sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A Crato o que é de Crato

No ano passado, Nuno Crato tentou chamar a si os louros pelos resultados do PISA de 2015, que revelaram uma franca melhoria do desempenho escolar dos alunos portugueses. Para o ex-ministro, o sucesso alcançado era um reflexo das políticas que ele próprio adotara, em particular a introdução das «novas metas curriculares» e dos «exames finais» no 4º e 6º ano. Sucede, porém, como se demonstrou aqui, que não era sequer possível estabelecer essa relação de causalidade. Porquê? Porque os alunos avaliados pelo PISA, que iniciaram o seu percurso escolar em 2004/05, não chegaram a realizar os referidos exames nem foram abrangidos pelas metas curriculares. Ou seja, Crato estava «tecnicamente» impedido, logo à partida, de chamar a si o mérito ou demérito pelos resultados obtidos.

Ora, ao contrário do que se passou com o PISA de 2015, Nuno Crato está agora irrevogavelmente associado aos resultados do PIRLS de 2016, ontem divulgados. De facto, esta avaliação da literacia de leitura dos alunos do 4º ano, cujos testes decorreram no início de 2016 (com o atual governo em funções há apenas dois meses) recai sobre alunos que iniciaram a sua escolaridade em 2012/13 e comparam com os resultados do PIRLS de 2011, quando não havia «novas metas curriculares» nem «exame final» no 4º ano. E, convenhamos, a comparação não corre nada bem ao ex-ministro da direita PAF. Portugal não só passa de uma pontuação de 541 para 528 (sendo 500 o ponto intermédio de classificação), como desce da 19ª para a 30ª posição no ranking de países envolvidos. Ou seja, Portugal não só piora o seu desempenho como é «o país da Europa que mais caiu e o segundo que mais piorou», nos cinquenta países em análise.


Concretamente, o PIRLS avalia duas dimensões: a literacia literária (ler como experiência literária e de conhecimento) e a literacia informativa (ler para adquirir e utilizar informação). Finalidades que são cruzadas com níveis progressivos de desempenho em termos de processos de compreensão da leitura: Baixolocalizar e retirar informação de diferentes partes do texto»); Intermédiofazer inferências diretas»); Elevadofazer inferências e interpretações baseando-se no texto») e Avançadointegrar ideias e informação de vários textos para apresentar argumentos e explicações»). Sucede pois que entre 2011 e 2016 não só diminui a percentagem de alunos portugueses que atingem níveis de desempenho mais relevantes (de 9 para 7% no patamar «Avançado» e de 47 para 38% no patamar «Elevado»), como se inverte a posição relativa de Portugal face à média dos valores dos países avaliados. Se em 2011 registávamos percentagens comparativamente superiores nos níveis de desempenho mais significativos, essa situação inverte-se em 2016.


O que tem isto que ver com as opções educativas do ex-ministro Nuno Crato? Muito. Como referiu o Secretário de Estado da Educação João Costa na apresentação do PIRLS de 2016, estes dados refletem uma então «excessiva preocupação com os resultados e o produto e uma baixa preocupação com os processos», ao que acresce a imposição de uma «lista fechada de leituras» que os alunos tinham que fazer e uma lista «interminável de coisas que todos tinham que saber». Isto é, a desvalorização da aquisição de competências a troco de uma lógica de fixação de conteúdos, que compromete as aprendizagens e a versatilidade cognitiva associada à leitura.

Na resposta ao Secretário de Estado, contudo, Nuno Crato não só não resiste a enjeitar responsabilidades pela deterioração dos resultados dos alunos portugueses no PIRLS de 2016, como volta a sugerir, com total despudor, que os méritos do PISA de 2015 decorrem da sua visão da educação e das suas políticas educativas. Pior era impossível.

14 comentários:

  1. Mais uma vez um post muitíssimo oportuno.

    O que espanta também é este despudor e esta mediocridade que se cola como uma segunda pele (e duma forma quase sistemática) a estes aldrabões que ocuparam lugares governamentais nos anos de chumbo de Passos Coelho.

    Como se a manipulação e a aldrabice primárias convivessem alegremente, sem interregnos e acefalamente, com as suas concepções ideológicas ultramontanas e trágicas

    Talvez umas sejam a sequência lógica das outras

    ResponderEliminar
  2. Impressionante efeito de «uma lógica de fixação de conteúdos, que compromete as aprendizagens e a versatilidade cognitiva associada à leitura».
    Sabem mais coisas mas perdem versatilidade cognitiva. Um horror!
    O mundo de benefícios que traz a versatilidade cognitiva no 4º ano, ameaçado pelo PAF!

    Seguramente a geringonça vai promover uma drástica melhoria em versatilidade cognitiva, arma que se espera virá a combater a ignorância, um dia, mais tarde, se tiverem necessidade, se as promoções não forem automáticas, se não lhes respeitarem os direito, se lhes correr mal a vida...

    ResponderEliminar
  3. Há algo de subrepticiamente histérico neste "um horror" lançado pelo comentador das 2 e 26.

    Porque os factos têm um peso que não se pode negar. E aqui referimo-nos não só aos factos da notícia, como aos "factos" revelados por aquele que se exprime com um suspeito "um horror"

    Vejamos.

    Os factos revelados mostram o que é Crato. Desmistificam Crato. Revelam a desonestidade visceral de Crato. Denunciam a mediocridade dos treteiros vigaristas, revanchistas e trauliteiros que nos governaram.
    E algumas das consequências daí resultantes.

    Que Crato tenta negar, reivindicando num caso louros que a ele não lhe cabem, noutro caso negando o que a ele irrefutavelmente está ligado

    Contra factos nem a histeria convence.

    ResponderEliminar
  4. Quanto aos "factos" revelados por aquele que se exprime com um suspeito "um horror"...

    Repare-se como foge ao que se denúncia e se afunda naquelas suas concepções do ensino que lhe são caras e peculiares.

    Vem de longe a sua defesa num ensino elitista e dual. Não escapa ainda da memória o seu esforçado esforço para um ensino baseado não no conhecimento científico mas sim no senso comum. A imagem do Sol a rodar em torno da Terra engasgou-o e levou-o a silenciar depois o que andou anos a pregar. A privatização do ensino e a disponibilização de rendas para os patrões de colégios é um outro seu sonho

    Mas admire-se não só o silêncio sobre a falta de coluna vertebral de Crato, como também a sua comovente solidariedade com um dos apêndices da governança neoliberal.A forma histérica mais uma vez suspeita como se refere à "versatilidade cognitiva" leva-nos a pensar que essa coisa de "cognição" deve ser para estas coisas algo de perigosamente revolucionário.

    O pensar pela cabeça é subversivo. Algo que salazar não deixou de sublinhar.

    O mais do resto é apenas o registo extemporâneo mas suficientemente revelador do estado argumentativo dos viúvos de Passos Coelho. Ir buscar ao baú do refugo neoliberal as "promoções automáticas" e os "direitos a respeitar" revela o que lhes vai no fundo da alma e o rancor revanchista que lhes germina no fundo das fauces.

    E que não apaga nem justifica, não contesta nem contradiz o denunciado nesta posta certeira de Nuno Serra

    ResponderEliminar
  5. Que horror!
    A erudição é coisa do passado.
    O futuro é a preparação dos neurónios para a aprendizagem, se e quando ela se apresentar como necessária.
    O trabalho da escola será um dia potenciado por acções de desenvolvimento a realizar in útero.
    Um admirável mundo novo em formação.

    O baixo nível passar de 98% para 97% deve alegrar-nos pela notável recuperação dos seguramente mais desfavorecidos por uma sociedade...etc...

    ResponderEliminar
  6. Caro José, o facto de a percentagem associada ao nível "Baixo" ter passado de 98 para 97% não significa que tenha diminuído o número de alunos nesse nível. Significa, isso sim, que a percentagem de alunos que nem a esse nível chegou aumentou de 2 para 3%.

    ResponderEliminar
  7. Como se vê a erudição é coisa que nem no passado o jose teve. Embora ele não seja dos desfavorecidos da sociedade

    Mas o horror assim exclamado de forma dúbia continua. A que se sujeita um tipo só para fugir ao confronto com a falta de carácter do seu ministro de estimação

    A falta de princípios desta gente impressiona.

    ResponderEliminar
  8. Como impressiona o silêncio do horrorizado quanto aos factos:

    "convenhamos, a comparação não corre nada bem ao ex-ministro da direita PAF. Portugal não só passa de uma pontuação de 541 para 528 (sendo 500 o ponto intermédio de classificação), como desce da 19ª para a 30ª posição no ranking de países envolvidos. Ou seja, Portugal não só piora o seu desempenho como é «o país da Europa que mais caiu e o segundo que mais piorou», nos cinquenta países em análise".

    A "erudição" dos treteiros tem destas coisas.

    ResponderEliminar
  9. Como referia Ary: "Não passa!" A esquerda não questão monetária não tem razão, nem nunca terá. Cerra-se numa questão de dogma!

    Taxa de inflação em Portugal desde 1978 até agora, dados da Pordata:
    https://www.pordata.pt/MicroPage.aspx?DatabaseName=Portugal&MicroName=Taxa+de+Infla%C3%A7%C3%A3o+(Taxa+de+Varia%C3%A7%C3%A3o+do+%C3%8Dndice+de+Pre%C3%A7os+no+Consumidor)+total+e+por+consumo+individual+por+objectivo&MicroURL=2315&

    O limbo é exatamente a partir de 2002, quando o Euro impediu que os demagogos e irresponsáveis do burgo imprimissem moeda para "suprir as necessidades do povo". Como não puderam imprimir moeda, imprimiram dívida através de obrigações, o que na prática ainda foi pior pois é paga com juros. Mas foram os governantes portugueses que contraíram a dívida, ninguém nos obrigou a endividarmo-nos. Que raio!

    Debater política monetária com neo-marxistas, é como explicar Estratigrafia a Testemunhas de Jeová, é uma terefa inglória. Assim como a Terra tem cerca de 4,5 mil milhões de anos pois as rochas não enganam, todos os números históricos da inflação (empobrecimento) demonstram que a esquerda não tem razão na matéria do Euro. Mas que fazer? É uma questão de dogma e não de Razão!

    ResponderEliminar
  10. Coitado do João Pimentel Ferreira.

    Está tão ocupado a multiplicar-se em variados e múltiplos nicks que até se atrapalha nos posts e nos locais de escrita

    Enganos vários, trapalhadas múltiplas.

    Ou será que se trata apenas duma manobra de diversã o para proteger aquele traste do Crato

    Como dizia o Ary, assim não. Não passa mesmo.

    ResponderEliminar
  11. No local apropriado será mais uma vez desmontada a patetice de afirmações perfeitamente idiotas do anónimo das 14 e 02.

    Nem a datação da terra e outras amostras ridículas da pseudo-erudição do sujeito conseguem esconder a vacuidade argumentativa deste Pimentel.

    Não terá um espelho à mão e uma voz amiga para o fazer cair na real?

    ResponderEliminar
  12. Outro que não larga o vinho

    ResponderEliminar
  13. Há aí um erro, os alunos que fizeram o PISA de 2015, começaram a escola em 2006. Foram os nascidos em 2000.

    ResponderEliminar