sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Refundar boa parte da Esquerda


No dia 1 de Dezembro, Portugal comemora a recuperação da sua independência em 1640. Precisamente quando se encontra numa situação em que já não tem soberania desde 1992 com o Tratado de Maastricht (UEM). A ignorância do povo, quanto a esta situação paradoxal, é obra das suas elites, incluindo da esquerda europeísta. Por isso, considero que são meus adversários políticos todos os que defendem a manutenção de Portugal nesta condição de protectorado.

Mais, quem não defende a recuperação da soberania de Portugal, de facto aceita a farsa da pseudo-democracia em que vivemos. Quem é de esquerda não pode aceitar isto, tem de aceitar que o soberano é o povo português. Depois do que o Eurogrupo fez à Grécia, não há desculpas. Para mim, quem defende os poderes supranacionais existentes, e até o seu reforço, defende a política neoliberal e a redução do país à condição de província periférica de um império alemão juridicamente camuflado. E não me venham com a conversa da esperança numa reforma progressista "por dentro", nos "amanhãs que cantam" do neoliberalismo.

Precisamos de refundar uma boa parte da Esquerda, em Portugal e no resto da Europa, caso contrário ela desaparece. Se o meu leitor se considera de esquerda, então recomendo-lhe que encomende já o livro de que junto a imagem de capa. De seguida, traduzo alguns parágrafos de um artigo de apresentação do livro, onde algumas ideias centrais são resumidas pelos autores:
Não é difícil perceber que se a mudança progressista só pode ser implementada ao nível global ou europeu – ou, por outras palavras, se a alternativa ao status quo apresentada aos eleitorados é entre nacionalismo reaccionário e globalismo progressista – então a Esquerda já perdeu a batalha.
RESGATANDO O ESTADO
No entanto, não tem de ser assim. Como defendemos em 'Resgatando o Estado', uma visão progressista, emancipatória, da soberania nacional, uma alternativa radical à Direita e aos neoliberais – uma alternativa baseada na soberania popular, controlo democrático da economia, pleno emprego, justiça social, redistribuição dos ricos para os pobres, inclusão e, de forma mais geral, a transformação sócio-ecológica da produção e da sociedade – é possível. É mesmo necessária.
Como J. W. Mason escreve:
"Quaisquer arranjos institucionais [supra-nacionais] que em princípio possamos imaginar, como os sistemas de segurança social, a regulação laboral, a protecção ambiental e a redistribuição do rendimento e da riqueza que realmente existem, são de âmbito nacional e são geridos por governos nacionais. Por definição, qualquer luta para preservar a social democracia, tal como existe hoje, é uma luta pela defesa destas instituições nacionais."
Pela mesma razão, a luta para defender a soberania democrática do ataque da globalização neoliberal é a única base sobre a qual a Esquerda pode ser refundada, a Direita nacionalista desafiada, e o fosso que separa a Esquerda da sua base social ‘natural’ – os destituídos – pode ser preenchido.
Com esta finalidade, a Esquerda precisa de abandonar a sua obsessão com as políticas de identidade e recuperar o “entendimento mais alargado de emancipação, anti-hierárquico, igualitário, baseado na classe, anti-capitalista” que era a sua imagem de marca. Evidentemente, esta ênfase não anula a luta contra o racismo, o patriarcado, a xenofobia e outras formas de opressão e discriminação.
Adoptar plenamente uma visão progressista da soberania também significa abandonar os numerosos e falsos mitos da macroeconomia que infestam o discurso dos pensadores progressistas e de esquerda.
Artigo aqui

10 comentários:

  1. Eu acho muita piada à pesporrência com que o Jorge Bateira continua a tratar a generalidade do eleitorado português. Ou andamos todos enganados, ou somos membros da elite pró-globalização. Presumo então que eu seja um membro da segunda, em versão pelintra. Ou somos estúpidos ou desonestos, vale a pena lembrar o que dizia Orwell acerca do católico e do comunista...

    Alguém chamava a atenção para um facto simples, depois da continuada erosão da social-democracia europeia. Se realmente as pessoas estivessem à espera de uma recuperação de todos os ideais de que fala, seria de esperar um avanço significativo dos Partidos mais Esquerda, defensores de um socialismo puro e duro.

    Nada disto está a acontecer, nem sequer no Reino Unido, onde Corbyn e May beneficiam claro de um sistema eleitoral injusto que prejudica quaisquer alternativas aos dois maiores partidos. Quanto ao pobre do Syriza, rapidamente percebeu que quando se quer esticar a corda é bom estar preparado para que ela se parta. O que aliás raramente acontece nesta área política. E, na falta de políticas realistas, recorre-se à retórica inflamada, como neste seu texto. Não há dúvida que a ideologia e os grandes princípios são o último refúgio dos impotentes...

    Eu conheço bem essa linguagem de quem se considera dono da Esquerda. O PCP foi useiro e vezeiro dela durante muitos anos, mas mais recentemente abandonou-a de algum modo, talvez por puro pragmatismo leninista (o acesso ao poder faz milagres).

    O Jorge Bateira revela-se incapaz de perceber que grandes Partidos como o PS são coligações de votantes e que uma parte deles, eu incluído, não querem nada disso que advoga. E como sem o nosso voto fica em minoria, olhe, fique para aí a arrostar contra Bruxelas e faça muito bom proveito...

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  2. O domínio filipino que terminou a 1 de Dezembro de 1640 deveria ter-nos ensinado, se os povos tivessem boa memória, que não há pertença a um grande império que valha a liberdade de um povo de escolher democráticamente o seu destino.

    Chama-se a isso soberania, e não reside em tratados mas na vontade expressa de um povo.
    Quando há conflito entre tratados e vontade popular não se muda o povo, mudam-se os tratados.

    Tal como em 1640 há hoje escolhas a fazer, e quanto mais cedo a opinião pública nacional perceber que não há prato de lentilhas que valha a liberdade de dispôr do nosso destino enquanto nação, mais depressa nos libertaremos dos espartilhos, bloqueios e impossibilidades que condicionam o nosso futuro.

    É ridiculo e tremendamente estúpido colocar as chaves da prosperidade de um país nas mãos de estrangeiros e esperar que tomem decisões favoráveis aos nossos interesses e não aos deles.

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  3. "A ignorância do povo, quanto a esta situação paradoxal, é obra das suas elites, incluindo da esquerda europeísta."

    Esta frase lapidar deveria estar escrita por todo lado neste país.

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  4. "à pesporrência com que o Jorge Bateira continua a tratar a generalidade do eleitorado português"

    Acha piada o Jaime Santos

    Isto não será uma espécie de impulso censório de Jaime Santos?

    Não se pode comentar sem ser dando a sua concordância à generalidade do eleitorado português? Mais, dando a sua concordância àquela que passa por ser a concordância do eleitorado português, segundo a óptica do cómico Jaime Santos?

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  5. "Ou andamos todos enganados, ou somos membros da elite pró-globalização.Ou andamos todos enganados, ou somos membros da elite pró-globalização. Presumo então que eu seja um membro da segunda, em versão pelintra. Ou somos estúpidos ou desonestos..."

    Presume Jaime Santos.

    Mas presume porquê? Para depois daquela calinada censória se fingir de coitadinho?

    Uma tentativa de vitimização para ver se a pílula passa?

    Presume agora então que eu seja um membro da segunda, em versão pelintra. Ou somos estúpidos ou desonestos, vale a pena lembrar o que dizia Orwell acerca do católico e do comunista...

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  6. A captura de uma parte significativa da esquerda pelo neoliberalismo foi uma das maiores tragédias para o bem-estar dos povos da Europa e causa maior do presente retrocesso social e civilizacional.

    Essa captura traduziu-se no esvaziamento de todo o projecto da social-democracia europeia e apoia-se em forças poderosas mas não necessáriamente bem-fundadas técnica e cientificamente nem benévolas politicamente.

    Como o Prof. Alberto Bagnai muito bem salientou, não existe uma única publicação cientificamente aprovada por "peer review" que fundamente o Euro enquanto construção económica.
    Pelo contrário, a elite dos economistas mundiais preveniu que a construção do Euro era desde o início defeituosa e que teria efeitos desastrosos. Ninguém os escutou e a propaganda eurista abafou as suas vozes. O resultado está à vista...

    A compreensão dos mecanismos perversos com que o Euro arruina os países periféricos, apesar de não ser "rocket science" exige reflexão e alguma disciplina intelectual.
    Não é portanto fácil explicar ao eleitor comum as malfeitorias do Euro, pelo que deveria ser tarefa das elites perceber, explicar as consequências e tirar as devidas conclusões.
    Se as elites, entre elas os representantes eleitos são incapazes de perceber isso pode ser devido a factores como:
    a) Interesses próprios divergentes dos dos seus eleitores.
    b) Captura ideológica e cegueira por preconceito.
    c) Ignorância e falta de cultura económica.
    d) Estupidez natural.

    Nem vale a pena falar do papel nauseabundo que a classe jornalistica com raras excepções tem desempenhado, servindo de dócil instrumento da propaganda eurista.

    Não deixa de ser revelador a parcialidade com que Corbyn é tratado pela imprensa inglesa. As denúncias de "instruções internas" para sabotar toda a imagem pública de Corbyn sucedem-se e a parcialidade da imprensa contra ele é óbvia e notória. Apesar disso tem vindo gradual e sustentadamente a crescer o apoio popular de que goza. Porque será?

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  7. Num universo racional as ideias fariam o seu percurso normal desde que uma teoria económica ou outra é apresentada, se vê confirmada e validada por dados objectivos até ser globalmente aceite e aplicada.

    No entanto vivemos num universo estranho regido por relações de poder que distorcem os factos e mais do que isso distorcem a percepção que os eleitores têm dos factos.

    Chama-se a isso propaganda, e a mais insidiosa é aquela que é feita de forma dissimulada, tal como é prática das instituições da UE, que têm acesso de topo e sem qualquer cotraditório na quasi totalidade dos orgãos de informação pelo menos por essa Europa fora.

    Não é pois de admirar que perdure tanta ignorância acerca das reais razões da "crise das dívidas soberanas" e de todas as tramóias politicas e financeiras que lhe estão associadas.

    Invocar a "razão da maioria" na tentativa de normalizar comportamentos e opiniões é um truque intelectualmente desonesto e muito rasteirinho.

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  8. Jaime Santos

    Aceito que depois de se ler esta espécie de "ultimato" do Jorge Bateira, o Jaime tenha tido a necessidade de explicar as destrinças de uma esquerda de espécie 3ª Via e a restante menos, vá lá, cosmopolita.

    Mas falar em "dono da Esquerda" sem mencionar, propositadamente, os "Donos de Isto Tudo" que financiaram os cabecilhas dos "coligados votantes" para que o maior partido da Esquerda se transformasse numa espécie de direita light aberta ao clientelismo supra e intra fronteiras, não me parece lá muito honesto intelectualmente.

    Depois da advertência premonitória do PCP, em 1997, sublinho, 1997, em que o povo português jamais foi consultado acerca da abdicação da sua soberania monetária (tal como antes disso não fora consultado acerca da adesão à CEE) nem tão pouco da assunção dos compromissos impostos pelo Tratado de Maastricht e a consequente previsão das multas do Pacto de Estabilidade em que o Estado Português ficou obrigado a rigoroso equilíbrio orçamental e a conter-se no recurso à contração de empréstimos (contenção da Dívida Pública) tendo que aumentar os impostos; cortar no número e salários dos trabalhadores da Administração Pública; cortar nas despesas sociais (saúde, ensino, segurança social); limitar os investimentos para infraestruturas e para o sistema produtivo ... depois de tudo isto e mais um consequente resgate financeiro pelo meio, o Jaime, que na altura foi dos tais "coligados votantes" que (suspeito) sublinhou tais avisos premonitórios como mais uma piada da "tal" retrograda k7 comunista, agora, continua a achar piada á pesporrência de mais um aviso a navegação? Para mim, cair num buraco é acidente, cair uma segunda vez no mesmo buraco ............

    Pois bem, lanço-lhe o desafio para um exercício de simples resolução a base de Sim ou Não:
    - Fosse a Alemanha a ter que seguir os desígnios de uma UE com distintos ditames quanto a ser outra, que não ela, nação europeia a ditar as diretrizes politicas do Eurogrupo e em que a própria Alemanha se visse reduzida á condição de protetorado, sem qualquer escrutínio ao seu eleitorado, acha o Jaime que o "Maravilhoso Mundo Novo" do europeísmo supranacional seria uma realidade viável como querem fazer crer aos famosos PIGS?

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  9. Ha-Ha-Ha-Ha-Ha! Não é por acaso nem acidente histórico que toda a politica monetária do BCE é escrutinada até ao infimo detalhe pelos homens de toga vermelha de Karlsruhe!

    É importante perceber que todo o afã alemão é encontrar sempre a solução mais baratinha e vantajosa para as suas clientelas locais, ou seja o lobby industrial-exportador e o lobby bancário-financeiro.

    Só depois vêm os interesses politicos do complexo CDU-CSU_SPD e a seguir os interesses do eleitor comum alemão. Lá no fim da fila vêm os intresses dos outros governos da Eurogermânia e ainda lá mais para trás os outros penetras lá dos PIGS.

    Por isso tudo é impossível falar num demos europeu (E sem demos não pode haver democracia!) e perfeitamente ridícula a obstinação em construir uma organização federativa de povos visto que os politicos alemães não se vêm como membros de uma mesma comunidade. Pelo contrário, os "periféricos" são vistos apenas como "indolentes" clientes de missangas e pechisbéques a quem se deve impôr condições mercantilistas e expoliá-los, reduzindo-os a dóceis proletários.

    Esta é a crua realidade e bem fariam os dirigentes partidários em tê-la em conta.

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  10. Excelente artigo de Jorge Bateira, embora não seja grande adepto dessa divisão simplista Esquerda/Direita.

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