quarta-feira, 4 de outubro de 2017
Neoliberalismo maquilhado
O europeísmo realmente existente está reduzido a uma espécie de neoliberalismo maquilhado. Macron, que investe literalmente muito em maquilhagem, é a melhor expressão disso mesmo. Não vale a pena perder tempo com os seus recentes discursos e propostas com escala europeia. O facto de, em conjunto com os de Juncker, ainda inspirarem de alguma forma Augusto Santos Silva diz tudo sobre o estado ideológico de uma certa social-democracia, a que recusa retirar qualquer ilação da relação entre a integração europeia depois de Maastricht e a crise desse movimento um pouco por todo o continente. O seu “precisamos da ambição francesa e da sageza alemã”, da ambição de Macron e da sageza de Merkel, isto é, indica que depois da tragédia que tem sido o euro a história do seguidismo nacional ainda se repetirá sob a forma de variadas farsas.
Vale a pena, isso sim, perder tempo com a solidariedade em relação aos que combatem as políticas públicas que Macron leva a cabo na escala nacional. Estas políticas são, na realidade, a melhor expressão da lógica da economia política da integração europeia: falo sobretudo da ambiciosa aposta na redução dos direitos e aumento das obrigações laborais, com as correspondentes diminuição das obrigações e aumento dos direitos patronais, aspecto que tem sido bem sublinhado por Manuel Carvalho da Silva, incluindo nas suas declinações europeias:
“Em França, país de importância histórica na conquista de direitos individuais e coletivos no trabalho, Macron, enquanto encena aparentes ideias inovadoras para o projeto europeu, desencadeia uma ofensiva anti laboral sem precedentes, apoiado pelos poderes dominantes da União Europeia (UE). Draghi expressou (...) a expectativa de tais reformas 'eliminarem o dualismo no mercado de trabalho', o que pelas experiências conhecidas significa generalizar a precarização e acentuar a desproteção dos trabalhadores. Muito do futuro do trabalho no continente europeu joga-se em França.”
Por cá, neste contexto estrutural, um governo com apoio da esquerda arrisca-se a não ser mais do que um compasso de espera no que às relações laborais diz respeito. E isto depois do histórico retrocesso do governo da troika, bem analisado neste livro. Como na economia política continua a não haver relação mais decisiva, é preciso enfrentar este risco. Se não agora, quando?
Tanta é a maquilhagem que tentam pôr nas ideias neoliberais velhas e falidas que a própria maquilhagem já só enaltece a fraude que é o neoliberalismo.
ResponderEliminarE esta metáfora da maquilhagem vale também para outras situações, por exemplo, andarem para aí a dizer que estamos a assistir a uma recuperação extraordinária quando essa “recuperação” se baseia na precariedade de quem sobrevive sem poucas ou nenhumas expectativas que haja uma recuperação a sério.
Outra maquilhagem que prevaleceu durante anos, para que pudesse ser utilizada contra os piegas do sul da Europa, foi de que a Alemanha era um paraíso, parece que também esta maquilhagem está a perder a eficácia...
O que a língua de pau que se usa aqui e no artigo mais acima de João Ramos de Almeida diz suavemente, é que o PCP se deve preparar para ensaiar uma estratégia de lutas sindicais mais ativa. O problema claro, é que a sindicalização no setor privado é muito mais baixa donde o que se pode esperar é greves no setor público. Tenham muito cuidado com as provas de vida que querem dar. Arriscam-se a não fazer mais que perturbar os serviços públicos e enfurecer o público. Não sei se isso rende votos. Se calhar rendia mais se fossem para o Governo e fossem capazes de correr riscos... Quem não quer engolir os sapos da governação não pode querer ficar com os louros dela...
ResponderEliminar"Precisamos da ambição francesa e da sageza alemã", pois claro. Do que não temos precisão nenhuma é da farta cegueira neoliberal que tomou conta da direita e da esquerda das terceiras-vias e seus sucedâneos nesta nossa maravilhosa UE.
ResponderEliminarSinais dos tempos: ao contrário da canção, a galinha é dona dos ovos, do galinheiro e da arruinada quinta, ao passo que ao galo, para que se lhe arrebite um pouco a crista decadente, faz-se a esmola de se lhe atribuir a posse dos vastos domínios da oca ambição. Este Augusto Santos Silva é o nosso principezinho florentino de trazer no bolso...
É isso tudo, caríssimo Sr. Jaime Santos. Há que ter medo, há que ter muitíssimo medo, pois a aleivosa comunagem conspira na sombra e já se ouve o áspero ruído do afiar dos marxistas facalhões com que há de degolar todo e qualquer ser vivente que de seu alguma coisinha tenha. Os tenros bebés detentores de chupetas serão os primeiros a ir à degola, claro: o massacre, como é da tradição, far-se-á às primeiras luzes da alvorada, e isto de massacrar gente abre o apetite.
ResponderEliminar"Se calhar rendia mais"
ResponderEliminarMais uma vez alguém que não percebe nada disto. Ou talvez perceba e acabe por cumprir os seus objectivos de classe, em que tudo se vende e se compra e em que o oportunismo vive paredes meias com a traição de princípios e de causas
"Quem não quer engolir os sapos da governação não pode querer ficar com os louros dela..."
ResponderEliminarMais uma vez o "fim da história"?
Parece todavia que mesmo no PS há gente que se apercebe melhor da nossa presente condição. E que isso dos "louros para a governação" só mesmo ao nível duma comunicação social assim para o rasca
Confundir os desejos com a realidade dá estas coisas, caro Jaime Santos.
ResponderEliminarNotícias frescas, escondidas da Comunicação social e ignoradas pelo caro Jaime Santos:
Vitória dos trabalhadores da Gestamp
Os trabalhadores da empresa do sector automóvel, em Vendas Novas, aprovaram em plenário o acordo de aumentos salariais mínimos de 30 euros nos próximos dois anos, reposição do subsídio de turno e fixação do salário mínimo na empresa em 600 euros.
Os trabalhadores da APAPOL – Aliança Panificadora de Algés, Paço de Arcos e Oeiras, Lda, no seguimento da convocação de acções de protesto, conseguiram que a empresa cedesse a todas as suas reivindicações, como a revisão e equiparação nas tabelas salariais dos trabalhadores da mesma categoria.
Trabalhadores da Somincor em greve param as minas de Neves-Corvo
A «forte adesão» à greve nas minas de Neves-Corvo, em Castro Verde, paralisou as lavarias e «grande parte dos serviços subterrâneos», de acordo com fonte sindical
Greve na CelCat acima dos 90%
O quinto protesto deste ano dos trabalhadores da General Cable CelCat, uma greve parcial, iniciou esta madrugada com mais de 90% de adesão e a produção parada nas primeiras horas.
Luta dos trabalhadores da Carreras permitiu avançar nos direitos
O Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN) divulgou que, em reunião negocial, a empresa de logística Carreras assumiu, entre outros, os compromissos de valorização das categorias profissionais, de combate à precariedade e de melhores condições de saúde e segurança.
O curioso é que Emmanuelle Macron, um dos candidatos de extrema-direita, nomeado pelo neoliberalismo para concorrer nas eleições francesas de 2017 (e que acabou por as vencer), é também um idiota útil dos neoliberais e um lacaio dos ingleses.
ResponderEliminarSerá interessante ver como vão reagir os franceses quando o inglês passar a ser língua obrigatória, as comunas forem extintas, e no âmbito laboral a susbtituição do Direito Latino que rege a lei laboral, pelas normas do Direito norte-americano que favorece o poder financeiro e os interesses económicos do regime da Inglaterra e dos Estados Unidos da América (EUA).