quarta-feira, 19 de julho de 2017

Escravatura, Imperialismo e Racismo


O historiador João Pedro Marques escreveu mais um artigo no Público sobre escravatura e abolicionismo. Neste artigo, João Pedro Marques gasta os dois primeiros parágrafos do seu texto a enunciar os seus pergaminhos académicos e a acusar quem se engaja no debate sobre escravatura em Portugal de “pouco ou mal informados”, comparando-os aos flagelantes medievais. O cenário para falar de “alto da cátedra” fica assim construído, num estilo de condescendência que perpassa o resto do artigo.

Depois de encher a boca sobre os horrores da escravatura (como se o debate fosse esse), João Pedro Marques afiança-nos que foram esses mesmos horrores que levaram as “nações ocidentais” a “estigmatizar e proibir” a escravatura, a partir do final do século XVIII. Devem ter sido iluminados por algo (o trocadilho é propositado). Ou seja, se a escravatura acabou foi graças aos brancos. Os negros continuam a ser as personagens passivas da história: primeiro, vítimas da violência dos brancos, depois, libertados por estes. A permanente resistência e revoltas de escravos, que acompanharam toda a história da escravatura, não entram na equação do fim da escravatura. A independência “negra” do Haiti, força-motriz da abolição da escravatura no império francês no final do século XVIII, a que o autor estará a aludir, e subsequente movimento anti-escravista americano são ignorados. João Pedro Marques é, aliás, para usar os seus termos, famoso internacionalmente por defender a irrelevância, senão mesmo o efeito negativo das revoltas de escravos no abolicionismo (ver “The American Crucible: Slavery Emancipation and Humanism” de Robin Blackburn). Neste artigo, pelo contrário, recorrendo a Hollywood, somos lembrados que houve brancos que morreram na guerra civil americana, reduzida assim a um combate entre escravistas e anti-escravistas, e que houve marinheiros (brancos?) que morreram no policiamento marítimo anti-tráfico (a razão para países abolirem o tráfico, mas não abolirem a escravatura nas colónias, deve ficar para outro artigo).

Obviamente, quase sempre houve quem se horrorizasse com a escravatura e a tivesse combatido sem ser necessário ser escravo e/ou negro. Mas, o propósito do artigo é outro e é logo enunciado nos parágrafos seguintes. O trabalho forçado nas colónias é reconhecido pelo autor como tendo sido uma forma de exploração da mão-de-obra negra “retomada” após a escravatura, mas aparentemente "regulado" (!), e quem quiser ver continuidades entre uma coisa e outra está a “misturar” tudo. E aqui chegamos ao ponto: para João Pedro Marques, a escravatura deve ser separada não só do período histórico que se lhe seguiu, mas sobretudo do presente. As consequências do imperialismo ficam no passado e não têm tradução no presente, logo não há espaço para qualquer responsabilização perante o subdesenvolvimento e, muito menos, para desculpas. Quem diz subdesenvolvimento, diz racismo, assim desligado de quaisquer raízes históricas, passando a ser uma mera coincidência diacrónica.

Não sou historiador, não escrevi artigos ou livros sobre a escravatura e confesso que, de João Pedro Marques, só li os artigos no Público. Mas o que motivou este, já longo, desabafo, foi exactamente o interesse que o estudo da escravatura tem para se perceber as origens do capitalismo, as suas desigualdades e consequências no mundo em que vivemos. Este é hoje um tema que é objecto de uma nova literatura histórica, invocada por Joacine Moreira no seu último artigo, alvo do dedo corrector e condescendente de João Pedro Marques. Se Joacine Moreira, apoiando-se no fascinante “Empire of Cotton” de Sven Beckert e na obra de Marcus Rediker (que não li), aponta exactamente para como o capitalismo foi construído nas costas do colonialismo e da escravatura, João Pedro Marques treslê o argumento – pensa que diz respeito ao efeito "modernizador" do capitalismo no abolicionismo –, e lança o pretenso anátema sobre o argumento, apontando-o como anacrónico – invocando, presumo eu, a obra do historiador da Trinidad e Tobago, Eric Williams,“Capitalismo e Escravatura” de 1944 – e marxista (ui,ui!). Acusando os seus oponentes de ignorantes, João Pedro Marques prefere assim ignorar a chamada nova história do capitalismo.

João Pedro Marques recorda-me um episódio passado há dois anos na revista The Economist. Ao recensearem o que é talvez o melhor livro sobre a relação entre capitalismo e escravatura desta nova geração, "The Half Has Never been Told", de Edward Baptist (quem se interessa por mercados financeiros tem aqui um testemunho histórico brilhante sobre titularização financeira de escravos e fluxos internacionais de capitais), o autor da recensão queixava-se que neste livro sobre escravatura “os negros eram quase todos vítimas e os brancos quase todos vilões”. Depois, do escândalo causado, a revista retirou a recensão e publicou uma nova, pedindo desculpas e deixando a primeira versão no seu sítio para memória futura. Já de João Pedro Marques, ao abrigo do entendimento partilhado em Portugal sobre o imperialismo português como “descobrimentos” e do mantra do “não somos racistas”, não poderemos esperar a mesma atitude.

38 comentários:

  1. O Senhor João Pedro Marques é uma desgraça de desonestidade intelectual. Eu, ao contrário do feliz autor do "post" (a quem deixo a minha saudação pelo tão inteligente quanto oportuno artigo) já passei o calvário de ler, de fio a pavio, uma obrazita do excelso académico. Não defraudou: o eminente estudioso sofre de eurocentrismo em estado terminal e tudo o que significou um avanço para o Mundo foi, segundo ele, "made in Europe". Como seria de esperar, não nos explica o rigoroso homem de saber como foi essa coisa de os europeus retrocederem (vem tudo no Zurara...) para depois, por sua voluntária e generosa iniciativa, "avançarem"...
    Quanto a "avanços", basta ler o título de um livro de José Capela - "O tráfico de escravos nos portos de Moçambique 1717-1904"- para aquilatarmos da vontade e da celeridade de tais "avanços".
    Para entender o valor aportado ao recente (em termos históricos) desenvolvimento económico nacional, melhor seria ao Sr. João Pedro Marques ler, com cuidado e espírito aberto, outro livro do falecido José Capela - "Conde de Ferreira & C.ª" - para melhor perceber que os vastos cabedais conseguidos no tráfico negreiro (já então ilegal) foram vastamente aplicados pelos "brasileiros" de torna viagem no financiamento do Movimento Liberal e no arranque económico da Regeneração. Como agradecido reconhecimento pelo dinheiro de sangue investido, foi essa gentalha largamente agraciada com títulos de Conde, de Barão e de Visconde pela Coroa portuguesa.
    Para concluir, anda, de facto, o Sr. João Pedro Marques a ver produções hollywoodescas em demasia, e bem podemos nós afirmar que é ele, nessa sua crença abolicionista do Norte versus Sul, mais papista que o Papa: desse-se ele ao trabalho de folhear "Empire off Cotton", de Sven Beckert, e confirmaria a existência de uma quantas radicais dissidências intelectuais além-atlânticas em relação às suas robustas e facilmente verificáveis convicções... Mas, tendo nós a palavra de Deus de um João Pedro Marques, por que cargas de água havemos nós de compulsar as obras de gente tão pouco relevante como um José Capela ou uma Maria do Rosário Pimentel (cá dentro), como um René Pelissier ou um Charles R. Boxer (lá fora)?

    ResponderEliminar
  2. O autor não trata do caso português na sua origem.
    O D.Afonso Henriques ter passado o Mondego foi o início de uma saga que não há flagelação que nos possa libertar de tamanha vergonha.
    Começamos com os árabes e berberes (que quando nos apanhavam nos escravizavam se não lhes pagássemos grossos resgates).
    O caso agravou-se de modo extremo quando encontramos uns negros que nos vendiam uns pretos que eles achavam só servirem para escravos.
    A partir daí as coisas só podiam ir a pior quando encontramos aqueles plácidos índios amazónicos a quem convencemos a, em vez de comerem os inimigos, a no-los venderem para escravos.

    A convivência com esses capitalistas selvagens fez-nos muito mal.
    Tão bons que nós eramos, e assim nos pervertemos irremediavelmente...flagelemo-nos...

    ResponderEliminar
  3. Muito bom e atento post

    ResponderEliminar
  4. Faz um mau serviço ao blog quem aqui repete argumentos sem uma análise crítica à sua verdade. Conheço bem a mania que a academia americana tem de falar de "agência", não basta escrever essa palavra para demonstrar que existiu. No caso da abolição da escravatura a evidência histórica é de que não existiu de forma eficaz, nem da parte de escraavos nem, diga-se, da parte de fornecedores africanos.Houveram resistências (correspondência do reino do congo, onde há preocupação com a perda de população...) ao desenvolvimento inicial do tráfico negreiro, não houveram resistências depois de instituído como grande actividade económica, portanto no período aqui discutido.
    E revoltas de escravos sempre existiram sem que colocassem em causa a escravatura. Nunca os próprios escravos tomaram como agenda a transformação social, até essa ser colocada na ordem do dia por outros eventos fora da sua "agência".Assim foi com o Haiti onde a grande revolta com essa agenda aconteceu depois da proclamação da liberdade universal da humanidade em Paris, e após essa primeira ordem de libertação ser renegada.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Quando se procuram sempre no mesmo tipo de "documentos" e nos mesmos arquivos e com os mesmos olhos (que na verdade não poderiam ser outros) é natural que não se encontre a tal "agency". É preciso alargar o conceito de "documento" a outras materialidades e objectos. Caso, contrário a história, enquanto disciplina, torna-se irrelevante, porque mito maior da civilização ocidental já nós sabemos que ela é.

      Eliminar
  5. Do referido académico não me parece que venha nada de interesse. É deixá-lo a falar sozinho.
    Que nos cabe um mea-culpa como descendentes dos principais negreiros mundiais, nós sabemos que sim.

    Daí a colocar o «branco» como o inovador por trás do esclavagismo, é ridículo. Há milénios que o «branco» escraviza o «branco»; os árabes faziam disso modo de vida; e os primeiros escravos negros eram vendidos por negros.

    O que há aqui a reter é que a escravatura é uma mancha na História HUMANA! Porque branco, negro ou assim-assim, somos todos iguais. Não é a cor que faz a diferença, é o poder relativo dos indivíduos.

    Mais: considero racista aquele que insinue que os brancos têm mais culpas no cartório da escravatura do que qualquer outra «raça».

    ResponderEliminar
  6. Faz um mau serviço aos comentários do blog quem aqui - como o distintíssimo anónimo anterior - coloca a luta pela dignidade humana unicamente enquadrada dentro da mundividência eurocêntrica. Tal posicionamento é, na melhor das hipóteses, vesgo na sua mal escondida noção de superioridade ocidental, sendo que, na pior das hipóteses, é ela total e radicalmente racista ao continuar a conceber o africano como uma espécie de "nulla res" política.
    Para a luta pela dignidade da liberdade dos escravos negros africanos valer alguma coisa que teriam eles que fazer? Constituir-se em fação política devidamente reconhecida em cartório notarial e com privilégio real? A luta pela liberdade do africano só seria luta a sério se feita dentro das normas e com a língua do opressor esclavagista?
    Fala o senhor anónimo do caráter subsidiário da independência haitiana em relação à Declaração dos Direitos do Homem. Espantoso! Devemos nós então definitivamente marcar a génese da vontade de liberdade dos escravos negros pela data de um acontecimento exclusivamente branco e ocidental? Só a partir daí, e nunca antes, deu aos escravos a veneta de serem livres... porque o senhor patrão deixou.
    Falando da terra de Toussaint Louverture, quer o caríssimo anónimo ter a gentileza de nos explicar onde fica o voluntário generoso espírito abolicionista ocidental ao sabermos nós que o bom do Napoleão Bonaparte reintroduziu a escravatura em França e nas suas colónias, tentando, a todo o transe, reconduzir ao redil do esclavagismo os independentistas haitianos, e que um outro marco dos Direitos do Homem, os Estados Unidos, tiveram em Jefferson (um iluminado senhor de escravos, diga-se) um figadal inimigo da República Haitiana? Devemos então concluir que o negro avança quando o branco manda avançar e recua logo que o branco assim o deseja?
    Gostaria de ter palavras mais simpáticas para com o prezado anónimo, mas tal é impossível. Só o posso acamaradar com o senhor João Pedro Marques: ambos por demais demonstram afinidades eletivas e cegueiras convenientes. Ambos nunca ouviram falar do Quilombo de Palmares ou das comunas de escravos revoltados do interior de S. Tomé; a ambos nunca lhes chegou aos ouvidos a constante resistência dos escravos ao seu cativeiro; a ambos jamais chegou o conhecimento de que, em todo o lado, os senhores de escravos, armados até aos dentes, viviam no permanente pavor de serem mortos por aqueles que oprimiam (o que amiúde aconteceu).
    Quanto à academia americana, não deixa de ser cómico ler um português - cidadão de um país com uma produção académica miserável - a tecer doutas e altaneiras considerações acerca da diminuta e muito enviesada produção analítica estado-unidense sobre o assunto da escravatura e a despachar a sua imensíssima pequenez com um magistral e sapientíssimo piparote... Pura e simplesmente hilariante.

    ResponderEliminar
  7. Herr José já deu hoje banhinho ao lobo-de-Alsácia?... Não? Então aproveite, que o tempo está fresco e sempre nos faz poupar no ambientador...

    ResponderEliminar
  8. Olhe, meu caro Filipe Martins, foi isso mesmo que o branco (e o pioneiríssimo branco foi o branco português)foi: um inovador em termos de esclavagismo. Sabe o senhor porquê? Eu digo-lhe: foi ele o criador de um massivo empreendimento transatlântico que constituiu o tiro de arranque e o sólido alicerce de sustentação do capitalismo global.
    Acresce que distribuir o mal pelas aldeias e alijar os crimes próprios com a evidência das faltas alheias é, perdoe-me a franqueza, o fácil e saloio artifício dos videirinhos ou dos ignorantes. A escravatura foi uma realidade em diversas latitudes e entre diversos povos? Sendo inquestionável, tal afirmação nada nos diz acerca daquilo que é relevantíssimo no separar das águas, na aferição de culpas históricas e no sopesar do alcance, da gravidade e da permanência de distintas infâmias passadas. Essas conclusões pedem-nos outros conhecimentos: qual foi a natureza dessas formas de servitude/escravatura?; quais foram os alcances geográficos desses fenómenos?; a natureza desses fenómenos era de base política e refletia-se quase unicamente na hierarquização social (não estática, aliás) ou era essa natureza de rígida e intransponível raiz económica e de exploração intensiva capitalista?
    Quanto a factos facilmente verificáveis, esses estão aí e não precisam de especulações académicas de maior: os portugueses foram os primeiros negreiros da Idade moderna e os últimos a largarem o "nefando tráfico"; a escravatura foi abolida em todos os territórios sobre soberania portuguesa na precoce data de 1878; bem entrado o Século XX, havia escravos nas colónia africanas portugueses (este que estas linhas escreve é bisneto de escravos negros na Angola da viragem do Século XIX para o Século XX).
    Razão tem o bom do René Pélissier quando afirma que os Portugueses são bons é a passar pelos pingos da chuva das responsabilidades históricas... Tanto assim é que insistem em chamar o Imperialismo armado de "Descobrimentos" e o prolongado e generalizado tráfico negreiro de "Diálogo de Civilizações".

    ResponderEliminar
  9. Percebe-se que herr jose tenha ficado borradinho de medo quando as praças coloniais cairam.

    Com o racismo crepusculoar que emana hoje, o que seria aqui há 40 anos?

    Agora até tenta enxotar a responsabilidade do esclavagismo para os negros e para os índios.

    Quanto ao seu apelo sobre o " flagelemo-nos". Se o racista nao se importa, isso é uma coisa que só a ele lhe diz respeito. Cenas desse tipo são do seu foro intimo.

    ResponderEliminar
  10. Tirou-se o luso civilizador da sua descansada e abastadíssima vida e, rumando além-Atlântico, deu os costados à sofridíssima tarefa de civilizar o cafre e o tupinambá...
    Logo se fez claro ao portuguesinho o enorme desperdício que era haver servidão em África... Vai daí, e muito "empreendedoristicamente" (a esperteza sempre foi o nosso forte...), alargámos o escopo da coisa e vai de expedir milhões de negros para as Américas, fazendo-os gozar as delícias do tratamento estilo SPA em alegres engenhos de açúcar ou no prazeroso trabalho da mineração. E tudo isso unicamente pelo amor da... civilização.
    Também não passou despercebido aos nobres descendente dos Afonsos o desagradável e economicamente inconsequente ato brasílico de comer o próximo: qual a razão de tal desperdício se devoradores e devorados podiam ser elevados civilizacionalmente ao trabalharem até à morte para os seus filantropos senhores brancos?
    Não se tomou de cuidados o bom do Bispo Sardinha - pensaria ele, precursor de certa hodierna inteligência nacional, que os escravizados são geneticamente mansos? - e acabou, bem de acordo com o seu apelido, cozinhado e comido. Lá está: a lusa ação civilizadora tinha, por mais esforçada que fosse e como tudo nesta vida, as suas pontuais falhas...
    Bem vistas as coisas, é de enorme e injustificável injustiça as populações ameríndias e negras não terem ainda erigido laudatório e agradecido monumento às benfeitorias que lhes fizeram as lusas gentes de antanho. Desagradecidos!...

    ResponderEliminar
  11. "Racista" Herr José, caro Anónimo? Não seja injusto... O que Herr José é é um humanista: ele ama e louva cada ser humano como um seu igual. O problema é que o imensamente abrangente amor de Herr José não é, desgraçadamente, correspondido: há pouquíssima gente que veja em Herr José um seu igual. Vive, por conseguinte, Herr José num vazio afetivo que me faz partir o coração. Tenho imensa pena daqueles que se vêm, como o nosso estimadíssimo Herr José se vê, obrigados à clausura de um muitíssimo insatisfatório onanismo filantrópico.

    ResponderEliminar
  12. A imensa ironia de alguns comentários aí em cima expressos não escondem o seu precioso rigor.

    Ainda bem que há posts e comentários assim.

    ResponderEliminar
  13. Caro anónimo das 16:14,
    Quer na verdade convencer-me de que a escravatura «capitalista» é um fenómeno à parte, muito mais grave do que -- por exemplo -- a tribo que guerreia a tribo vizinha, para vender os «despojos» aos negreiros europeus?

    Se assim é, lamento mas fica a falar sozinho.

    Será que a internacionalização da escravatura (chamemos-lhe assim) não aconteceu pela mão dos portugueses, apenas porque chegamos no momento em que o conhecimento e a tecnologia permitiram fazê-lo?

    Mais: acha que o esclavagismo está no ADN luso? Sim ou não?
    Se sim, não sabe o que diz; se não está, isso implica que qualquer povo, de qualquer etnia ou continente, teria feito o que os nós fizemos, se partilhassem as mesmas circunstâncias e contexto histórico-cultural.

    Quanto a responsabilidades históricas, não há nenhum português vivo envolvido no tráfico de escravos. E se quiser assacar aos portugueses, essa entidade conceptual, então, meu caro, de origem africana ou não, a vergonha também lhe cabe a si.

    Outra coisa é achar normal que se cantem hossanas aos descobrimentos omitindo as partes avessas aos consumo. Não acho! Acho que temos que ter orgulho das glórias e vergonha pelos crimes. Sem memória não há progresso.

    ResponderEliminar
  14. Caro Filipe Martins, devo, desde já, anotar o seu irritado tom. Não que não seja de seu direito responder como entende aos reparos que aqui lhe fazem, mas há de convir que os termos como e em que responde a comentários alheios são um indicador de certas cordas sensíveis em que os observações de terceiros lhe tocam...
    Vamos ao substantivo: não há meio de o senhor entender que o sistema capitalista em que todos vivemos é o produto final desse tráfico negreiro iniciado pelos portugueses, pois não? Também não há meio de o senhor entender que o sistema de servidão existente em certas ("certas" quer aqui dizer "limitadas") tribos africanas nada tinha a ver com o vasto sistema de exportação negreira que os europeus (sendo os portugueses os primeiros de entre eles) montaram, pois não? Se não, só tem o senhor um remédio: leia e estude, pois tudo isso são FACTOS HISTÓRICOS facilmente comprováveis.
    Quanto a não haver um único português vivo que tenha participado no tráfico negreiro e isso, pelos vistos, e segundo o seu sólido parecer, obnubilar realidades históricas passadas, alarguemos o âmbito do seu tão precioso quanto rigoroso raciocínio: não há um único belga vivo que tenha participado no genocídio do povo congolês; não há um único turco vivo que tenha sujado as mãos no sangue do Genocídio Arménio; não tarda nada que não haja um único alemão vivo que tenha participado no Holocausto... Como tal, podem Belgas, Turcos e Alemães fazer-se de sonsos, como Vossa Excelência se faz, e afirmar que genocídios e massacres são coisas que nunca lhes disseram respeito como povo e entidades históricas, não é verdade? Acresce que, no campeonato do passa-culpas, serão os indisputados campeões os loiríssimos alemães, pois no sangrento desporto do massacre de judeus não houve povo europeu que não tivesse molhado a sopa, incluindo - veja-se lá - os portugueses... Tivessem os Soviéticos fuzilado do primeiro ao último todo e qualquer nazi e, passados seis meses do final da Segunda Guerra Mundial, poderiam os bons dos alemães dizer que nada tiveram a ver com os horrores do Terceiro Reich... Espantoso!
    Não deixa de ser de uma candura comovente essa sua convicção de que os portugueses, os nossos antepassados, só se dedicaram ao tráfico negreiro e o internacionalizaram porque a África chegaram numa altura em que a tecnologia o permitia. A sério? E quando chegaram às Canárias e escravizaram, a meias com os espanhóis, os Guanches - levando-os à extinção - já estava a tecnologia suficientemente avançada e o momento era, também ele, o certo? E, já agora, permitindo a tecnologia nuclear a Russos e Estado-Unidenses extinguir a vida na Terra, será que seguirão eles a sua teoria das inevitabilidades e incinerarão brevemente a orbe terrestre?
    Devo dizer que acho de uma baixeza intelectual sem par o videirinho contorcionismo que o senhor faz: abespinhando-se com a atribuição de responsabilidades coletivas - Não toquem nas pratas da família! - chama o senhor à colação a minha ascendência africana (que, aliás, põe em causa, vá-se lá saber se pensando - com base em quê? - que sou algum trafulha da internet) para me incluir na suposta culpa de TODOS os africanos no... tráfico negreiro.

    ResponderEliminar
  15. (Continuação)
    Tem o senhor orgulho de certas partes dos "Descobrimentos" e vergonha de outras? Pois seria desejável que revisse os motivos do seu orgulho e da sua vergonha (e mais aquele alvo da sua desajeitada desculpa), pois o que lhe enche o peito de lusitano orgulho raramente assentou os seus primevos alicerces em coisa outra que não o saque e o homicídio em massa.
    Está a pulsão escravocrata inscrita no ADN luso? Deixando de lado a incrível desonestidade intelectual da sua questão (onde leu o senhor essa minha suposta convicção?), respondamos a ela da única forma óbvia que passará pela cabeça do mais néscio mortal: faz ela tão parte do ADN luso como parte do ADN alemão fará o desejo de incinerar judeus... Tem o senhor visto, ultimamente, muitos alemães dedicados a tal tarefa? Feita tal (desnecessária) constatação, o acrobático pulo até ao território do conveniente esquecimento e da videirinha culpa partilhada entre algoz e vítima é seu, não meu.
    Por fim: "Sem memória não há progresso"? Concordo plenamente e seria até mais rigoroso: com memória seletiva e parcialíssima, com memória que se pretende memória própria e, ao mesmo tempo, se insinua como memória alheia, o que há é o presente e o futuro perdurar da ignorante ofensa a toda uma imensa etnia e ao seu continente. São as suas anteriores palavras o exemplo acabado disso mesmo.
    Passe o Sr. Filipe Martins muitíssimo bem, são os meus mais sinceros desejos.

    PS - Não encontrando o Sr. Filipe Martins um único português vivo que tenha traficado escravos, se devidamente indagar, alguns encontrará muitíssimo bem de saúde que ainda massiva e longamente traficaram "contratados". Seria o momento (anos 40, 50 e 60 do Século XX) e a tecnologia de então (o motor diesel) a imporem o desagradável mas incontornável mester a essas angelicais criaturas?

    ResponderEliminar
  16. Fica a falar sozinho?

    Mas porque motivo fica a falar sozinho? Só porque F.Martins não concebe que os seus pensamentos não sejam partilhados por todos os demais, excepto ,claro , pelo anónimo em causa?

    ResponderEliminar
  17. De facto a escravatura dita "capitalista" foi muito mais grave do que a praticada pela "tribo vizinha"

    Se F. Martins ignora a desproporção gigantesca entre os dois exemplos,ignora o básico. Mas isto não condicionará qualquer ameaça a que fique a falar sozinho.

    Porque esta frase do anónimo em questão é simplesmente indesmentívelk:
    "Foi ele ( o branco) o criador de um massivo empreendimento transatlântico que constituiu o tiro de arranque e o sólido alicerce de sustentação do capitalismo global".

    Tal como os genocídios ( e aqui não estou a falar na escravatura) não podem ser comparados a homicídios. E a moldura penal distingue ambas as situações

    ResponderEliminar
  18. Mas os argumentos aduzidos no texto do anónimo em causa vão muito mais longe que o mero aspecto quantitativo.

    O seu autor tem a preocupação de esmiuçar um pouco mais a dinâmica dos processos. Como parece que F Martins estava distraído ou se calhar não conseguiu perceber que a conversa exigia mais rigor, aqui se transcreve um pouco mais:

    "A escravatura foi uma realidade em diversas latitudes e entre diversos povos? Sendo inquestionável, tal afirmação nada nos diz acerca daquilo que é relevantíssimo no separar das águas, na aferição de culpas históricas e no sopesar do alcance, da gravidade e da permanência de distintas infâmias passadas. Essas conclusões pedem-nos outros conhecimentos: qual foi a natureza dessas formas de servitude/escravatura?; quais foram os alcances geográficos desses fenómenos?; a natureza desses fenómenos era de base política e refletia-se quase unicamente na hierarquização social (não estática, aliás) ou era essa natureza de rígida e intransponível raiz económica e de exploração intensiva capitalista?"

    A conversa vai muito para lá das patetices sobre o ADN, não acha?

    ResponderEliminar
  19. O que está em discussão não são propriamente as condições tecnológicas e de conhecimento que permitiram aquela realidade.

    O que se debate são factos históricos que tiveram grandes repercussões no passado e cujas consequências continuam a repercutir-se no presente.

    Um exemplo ( provavelmente mau exemplo pelo seu extremo, mas de qualquer forma exemplo) é o caso do Zyklon B utilizado pelos nazis nas câmaras de gás. O avanço tecnológico e de conhecimento deram origem a tal "produto" mas tal não retira um grama de gravidade aos factos em si.Antes o gás usado era o monóxido de carbono, do escape de carros movidos a gasolina, caminhões ou tanques do exército.

    Ortega y Gasset disse que "O homem é o homem e a sua circunstância" . Não é possível considerar o ser humano como sujeito activo sem levar em conta simultaneamente tudo o que o circunda, a começar pelo próprio corpo e chegando até ao contexto histórico em que se insere. Mas é o próprio Ortega Y Gasset que diz que a história não acaba aqui. Há que tomar consciência da sua circunstância, relacionar-se com ela e superá-la.

    ResponderEliminar
  20. E Nuno Teles explicita muito bem um dos pilares do debate.

    Usando com alguma liberdade as palavras do próprio:

    A escravatura NÃO deve ser separada não só do período histórico que se lhe seguiu, mas sobretudo do presente. As consequências do imperialismo NÃO ficam no passado e têm tradução óbvia no presente, logo há espaço para responsabilização perante o subdesenvolvimento e,ainda mais, para desculpas. Quem diz subdesenvolvimento, diz racismo, obrigatoriamente ligado às suas raízes históricas. E não,de todo não se trata duma mera coincidência diacrónica.

    ResponderEliminar
  21. Não vale a pena perder muito tempo com a questão do ADN.

    Compartilhamos quase metade do mesmo ADN de uma banana. As extrapolações sobre este facto seriam com toda a certeza apaixonantes mas não é aqui o momento para tais "divertimentos"

    O ADN de um Passos Coelho está muitíssimo mais próximo do ADN de qualquer ser decente do que o tal ser decente provavelmente desejaria

    É inútil ir buscar ao ADN dos alemães a génese do nazismo. Um pouco mais e entramos no reino das teorias eugénicas e não há tempo nem espaço para debater tais disparates

    ResponderEliminar
  22. E só mais uma coisa, meu caríssimo Filipe Martins: volte a ler - uma e outra e mais outra vez e quantas vezes necessárias forem - aquilo que eu anteriormente aqui escrevi, está bem? Depois de ter entendido o que lá está, a gente volta a trocar umas impressões...

    ResponderEliminar
  23. Partir do disparate do ADN para as conclusões do F. Martins é todavia ir longe de mais. No próprio disparate em si. Mas não só.

    A facilidade como se fazem afirmações deste teor: "Isso implica que qualquer povo, de qualquer etnia ou continente, teria feito o que os nós fizemos, se partilhassem as mesmas circunstâncias e contexto histórico-cultural" é simplesmente estonteante.

    Já muito foi aqui dito que deita por terra tal disparate. Mais uma vez um exemplo extremo. O compartilhar o ADN de um qualquer sujeito com o ADN dos nazis torna-lo-iam, a esse sujeito, num potencial Hitler se o sujeito partilhasse as "mesmas circunstâncias e contexto histórico-cultural"

    Um disparate pegado que revela contudo uma tendência que se repudia de caras. Não se aborda a História como uma historieta do que poderia ter sido mas como de facto foi.

    E quanto a isso, não há nem ADNs nem avanços tecnológicos ou de conhecimento que mascarem dados objectivos e concretos.

    Alguns já aqui referidos. É voltar a ler a excelente prosa de Nuno Teles ( também eu o felicito pela qualidade, rigor e oportunidade do texto) , como de alguns comentários.

    ResponderEliminar
  24. Uma última nota para referir que aqui não se discutem propriamente "vergonhas" próprias ou alheias. Se ainda se está neste nível de discussão, batatas.

    O que parece todavia acertada ( e agora reforçada) é a afirmação segundo a qual "o bom do René Pélissier tem razão, quando afirma que os Portugueses são bons é a passar pelos pingos da chuva das responsabilidades históricas..."

    ResponderEliminar
  25. Nas questões de ADN deve ter-se em conta que nesse tempo não havia fundos europeus nem empréstimos suportados por alheias credibilidades.

    ResponderEliminar
  26. "Nas questões do ADN deve ter-se em conta..."

    Ou a mediocridade espantosa de alguém que se contorce todo desta forma só para fugir ao que se debate e deixar a comprovada marca de "homem de negócios", neoliberal e desesperado.

    Esta coisa foi parida antes ou depois do se ter flagelado?

    ResponderEliminar
  27. Os fundos europeus saqueados pelos muito grandes e grandes patrões?
    Já confirmado até por um que foi pago pelos ditos fundos como "perito"?

    ResponderEliminar
  28. Não se preocupem: Herr José fará, muito brevemente, o obséquio de nos facultar a chave do seu personalíssimo código para que todos nós possamos entender que raio significa a atoarda com que tão amavelmente nos brindou.
    Herr José não ouve a sua horita diária do "Deutschland Uber Alles", sobrevem-lhe a crise de abstinência e... é este o resultado...

    ResponderEliminar
  29. Tudo o que atrás afirmei não passaria de apontamentos perfeitamente irrelevantes não se desse o caso de ser na constante mitificação deturpadora do passado que assenta a perpetuação dos crimes do presente e a preparação dos crimes do futuro.
    Com efeito, aos canhões e aos mosquetes "civilizadores" de antanho sucedem-se hoje os "democratizadores" mísseis de cruzeiro e as "libertadoras" bombas de avião. Deixada cair a pretensão "civilizadora" do Ocidente, a ela se sucedeu o bem achado conceito neocolonialista da "intervenção humanitária", conceito esse bem mais consequentemente manejável e diretamente apelativo às instantâneas e epidérmicas boas consciências de uma ocidental opinião pública completa e radicalmente alienada.
    Bem sei que não devemos cair na néscia armadilha de considerar os ciclos históricos como algo de circularmente recorrente, mas não deixam de ser inquietantes os pontos de contato entre o primeiro ciclo capitalista ocidental e o seu último resultado que é a teimosa e desesperada agonia do domínio económico do Ocidente que hoje se desenrola. Ontem como hoje, o capitalismo armado (mais uma vez assente na vigorosa "iniciativa privada" de uns quantos bilionários e das suas respetivas multinacionais que, desta feita, previamente efetuaram uma OPA sobre a classe política das respetivas nações) assenhoreia-se de territórios e de povos, de riquezas e de recursos, dando-lhes em troca, a esses povos, para além da morte, da fome e do subdesenvolvimento, uma imagem emoldurada da caricatura grosseira de si mesmos. Ontem como hoje, o que nasce além-mar raramente fica a esse além-mar circunscrito e, mais cedo do que tarde, à casa paterna torna com a sua carga de violência e de homicídio. E é isso mesmo que vai (já está a) acontecer quando o atual ciclo de capitalismo de guerra falhar miseravelmente: o Ocidente transformar-se-á numa periferia de "tribos" em constante litígio, esperando nós que esse litígio não seja, como amiúde foi no passado, um litígio armado.
    Chegamos nós, então, àquilo que é verdadeiramente relevante em toda questão: o honesto e desmistificador encarar do passado é uma inteligente postura de preservação das mais que desejáveis justiça e paz futuras. Justiça e paz essas para todos e em todos os lugares, entenda-se.

    ResponderEliminar
  30. Às 16:08 temos mais uma tirada que ou é Cuco ou uma sua sequela.

    À esquerdalhice o mundo aparece regido por memórias confusas actuando numa realidade indefinida; mas tudo termina com mantras inquestionáveis e salmos do tipo 'Justiça e Paz para todos em todos os lugares'.

    Negam que seja uma religião. Só sobra que seja uma idiotia!

    ResponderEliminar
  31. Um excelente, oportuno e precioso comentário final de um anónimo aí pelas 16 e 08.

    Apontando de forma exemplar o que é de facto verdadeiramente relevante em toda esta questão.

    Sabedorias várias. Tal como as árvores de mil anos

    ResponderEliminar
  32. Ó caríssimo Herr José, esse seu epíteto de "cuco" não se aplicará com maior propriedade a uma sua muito querida passarada de arribação que, pondo o seu parasita ovinho no ninho do Estado, se gaba, alto e bom som, de ser a maior produtora de "riqueza nacional"? Dessas "cuquices" não se lamenta o senhor, não é verdade?
    Caro anónimo das 03:43, agradeço imensamente as suas tão generosas quanto por mim imerecidas palavras. As minhas mais fraternais saudações para si aqui ficam com a mais sincera convicção de que cabe aos que hoje vivem, sejam eles os descendentes dos escravos ou dos senhores de antanho, construírem um futuro mais igual e mais justo.

    ResponderEliminar
  33. Caro anónimo, parece que me interpretou preguiçosamente mal em vários pontos. Começou por querer ler uma suposta irritação de minha parte. Parece-me que a sua fixação da «videirinha» demonstra exactamente o contrário.

    Por pontos então.

    1. Quando falei nas suas responsabilidades históricas, não foi por o caro anónimo se assumir como descendente africano -- foi pela sua condição de português! Quer descenda de africanos, chineses, ou do próprio Viriato, as «responsabilidades históricas» são para todos os tugas! É reveladora a sua má-interpretação.

    2. Obviamente que não condeno os alemães pelo nazismo. A prova é que ele nasceu lá mas teve simpatizantes no mundo todo. O que fez diferença foi o poderio tecnológico da Alemanha da altura.

    3. No que toca a genocídios, podemos falar dos loirinhos alemães, mas não esqueçamos simpáticos os ruandeses, que despacharam entre 500000 a 1 milão em poucos meses, com bem menos sofisticação, mas com brio incomparável.

    4. Os portugueses foram os principais negreiros; e quem foram os outros? Holandeses e ingleses, que são curiosamente a segunda e terceira nações a sair para o além-mar. Coincidência?

    5. Não falei em sistemas de servidão entre tribos (na Europa também tivemos o sistema feudal). Falei em venda de escravos de tribos vizinhas, que eram capturados nas batalhas entre elas ou capturados para serem vendidos aos negreiros.
    Até à iniciativa empresarial de ir à fonte, era assim que o «fornecimento» de escravos.

    6. Não me venha, nem você nem a sua claque, chamar-me de neoliberal. Vocês não me conhecem de lado nenhum.

    7. Considero racista a sua posição. Eu creio na igualdade entre todos os homens -- não aquela igualdade que fica sempre bem dizer, mas na igualdade real, efectiva.
    Quero com isto dizer que os crimes dos alemães, portugueses, franceses, americanos, árabes, ruandeses, etc, são os crimes do Homem. Quem achar que esta ou aquela nação (que é um conceito recente!) é genocida porque é a nação que é, é racista. Mais polido, mas partilhando os mesmos princípios filosóficos de qualquer pregador do ódio: eles contra nós. Não há eles nem nós, só há nós!

    ResponderEliminar
  34. E como eu o compreendo, Herr José, como eu o compreendo... Um Mundo em que houvesse justiça e paz para todos e em todos os sítios seria o seu maior pesadelo, porquanto aqueles a quem Vossa Excelência quotidianamente incensa há muito teriam desaparecido. Entre outras coisas, é isso que nos separa: os seus ídolos prosperam na ignomínia da injustiça e no negócio abjeto da guerra, acabando, geralmente, milionários; as minhas referências sempre souberam que há um bem maior - a dignidade humana -, bem esse que só é total e radicalmente respeitado quando há justiça e paz. Escusado será dizer que esses meus profetas nunca tiveram ações na Bolsa e acabaram invariavelmente assassinados.

    ResponderEliminar
  35. Olhe, meu caro Filipe Martins, eu nem me vou dar ao trabalho de refutar o seu arrazoado, porquanto ele se refuta a si mesmo na sua imensa circular vacuidade.
    Acresce que, do assunto em causa, percebe o senhor - já o demonstrou à saciedade - nada, como facilmente os frequentadores aqui dos "Ladrões" poderão verificar ao compulsarem os seus passados comentários, todos eles construídos sobre os lugares comuns de uma suposta histórica excecionalidade lusa que, como toda a gente sabe, teve bem conhecidos pais ideológicos.
    É, no entanto, de salientar que é Vossa Excelência que se dá ao trabalho de justificar obnóxias opiniões anteriores, cometendo essa sua novel justificação a proeza de parir do seu seio mais uma mão cheia de inanidades ainda mais obnóxias que as preteritamente proferidas.
    Finalizo trazendo à colação o célebre dito do grande Mark Twain ( homem bem maior do que um sibilino bufo de nome Blair) segundo o qual o grande problema não é aquilo que as pessoas não sabem, mas sim aquilo que supostamente sabem. Daquilo que eu e o senhor não sabemos, protestamos saber ou realmente sabemos aquilatarão os circunstantes uma vez lidos os respetivos contributos aqui para o "Ladrões".
    Que passe Vossa Excelência muitíssimo bem são os meus mais sinceros desejos.

    PS - Eu, perdoar-me-á o reparo, não sou jogador de futebol para ter "claques". Quando muito posso eu ter algum benévolo e desatento frequentador do "Ladrões" que simpaticamente partilhe de algumas das chãs opiniões que aqui expus. O que, para quem era há pouco anatemizado de acabar a falar sozinho, não será dizer pouco...

    ResponderEliminar
  36. @Caro anónimo das 15:44,
    Fico muito contente por você estar tão satisfeito consigo mesmo.

    Mas estou convencido de que se você tivesse a humildade suficiente para ouvir -- ouvir realmente -- em vez de intervir segundo uma ideia pré-concebida do seu interlocutor, chegaríamos rapidamente à conclusão de que não há antagonismo nas nossas posições.

    Passe bem, sem anátemas nem «obnóxios» nem «videirinhas», e se adoptasse um nome mais inspirado do que «anónimo», poderíamos trocar impressões noutras ocasiões.

    ResponderEliminar
  37. Caro Filipe Martins, creio que o senhor não tem a plasticidade mental para entender que o seu luso-saloio revisionismo de vão de escada já encheu a paciência ao mais calmo dos seus interlocutores. A minha educada resposta anterior pretendeu ser um ponto final a uma conversa que não só se adivinhava levar a lugar algum (nunca o levará quando um dos interlocutores se arroga o direito de contruir definições muito idiossincráticas de fenómenos que rigorosa e muito difundida e aceite definição têm) como ter em si o potencial de descambar numa nada aconselhável troca de pouco elevadas e muitíssimo ácidas observações.
    Aqui chegados, e visto que me parece que o silêncio - quando esse silêncio se impõe de forma ensurdecedora - não é um dos seus fortes, deixemos as luvas de veludo de fora e vamos ao que interessa: que tipo de indigente mental compara o terrível massacre interétnico tribal ruandês ao prolongado, bem planeado, bem financiado e ainda melhor executado internacional e massivo
    genocídio nazi de Judeus, Eslavos e Ciganos? Que tipo de amiba contorcionista tem a distinta lata de me acusar de "racista", quando todo o seu anterior pesporrente chorrilho de asneiras mais não foi do que um branquear de um imenso crime racista com autores, objetivos e balizas temporais bastamente conhecidos? Como se atreve? Como se atreve o senhor a acusar-me de intelectual autismo quando os seus raciocínios (?!!!) mais se não revelam do que néscios e ocos articulados que autofagicamente se alimentam do seu próprio colossal vazio?
    "Ideia preconcebida do meu interlocutor"? A única ideia que eu tenho das ideias (das ideias, note-se) do interlocutor que é Vossa Excelência baseia-se, tão só, nas confusas e muito pouco informadas opiniões (?) que o senhor aqui tem deixado. A avaliativa anterioridade das minhas leituras dos seus preciosos escritos é, assim sendo, nenhuma, a menos que eu me chamasse Professor Karamba...
    E, para concluir, faça-me o obséquio de nunca, mas nunca, afirmar que não há antagonismo nas nossas posições. Esse é, para mim, o maior dos insultos que me poderá fazer. Insulto ainda maior que a acusação de "racismo" que anteriormente lhe saiu da incontinente e nada asseada pena e ao qual eu fiz ouvidos de mercador, para que não tivesse que responder da única maneira que se impõe a gente que filha de boa gente é: mandá-lo bardamerda mais ao seu luso-saloio revisionismo de vão de escada. Estamos nós, de uma vez por todas, entendidos, ou a coisa precisa de engrossar ainda mais?

    ResponderEliminar