sexta-feira, 14 de setembro de 2018
Não importemos problemas
A esquerda portuguesa já tem problemas suficientes para enfrentar e não precisa de importar os problemas dos outros, até porque estamos em reconhecido processo de renacionalização da política, o que não quer dizer que não devamos estar atentos e solidários internacionalmente. É preciso efectuar análises concretas das variadas situações nacionais concretas. Estou a pensar na ascensão da extrema-direita. Porque é que não temos tal problema por cá?
Em primeiro lugar, por razões fundamentalmente geoeconómicas, não temos tido afluxos significativos de refugiados políticos ou de imigrantes económicos. Num contexto de crise e numa sociedade desigual e causticada pela austeridade, tal já teria criado condições objectivas que poderiam ser exploradas politicamente. No nosso caso, muitos com palco até se podem dar ao luxo de falar como se a ausência de fronteiras, ou seja, de comunidade e de responsabilidade democráticas, fosse alguma norma que se possa e deva prosseguir na área das migrações, como noutras.
Em segundo lugar, somos tradicionalmente um país de emigração, o que pode ajudar a alimentar em muitos por cá um sentimento de reciprocidade, que facilitaria o cultivo de uma certa simpatia para com os imigrantes.
Em terceiro lugar, existe a memória do fascismo e uma cultura anti-fascista, com reflexos constitucionais e ideológicos, ainda actuante.
Em quarto lugar, a esquerda não abandona as classes populares e a questão da independência nacional, em nome de miragens pós-classistas e pós-nacionais. Temos a felicidade de ter uma esquerda resolutamente patriótica, por muito que isso incomode alguns sectores intelectuais. Felizmente, algumas tendências académicas dominantes no pensamento dito crítico têm reduzido impacto político-partidário. Predominantemente, o nacionalismo actual por cá é anti-colonial e anti-fascista, cívico e constitucional. Nunca esqueçamos que nacionalismos há muitos, dos indispensáveis aos dispensáveis. Este é um campo que não se abandona nunca.
Em quinto lugar, o nosso sistema político, filho de uma revolução democrática, apesar de algumas entorses à representação proporcional, tem-se revelado plástico e resiliente. O seu grande problema é mesmo, por um lado, a reduzida participação das classes populares, como se vê, por exemplo, quando se olha para os representantes e suas origens sociais predominantes, e, por outro lado, a pós-democracia com escala europeia. Não podemos ser complacentes.
Devemos estar descansados? Nunca. Mas também não devemos estar sobressaltados. Afinal de contas, o PNR e quejandos são casos de polícia e não de política. Tendo em conta o passado fascista, a direita portuguesa tornou-se relativamente civilizada, pelo menos na retórica, embora haja aqui e ali tentações populistas ditas triádicas, mas que não se inscrevem politicamente.
As esquerdas portuguesas devem conduzir campanhas eleitorais para as chamadas eleições europeias sem cair na armadilha, bem denunciada por Serge Halimi e Pierre Rimbert no último Le Monde diplomatique, do enquadramento do debate entre o campo neoliberal e o do populismo das direitas, literalmente duas faces da mesma moeda europeia, sem cair em europeísmos vagos e descontextualizados, sem cair nessas farsas da eleição para presidente da Comissão Europeia e dos chamados partidos europeus, estes últimos de resto em decomposição, da esquerda à direita.
As eleições europeias são contra o eixo Bruxelas-Frankfurt e contra os aliados internos das suas políticas. Em nome da soberania nacional, social e democrática de um rectângulo que deve ser de todos os que aqui vivem e que partilham instituições e vivências que se querem bem mais inclusivas.
Adenda. Francisco Assis presenteou-nos ontem com mais um artigo verborreico, confirmando que confunde o empilhamento de adjectivos com argumentos. Ataca os comunistas portugueses pelo seu voto a propósito da Hungria. Assis não se dá ao trabalho de apresentar os argumentos concretos aduzidos e, muito menos, de os refutar. Enfim, para efeitos de debate, deixo aqui a posição dos comunistas, com a qual de resto estou basicamente de acordo.
Muito bem!
ResponderEliminarÉ claro que esta malta da coisa da democracia representativa, lá se vai aguentando à espera de vez mas,
ResponderEliminaralgum mais nervoso, poderá fugir á formatação da coisa e... dar voz ao Soberano!
Lamentavelmente, a vanguarda esclarecida é mais ferrenha na defesa da coisa e,
só quando estiver a perder o comboio do Soberano… reconhecerá o erro!
Até lá, os trânsfugas nascerão todos da dita direita e,cavalgarão a onda,
sempre acompanhados da sobrancearia dos instalados da coisa,
a "botar faladura" á volta dos Trumps...extrema direita...
não conseguindo esconder o desdém,
por alguém que defenda a SOBERANIA.
Palmas para a lucidez e a coragem !
ResponderEliminarA ESQUERDA ou é internacionalista, ou é uma esquerda da treta.
ResponderEliminarÉ verdade nacionalismos há muitos, mas com mais ou menos verniz, sabemos ao que conduzem, é sempre conveniente voltar a Jean Jaurés hoje tão esquecido, ou ao Manifesto de Marx "Proletários de todos os paises uni-vos"
O voto do PCP a FAVOR de Orban, não vale a pena dourar a pilula, pois foi isso que na realidade se passou, não admira, o PCP acha que devem ser os povos a decidir o seu destino, e não devem ser sancões, externas ou invasões, a impõr solucões,só que isso só é valido até certo ponto.Os apoios do PCP á invasão pela União Soviética, do Afeganistão da Checoslováquia,e mais recentemente da Russia na Crimeia, mostram que quando lhe convém o PCP, manda os principios ás malvas.
«uma esquerda resolutamente patriótica…» essencialmente no que toca a ferrar o calo aos credores.
ResponderEliminarSim, votaram com os fascistas, contra o fascismo (ver o comunicado do PCP).
ResponderEliminarO PCP, na boa linha do Estalinismo que se aliou a Hitler até ele lhe entrar pela porta dentro, escolheu ficar do lado do nacionalismo reacionário e contra os liberais, isto porque, embora se solidarize com a situação da oposição húngara não reconhece autoridade moral à UE para iniciar um procedimento previsto no Tratado de Lisboa que o Governo Húngaro co-redigiu e cujo parlamento foi o primeiro a ratificar.
Os Húngaros não vão ter exatamente os tanques da UE a ocupar Budapeste. Isso era mais a URSS que fazia... Será que se fosse hoje, o PCP também apoiaria?
Só gostava de saber qual terá sido a reação dos Comunistas Húngaros quando os seus congéneres portugueses lhes disseram, lamentamos camaradas, estamos solidários convosco mas não podemos fazer nada, porque não vamos votar ao lado dos liberais europeus...
Resumindo, o PCP continua a ser um apologista do double-think. Nada a fazer...
Jose , quando refere calotes, está a referir-se aos desfalques do BPN -PSD, ou ao BANIF-PSD Madeira?
ResponderEliminarComo todo o bom esquerdalho, o Joaquim Ribeiro não teme o ridículo.
ResponderEliminarJosé enterra a cabeça na areia e finge que não ouve, não vê, não escuta
ResponderEliminarFaz apenas este gesto idiota de quem chama os outros de ridículos. Quando os outros lhe esfregam na cara o que é perfeitamente indesmentivel
Um excelente texto
ResponderEliminarQue deixam algumas baratas tontas a estontear
Parabéns pela posição do PC. E por este excelente texto
Há mais
ResponderEliminarUm sujeito aí insurge-se contra a esquerda patriótica
Prefere os vende-pátrias vulgares. Como ele
Não vale a pena dourar a pílula. Um tal Augusto de mão dada com Jaime Santos e com José
ResponderEliminarO oportunismo político misturado com o neoliberalismo envergonhado e com o salazarismo
Excelente post
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