A chamada candidatura de Mário Centeno à chamada presidência do chamado Eurogrupo não é propriamente uma surpresa. A ser bem-sucedida, trata-se de mais uma “exportação”, mas não desta solução governativa, que obviamente não é exportável, dado que corresponde, e responde, a circunstâncias de tempo e de espaço muito próprias deste nosso rectângulo. E o que se importará? Instabilidade, arrisco.
A ambição de Centeno parece estar em linha com a lógica de circulação de elites periféricas, que logo se imaginam no centro quando chegam ao governo, ou pouco tempo depois, e que tão bom resultado tem dado desde Durão Barroso. Centeno é diferente, dirão. Isto não é sobretudo pessoal. As elites periféricas circulam em função da sua adaptação aos interesses do centro. O centro tem mostrado interesse. E, para ser franco, creio que Centeno nem terá de se adaptar muito.
Trata-se afinal de contas de alguém com credenciais impecavelmente ortodoxas, incluindo uma útil “visão de mercado” das relações laborais, subtítulo de um dos seus livros, ou uma visão do sistema financeiro assente no escrupuloso cumprimento do princípio europeu do pagam, mas não mandam, típico de semicolónia. No fundo, a fidelidade ao Euro e suas regras que se requer. Tudo na ordem a sul, dirá quem manda a norte.
Neste contexto, na óptica de quem está no comando, a pergunta que se impõe é a seguinte: porque não haveria Centeno de ser uma útil e complementar adição à lógica da evolução na continuidade em curso nas instituições formais e informais europeias, permitindo ainda alimentar a ideia zumbi de que agora é que vai ser diferente na Zona Euro e na UE?
A tragédia é o Euro. Esta circulação é só a mesma farsa de sempre.
Farsa sem dúvida!
ResponderEliminarTenho vindo a reparar que muitos dos euro-apparatchiks são de pequenos ou países periféricos.
O criminoso de guerra Durão Barroso é um exemplo, Junker é outro.
Isto deve ser a táctica do poder dominante, a Alemanha, para fazer crer que há partilha de poder entre os países, mas a realidade é outra, portanto, uma farsa!
Também serve para inchar um patriotismo pífio e parolo.
Já estou a ver o Catavento e outros a regurgitar as banalidades do costume se Centeno for eleito "É uma honra para Portugal"; "Portugal tem a ganhar com esta eleição", enfim, vácuo...
Aliás, não ficarei surpreendido se Centeno acabar no Goldman Sachs é que há um padrão que se tornou bastante visível!
Enquanto a euro-farsa continua o declínio social, económico e democrático avança.
Avante euro-fanáticos! Avante!
Desde sempre se soube que não era para ser diferente no essencial.
ResponderEliminarA única coisa que de substancial foi realizado foi dar um sopro de vida à tralha socrática que estava a caminho de desaparecer do mapa, para grande benefício da sanidade pública.
Sim, houve um décor montado com uns esquerdalhos socialistas, mas a substância permanece, ainda que, com os pés quentes pela proximidade do poder, sempre se conformem ao discurso dos coitadinhos.
E não venha a 'verdadeira' esquerda dizer que tinha outras expectativas, que não as teve.
Tratou simplesmente de evitar que oito anos seguidos de racionalidade capitalista fosse dose excessiva para suster um discurso que sempre dá em coisa nenhuma.
Parece que a principal preocupação da política externa Portuguesa tem sido a de arranjar uns tachos para os políticos. O que está o país a dar em troca para conseguirmos tantos tachos? Note-se que tanto políticos do PS como os do PSD foram beneficiados com tachos lá fora. Não é algo específico de um só partido
ResponderEliminarBarroso >> Comissão Europeia
Guterres >> ONU
Constâncio >> BCE
Gaspar >> FMI
Santos Pereira >OCDE
Campinos >> EPO
a confirmar:
Antonio Vitorino >> ONU
Centeno >> Eurogrupo
Caso estas nomeações fossem vantajosas para o nosso país, com tantos Portugueses em em posições de poder seria de esperar que o país fosse um pouco mais beneficiado nas decisões destas organizações, contudo o que se verifica é precisamente o contrário. Por exemplo, Portugal passou por uma das suas maiores crises quando Barroso estava na Comissão Europeia. O que me leva a crer que no que toca à Política externa, POrtugal em vez de andar a lutar para que a sede de agências europeias como a do medicamento, ou a outra agência que saiu de Londres venham para POrtugal, anda mas é a pedir tachos para os seus políticos.
A funçao de propaganda interna tb tera pesado na decisao de avançar. Alias, essa funçao foi evidente na historia da agencia europeia do medicamento. sao duas encenaçoes evidantes da subalternidade, mas que se apresentam como todo o seu contrario.
ResponderEliminar"Não venha a outra esquerda"?
ResponderEliminarAh, estas raivas particulares, em jeito de ameaça pimba à passos coelho
"oito anos seguidos de racionalidade capitalista"
Ah, estas idiotices ditas como se coisa séria se tratasse. Quer a dita racionalidade (racionalidade nos mercados é algo que não existe), quer o dito propriamente dito
Um excelente post de João Rodrigues, lúcido como sempre. E que nem o paleio do outro lado da barricada, proveniente dum patronato sedento de dinheiro (como o dado aos bancos) e de austeridade caceteira consegue beliscar
Centeno é e sempre foi um economista do centro esquerda, cúmplice com o status quo europeísta e se alguém alguma vez pensou o contrario é porque se deixou iludir com a esperança de um momento único na historia politica Portuguesa e que lhes toldou a razão, contudo, foi com Centeno que a retoma (com vários golpes de asa e sorte) ficou dotada de sólidos alicerces para garantir um crescimento económico sustentado sem que para isso tivesse de cair na tentação dos seus antecessores. É suficiente? Não mas é um principio de base para a devolução de salários e para uma consciente reivindicação dos partidos que fazem parte da solução governativa exigirem uma reforma do código laboral com consequente o aumento de 600€ de ordenado mínimo.
ResponderEliminarPortanto fazer uso do redutor e muito português de bestial a besta nunca foi um bom pronuncio, especialmente quando ainda faltam 2 anos par o fim da legislatura.
"Agora é que vai ser" é a farsa produzida e encenada pela UE há muitos anos.
ResponderEliminarÉ curioso como em recente artigo do Express, ( https://www.express.co.uk/news/world/886405/Yanis-Varoufakis-Emmanuel-Macron-European-Union-France-Germany ) Varoufakis pulveriza as esperanças que as iniciativas europeístas de Macron poderiam suscitar. Tanto mais curioso quanto as próprias iniciativas de democratização da UE de Varoufakis são elas próprias tão irrealizáveis como os sonhos de Macron.
E eu acrescentaria cínicamente: E felizmente que assim é!
€ que nasce torto...
É genial que tanto "liberal" europeísta encha a boca com retórica sobre "os mercados" e recusem o mais importante desses mesmos mercados: O mercado de divisas que estabeleceria naturalmente o equilibrio entre as economias europeias. São todos muito liberais mas é só quando isso serve as próprias conveniências.
ResponderEliminarEsta candidatura parece-me preocupante também enquanto sinal de que Costa está a aproximar-se do PSD para um bloco central. É que o primeiro-ministro não pode deixar de saber os riscos para a actual solução governativa de ter Centeno a presidir ao Eurogrupo, ora, se mesmo assim decide que é uma boa ideia, é porque, suspeito, deixou de ver o Bloco e o PCP como um apoio e passou a vê-los como um peso que está pronto a deixar cair. E a reviravolta recente (em rigor traição) no orçamento de Estado reforça esta suspeita.
ResponderEliminarA utilização de tropas "indigenas" e feitores locais sempre fez parte dos métodos de dominação de qualquer potência colonial que se preze.
ResponderEliminarPor que seria a Eurogermânia diferente?
O David Crisóstomo dá uma divertida réplica à mesma retórica de sempre do João Rodrigues: 65forte.blogs.sapo.pt/e-portugal-que-ganha-com-isso-454976. E farsa, meu caro, era o colonialismo soviético sobre os povos do Império Russo e depois do Leste Europeu. Quem ainda anda a resmungar que a URSS era boa porque permitia o avanço dos direitos sociais no Ocidente, esquecendo isso, não tem moral para vir criticar o 'semi-colonialismo' da UE...
ResponderEliminarNão existem "benevolent hegemons". São tão "fake" como o pai natal da cocacola! Quando muito existem regimes colonialistas ou imperiais mais ou menos brutais.
ResponderEliminarE para os "innocenti" que pensam que o nazismo foi um acidente, recomenda-se que se documentem sobre o colonialismo alemão da Namíbia, e depois digam-me se é sensato criar um exército europeu inevitávelmente sob domínio alemão (não será quem paga é quem manda?)com acesso ao arsenal nuclear francês...
Como devia ser óbvio para qualquer alminha com dois dedinhos de testa este convite é uma forma de neutralizar uma timida mas relativamente bem sucedida alternativa.
ResponderEliminarNo limite é uma forma de prolongar a agonia das economias periféricas sem realmente resolver os problemas de fundo e com pouca despesa.
Apenas podemos recomendar a Mário Centeno a leitura de documentação sobre a vida de Arminius (18/17 BC – AD 21). Quem sabe? Talvez aí encontre um exemplo inspirador...
Fui aquele artigo do Crisóstomo tido como "divertida réplica" a João Rodrigues.
ResponderEliminarPara além da dificuldade em o encontrar (wrong number) é uma desilusão pura. O seu autor é uma espécie de salta-pocinhas a debitar debilidades argumentativas replicadas do tempo de Barroso. Com a agravante de se esquecer que a aludida legitimidade democrática quer de Barroso quer do eurogrupo é simplesmente uma farsa. Sendo declaradamente falso que a nomeação deste tivesse sido vista universalmente pelo ângulo do "interesse nacional", onde só se pensou no alegado "prestígio da nação"
Tretas que não resistem ao confronto dos factos.
Pelo que, remetendo-nos para o nível argumentativo do Crisóstomo, tenha lá paciência. Este hipsterismo dos europeístas "ai, Eurogrupo, tô bem aí" já enjoa. O mundo lá fora continua, mas cá também. E a pátria cansa sobretudo para quem tem como pátria os interesses económicos do centro e dos privilegiados das periferias
Quanto a Jaime Santos mais a sua "farsa, meu caro" ...
ResponderEliminarAté onde vai a impotência argumentativa. Está-se "nisto". Na necessidade de se socorrer do jargão primário anti-soviético para tentar combater o argumentário de outrém. Como se já só se tivesse a capacidade para defender coisas abjectas como "semi-colonialismo". A que se acrescenta a pregação de lições éticas sobre "moral" ( este sabe o que é isso da "moral"?).
O europeísmo e os europeístas estarão reduzidos mesmo a isto. Antes a Europa, perdão a UE era o alfa e o ómega de todas as coisas à face da terra. Agora afinal vão até admitindo que as coisas não são bem assim, mas desta forma pouco honesta, vão permitindo "ainda alimentar a ideia zumbi de que agora é que vai ser diferente na Zona Euro e na UE"?
Para este peditório já estamos mesmo fartos
É preciso lembrar:
ResponderEliminar"O ministro das Finanças, Mário Centeno, é candidato à presidência do Eurogrupo, o encontro dos ministros das Finanças da zona euro onde, por exemplo, se ratifica o exame prévio aos orçamentos dos estados-membros."
"A candidatura de Centeno ao orgão informal dos ministros das Finanças da zona euro, que vinha sendo dada como provável, foi confirmada pelo gabinete do primeiro-ministro, em nota à comunicação social, poucos minutos após as 11h – prazo para apresentação de candidaturas.
Apesar de o anúncio formal das candidaturas recebidas ainda não ter sido feito pela actual presidente, o holandês Jeroen Dijsselbloem, estão a ser dadas como certas as de dois ministros oriundos de partidos do grupo dos Liberais, o luxemburguês Pierre Gramegna e a letã Dana Reizniece-Ozola, a que se pode ainda juntar o eslovaco Peter Kazimír, do mesmo grupo político do PS português.
O Eurogrupo não tem carácter formal, mas é pelas suas reuniões que passam as decisões sobre a orientação económica e orçamental dos estados-membros que adoptaram a moeda única. Foi numa reunião do Eurogrupo, em Julho de 2016, que foi aprovada a abertura do processo de sanções a Portugal e a Espanha.
Recorde-se que, a ser eleito, Centeno não será o primeiro português a ocupar a liderança de um dos principais orgãos da União Europeia. Em 2004, Durão Barroso abandonou a liderança do governo português para ascender à presidência da Comissão Europeia. Foi durante os seus dez anos de mandato que se fizeram sentir de forma mais visível as consequências da submissão de Portugal às regras do euro e da União Europeia: com os programas de estabilidade e crescimento (PEC) a somarem cortes a direitos e rendimentos de forma sucessiva, entre 2010 e 2011, e culminando no pacto assinado entre o PS, o PSD e o CDS-PP e a troika estrangeira – em que um dos tripés era a Comissão Europeia, presidida por Durão.
A candidatura de Centeno está a ser dada como a provável vencedora, no quadro da distribuição de lugares entre os dois principais grupos políticos. O apoio dos países mais poderosos, como a França e a Alemanha, que foram ditando, em larga medida, o que se podia ou não fazer em matéria orçamental no nosso país, é dado como garantido pelo Financial Times.
O cumprimento escrupuloso das metas impostas pela União Europeia (e pelo Eurogrupo) tem sido um dos elementos centrais no exercício das funções internas que Mário Centeno ocupa. Simultaneamente, esse cumprimento tem sido também um dos maiores entraves à adopção de medidas de maior alcance – não só na reposição de direitos, mas também noutras questões estruturais –, inviabilizando rupturas com os dogmas económicos, financeiros e orçamentais de Bruxelas, como a aceitação do peso da dívida e os constrangimentos impostos pela própria moeda única.
A eleição do novo presidente do Eurogrupo, que entra em funções a 1 de Janeiro de 2018, é eleito na reunião de segunda-feira, 4 de Dezembro, pelos ministros das Finanças da zona euro".
Diz a resposta do Sr. David Crisóstomo que "a pátria cansa" e é verdade, mas só é possivel fugir à canseira quando se pertence às elites compradas cujos interesses se alinham com os dos estrangeiros que nos espartilham e nos esbulham enquanto povo e nação.
ResponderEliminarNeste 1º de Dezembro parece que há quem esqueça que em 1640 alguns portugueses da altura fizeram a arriscada escolha da soberania e da liberdade contra a "confortável" pertença ao império espanhol que exauria a nação.
Ontem como hoje haverá vendidos a quem é indiferente o nosso destino colectivo como nação, esquecendo-se que a soberania de um povo habitando um país livre e independente é a melhor garantia da defesa dos seus interesses e da prosperidade do seu povo.
Pátria não é nacionalismo balofo nem é propriedade da direita proto-fascista patrioteira.
Pátria é tão sómente a afirmação de confiança na capacidade e necessidade de nos organizarmos enquanto povo para defender os nossos interesses comuns.
E quem infantilmente acreditar que a coroa espanhola em 1640 ou os burocratas de Bruxelas nos dias de hoje tomam graciosamente decisões a favor dos nossos interesses e bem-estar ou é parvo ou faz-se.