quinta-feira, 12 de julho de 2018

A graça do dia... sem graça


Tradução: "800 mil expatriados deixaram a Arábia Saudita, criando uma crise de contratação: "Empregadores dizem que os jovens homens sauditas e mulheres são preguiçosos e não estão interessados em trabalhar".

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Como se vê, um argumento nacional que tem muitos apoios internacionais, além do centro da Europa. Se olharmos para as mãos dos príncipes sauditas, salta a vista os dedos calosos do manejo da picareta.

Passada a provocação, olhe-se para o caso em concreto. Dele, retira-se várias ilações. A Arábia Saudita continua uma taxa de desemprego elevada, mas a contratação externa invadiu o emprego (um terço da mão-de-obra), sem que se consiga baixar o desemprego. Outro problema - que é outra ilação - é que a Arábia Saudita é um país dependente de um sector e, como se lê no artigo, há tentativas de diversificação, nem sempre fáceis. A crise do imobiliário de aluguer e nos centros comerciais faz parte do mesmo problema.

A solução foi criar quotas para a contratação de sauditas, mas as enpresas acabaram por criar falsos empregos e pagar-lhes falsos salários, apenas para cumprirem a quota, sem que nada mudasse. Agora, as organizações patronais já falam de uma saudização do emprego, de 100%. Taxam-se os estrangeiros, o que parece aumentar o ritmo de saída. E são oferecidos postos de trabalho públicos (dois terços do emprego doméstico) de pouca qualificação.

"A taxação de expatriados, antes que a Arábia Saudita se transforme numa economia produtiva que depende da indústria, é como colocar o carro na frente do cavalo", disse Tariq A. Al Maeena, comentarista de Jeddah, no Gulf News em outubro. Karen E. Young, do Instituto Árabe dos Estados do Golfo em Washington, escreveu no blog do instituto em fevereiro, que levará uma década ou mais para criar uma classe trabalhadora de sauditas.

Mas entretanto os jovens não querem aceitar baixos salários que consideram ser abaixo do seu estatuto. Lá, como em muitos sítios, torna-se evidente que um baixo salário será sempre um apelo ao direito à preguiça. E que não é solução para os problemas de fundo.

4 comentários:

  1. Em jeito de provocação, costumo dizer que naquela região do globo, o Árabe é dono, o Indiano manda, e o Filipino limpa.

    Mais a sério, tem muita verdade este artigo, mas há muita questão cultural aqui, não me parece que seja apenas uma questão salarial.

    Primeiro, tipicamente, árabes não aceitam o que consideram trabalhos menores (que pode pode ser qualquer coisa abaixo de gerente!). Nos hotéis, os Árabes nativos (de turbante) são clientes ou donos, o concierge é um indiano e o empregado é filipino ou chinês. Nas empresas (tecnológicas, que conheço), é parecido, sendo os empregados tipicamente engenheiros ocidentais, alguns regionais (Jordanos, Libaneses, Indianos...), e poucos árabes nativos. Chefias continuam a ser Indianos.
    Segundo, quem faz esses trabalhos "menores" são expats porque normalmente vêm de regiões onde esse cargo não é valorizado como nesta região: veja-se os médicos, engenheiros, jogadores e treinadores que foram de Portugal para ganhar 4x ou 5x acima do que ganham aqui, mas sempre abaixo dos standards locais. O mesmo para expats de outras regiões, onde o salário de um empregado de hotel, por mais baixo que seja é muito acima do seu país de origem.
    Terceiro, a impressão que tenho é também uma certa desconfiança dos árabes nativos em relação aos próprios: seja pela dita "preguiça", falta de confiança na competência, seja por desconfiança étnica (sunitas, xiitas, curdos...), as empresas preferem pagar a um expat, a ter de contratar um nativo.
    Quarto, o que se vê é que pagam bem aos expats para cargos altamente qualificados, e mal para cargos pouco qualificados.

    Concluindo, os árabes nativos são raros em trabalhos qualificados bem pagos e raros em trabalhos pouco qualificados mal pagos, seja por "preguiça", questões étnicas, ou baixas competências.

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  2. Quem prescinde de um baixo salário é aquele a quem o baixo salário não faz falta.
    A partir daí se deve começar a análise da situação de emprego saudita.

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  3. Estas frases pretensamente grandiloquentes da parte do comensal José sempre deram para o torto

    (Quem imita também deu)

    Passando por cima do seu mestre e indo directamente à frase, esta é, não só redutora, como infelizmente demonstra a forma como um determinado patronato é. Cacique e caceteiro.

    Há mil e um motivos para não se poder aceitar um salário de miséria. Ou mesmo um salário baixo, embora saibamos que a definição de “baixo “ varia na perspectiva de quem o usa.

    Há salários que de tão miseráveis não compensam sequer o custo das deslocações. Ou não permitem a pessoa sair da zona de pobreza e são incapazes de garantir o sustento famíliar

    E não vale a pena agora falar nas condições de trabalho e na degradação que é imposta ao mais fraco

    Ter uma mão de obra barata disponível para tudo é o sonho de um certo patronato grosseiro e fiel cumpridor do que Marx já denunciou há muito

    É a partir daqui que se deve apreciar o comentário de jose

    Num próximo post aparecerá José todo indignado por quererem taxar as transferencias para os offshoes. Mantendo na zona de pobreza tão singelos senhores

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  4. A Arábia Saudita é um caso muito particular no que toca a emprego.

    Deve-se esclarecer que é uma monarquia absoluta em que a extensa família real partilha os descomunais rendimentos do petróleo e regula direitos de sucessão. Recentemente houve alguma agitação com o actual homem-forte a chamar a si quase todos os poderes.

    Também em relação aos imigrantes, indianos, filipinos, ocidentais e outros, há um esclarecimento importante a fazer: Aplica-se a jus sanguinis, isto é, mesmo que a família de imigrantes viva e tenha nascido no reino há três ou quatro gerações não têm direito à nacionalidade saudita. Os imigrantes e seus descendentes serão sempre estrangeiros.

    Em relação aos súbditos sauditas, a prática de muitos anos foi de subsidiar generosamente todos os nacionais. Os rendimentos do petróleo assim o permitiam e era uma forma de garantir a lealdade do povo e o seu consentimento a uma situação política tão pouco usual nos dias que correm.

    O actual homem-forte, MBS, tem tentado fazer reformas várias, mas não é fácil quando há duas ou três gerações a generalidade dos sauditas são pagos para básicamente não fazerem nada.

    Por isso, há uma espécie de negócio não-escrito mas subentendido que os sauditas recebem uma fatia dos proventos do petróleo a troco de "não fazerem ondas".

    E isso explica o recurso extenso a mão de obra imigrante e a descrição (acurada) do Daniel Ferreira no 1º comentário a este post.

    Escusado será dizer que com os baixos preços do petróleo dos últimos anos as finanças do reino têm estado sob grande stress. Talvez seja por isso que MBS tente modernizar os costumes do país e cortar nas regalias. Em todo caso não vai ser tão cedo que o KSA vai ter um mercado de trabalho "normal".
    S.T.

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