sexta-feira, 31 de março de 2017

Argumentário de barricada - 1

Ontem foi divulgado o Relatório Global sobre os Salários da OIT.

O documento é bastante completo e desenvolve os efeitos dos baixos níveis e desiguais dos salários para o crescimento da economia e até para a dívida pública. 

E é bastante interessante como concretiza os efeitos macro daquelas realidades que todos conhecemos da nossa vida ou da vida conhecida dos outros. Casos concretos têm efeitos gerais na economia. Desigualdade salarial de género, de desigualdade salarial dentro da mesma empresa e desigualdades salariais entre empresas para o mesmo tipo de funções. E no final, ao arrepio do que se passa na Europa e se, grande espanto, os salários mais altos (daqueles dos CEO que vemos sempre na comunicação social, aumentaram com a crise.

Por isso, o relatório é um manancial de armas contra as propaladas realidades técnicas, ventiladas pelos opinadores de serviço que repetem em loop falsos sensos comuns e que se revelam, sim, como guardas de uma ideia só: a parte do Capital no PIB deve subir sem parar, mesmo que isso seja prejudicial aos seus negócios e aos portugueses.

Argumento nº 1
Sempre que ouvir na televisão que os salários devem subir unicamente ao ritmo da produtividade, diga duas coisas e conclua uma terceira:

1) Sim, acho muito bem, até porque, na Europa, o aumento dos salários tem ficado bem abaixo da evolução da produtividade (ver gráfico acima, na pag.15); E quando isso acontece, o peso dos salários no PIB desce. Ou seja, a parte dos trabalhadores no rendimento criado é cada vez menor. Algo que tem acontecido em Portugal (ver gráfico em baixo, pag.18). Aliás...


... começou a descer em 2000 (isto lembra-lhe alguma coisa?) e acentuou-se ainda mais desde 2003, 2007 e 2012 quando foi aprovada legislação laboral, supostamente para flexibilizar uma "rígida" legislação laboral... 

2) Não só acho muito bem que os salários cresçam com a produtividade, como até acho, aliás, que - por uma questão de igualdade - os lucros (e os salários mais elevados dos CEO, etc.) também deviam subir ao ritmo da produtividade.  Se isso acontecesse, os lucros não teriam aumentado tanto o seu peso no PIB e os salários não teriam perdido peso no PIB. Mas igualdade não é - claro está! - um argumento defensável em debates técnicos... 

Aqui, o entrevistador vai gaguejar.  mas perceberá que o argumento da igualdade é, em si, justo. Ou pelo menos de difícil a rebater.

E acabará por dizer algo como: "Mas isso não faz sentido: os lucros são o objectivo da actividade empresarial, para que se possa investir depois. Pode reduzir-se os salários para sermos competitivos, mas não se deve reduzir os lucros". Aqui, diga: "Isso quer dizer que se pode cortar nos salários indefinidamente? Até quanto? Quanto é que precisariam de descer para que os produtos fossem "competitivos"? Qual é o limite? Tem alguma ideia? Se os salários contam com 20% para a estrutura de custos, para ganhar uma margem de 5% do custo final, os salários teriam de reduzir-se 25%! É realista? Isso foi o que se fez e acabámos com uma emigração histórica, uma redução da base contributiva da Segurança Social, desemprego e aumento da pobreza laboral e envelhecimento populacional por incapacidade de rejuvenescer. Não é solução. Não acha?

O entrevistador não vai gostar de ser interpelado, É a sua deixa para a conclusão: 

3) A sua ideia baseia-se numa certa - e velha! - moralidade para justificar a desigualdade. É que o raio dos trabalhadores vivem apenas para consumir, "gastar em mulheres e copos", enquanto os empresários - que criam empresas que, sua vez, criam empregos, que, por sua vez, são pagos com salários cada vez mais desiguais - vivem apenas para poupar. As Cigarras e as Formigas. Os trabalhadores cantam; e os empresários poupam, embora à custa da desigualdade... Este é o nível básico de discussão técnica em Portugal!
 
O entrevistador vai concordar consigo!

7 comentários:

  1. Até há, pelos vistos, excelentes razões para aumentar salários, como incentivo ao investimento em tecnologia e em bens intangíveis por parte das empresas. A ganância de curto prazo a impedir o desenvolvimento do capitalismo no médio e longo prazo: https://medium.com/@ryanavent_93844/the-productivity-paradox-aaf05e5e4aad (passe embora o caráter algo confuso do texto). Eu, se fosse um anti-capitalista desejoso de ver chegar depressa a revolução, iria era desejar que a presente compressão salarial continuasse...

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  2. Um excelente post do João, que desmonta no próprio terreno do adversário, a sua "mitologia" neoliberal, desonesta, trapaceira, mentirosa e abjecta.

    Pena que a este texto se junte uma espécie de comentário de Jaime Santos que mostra essencialmente duas coisas:

    -a patetice que é enveredar por uma narrativa que contradiz a realidade nacional quotidiana, teórica e prática. Como se sabe quem defende o aumento dos salários e o fim desta "compressão salarial" são precisamente muitos dos anti-capitalistas citados com aquele desdém de classe sem classe nenhuma. É lembrar quem reivindica melhores condições laborais e a dignidade de quem trabalha. Quem defende os postos de trabalho e a melhoria das condições de vida das populações. E desafiar que se aponte quem defende o "quanto pior melhor" implícito em tão desonesta afirmação de Jaime Santos.

    - O algum desespero de JS por recorrer a "isto" como forma sabe-se lá de quê. Não abona nem em favor dele nem das ideias que defende. A opção por tal tipo de rasteirices tão rasteiras que não têm qualquer sustentabilidade, origina regra geral o tropeção do próprio que tenta assim rasteirar.

    Uma pena

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  3. Mas os tudologs ainda nao conseguiram explicar porque sera que nos paises de forte exploracao capitalista e onde se vive melhor no mundo. Sera que os amanhas que cantam sao so propaganda da mais mentirosa e reles.Ou existem exemplos de sucesso desconhecidos do mundo.

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  4. Da mais mentirosa e reles?

    Não. Essa deixa-se para o Haiti e para a Guiné Equatorial. Para a periferia do Capitalismo. Por cá estão preocupados e por isso ocupam os lugares sacrossantos dos média. E começam a portar-se como reles.

    Mentirosos já o são.

    E os cuidados medem -se também pelos comentários inquietos, de tudólogos aflitos a repetirem a cassete das hossanas da trampa desta UE a afundar

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  5. Eu diria que todo o país que usa crescentemente tecnologia sem a produzir dependerá crescentemente do capital.
    Quando a ‘geração mais bem preparada de sempre’ fizer o que faziam os parolos que a precederam – transformar técnicas em negócio – talvez vejamos aqueles crescimentos de de 10% que houve em tempos que o orçamento do Estado ia em 50% para a defesa.

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  6. Herr jose estará a fazer propaganda encapotada aos seus tempos áureos.
    Aos tempos em que se amesendava nos almoços da Legião. E que se assumia como verdadeiro colonialista a sugar o sangue e a alma das colónias.

    Herr jose está a fazer a propaganda do fascismo. Ao tempo em que a miséria crescia e em que a escolaridade era a fornecida por um regime iníquo e miserável, sob as patas de meia-dúzia de famílias, os donos de Portugal

    Herr jose está a fazer a propaganda venal dum país em guerra. Uma guerra colonial, com milhares de mortos, só para que as ditas famílias engordassem como batráquios, gordos e repelentes, estendidos ao sol e protegidos pelos crápulas da Pide.

    Herr jose tenta. Mas a sua propaganda ao fascismo e aos de pata estendida na saudação típica não passa. Quer apareça escondida atrás do "crescimento" de 10% (para os da sua classe de batráquios) ou escondida atrás do que quer que seja.

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  7. Quanto aos "negócios" que cita como cerne da sua visão do mundo e da vida...

    É o espelho de quem se baba em torno do lucro e nada mais do que o lucro. Sacrificando tudo e todos. Explorando os demais e saqueando as riquezas alheias. Justificando o desvio do produto do saque para os bordéis tributários . E que antes levantava a mão na saudação fascista e agora se saracoteia em alemão

    Um verdadeiro perito do patronato em serviço à bolsa dos patrões

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