo, que ilustra como funciona a "coisa"...

    Factos:

    Estamos a falar de um universo...de DDT(s)! ( admitamos alguns instalados...a marimbar nos "donos disto tudo".)

    Estamos a falar de um universo...de caciques! ( admitamos alguns instalados...a marimbar nos caciques.)

    Estamos a falar de um universo...de nomeados! ( admitamos alguns instalados...a marimbar nos chefes.)

    Estamos a falar de um universo...exclusivo! ( admitamos alguns expectantes...com fé de chegar a sua vez!!!)

    Surpreende como a questão anda a cozinhar:
    ...tão lentamente...há dois anos nos corredores da assembleia (com letra pequena!)...a ver como param as modas...a atirar barro ás paredes!

    Não deixando "trabalhar",quem AGORA(!)- aos SETENTA - tanto tem para dar!


    Além da HIPOCRISIA...

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  3. "risco maior numa sociedade em que a avaliação é ausência maior"

    Isto está nalguma página de algum discurso "lúcido e claro" daquele pantomineiro do Salazar?

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  4. "que disponibilidade para subir na carreira seguramente sempre haverá"?

    Quererá este sujeito uma carreira de rentista? E isto é uma profissão de fé ou uma profissão interesseira?

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  5. "está seguramente a pressupor uma não avaliação"?

    Ah, essa tal avaliação que é o risco maior numa sociedade em que a avaliação é ausência maior.

    Isto já me faz lembrar os discursos do Américo Thomaz. Cada vez mais interessante. Também na estante?



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  6. "É o padrão esquerdalho"?

    Pois. Confirma-se: Estamos no padrão do jose, aquele perito patronal que não foi avaliado, com as consequências maiores que daí advieram

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  7. " mais coisa menos coisa sempre somos iguais"?
    Pois é isso mesmo. Somos todos iguais. E todos diferentes


    "e a avaliação é coisa de somenos."?
    Depende. De que se fala e de quem se fala. E de mais algumas coisinhas
    Por exemplo o que pensar dum tipo que afirma, numa defesa dos contratos de associação mafiosos e vociferando contra o ensino público que:
    "mais alunos sob a alçada dos gurus ideológicos do couto esquerdalho a que chamam Ministério"?

    É de um tipo que nunca foi avaliado cognitivamente. Ou de um tipo que quer ser ele o avaliador.

    Não era este tipo que tinha consideração pela "profissão" de censor? E que suspirava pela disponibilidade para subir na carreira que seguramente sempre haveria?

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  8. João Lisboa tem razão:

    É uma questão civilizacional.

    Tal como nos anos de chumbo da governação troikista/ Passista/Paulista/ Cavaquista se tentou regredir para antes de Abril de 74, como marca de um retrocesso civilizacional, desejado por toda uma cambada de viúvos salazarentos, de caciques patronais e de ressabiados anti-democratas

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  9. Gaio - Mais comum é ouvir os gritos ásperos que emite com frequência, bem como todo um leque de imitações de cantos e chamamentos de outras aves. http://covaodaponte.com/Gaio

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  10. E o pobre jose às voltas como os gaios e os cucos. Parece que os segundos eram da especial predilecção materna, mas os gostos da excelente e liberal senhora nada nos dizem sobre o que se debate aqui.

    Ou de como tudo serve para torpedear o fundamental do que se discute.

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  11. É uma questão civilizacional e jose apostou e aposta forte no regresso ao 24 de Abril.

    Percebe-se porque os seus berros e gritos no anos de chumbo austeritário se tenham convertido nestas idiotices em volta do seu covão familiar

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  12. PORNO-RIQUISMO - Vícios privados, benefício público?

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  13. Confirma-se

    O porno- riquismo mexe com josé. Perturba-o a sua denúncia

    Agora volta desamparado ao tema, tal é o complexo de ter andado a defender o abjecto

    Dos vícios conhecemos alguns, embora nessa área josé nos bata aos pontos. Não é por nada que foi representante patronal aquando das fraudes dos fundos sociais europeus

    Mas de como os benefícios que os porno-ricos tiram dos seus vícios, se transmutam em públicos, essa é que só mesmo na cabeça de um propagandista do porno- riquismo

    Da próxima trará uma ave?

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