sábado, 28 de janeiro de 2017
O passado é um país que fica do outro lado
A propósito das tendências ditas neo-proteccionistas, quero só deixar por aqui duas notas sobre história económica e das ideias económicas.
Em primeiro lugar, pode dizer-se que no chamado longo século XIX os EUA inventaram o proteccionismo como técnica bem-sucedida para a industrialização, através, entre outros, do relatório sobre as indústrias do seu primeiro Secretário do Tesouro, Alexander Hamilton: a indústria é a base material da independência nacional e não se desenvolve espontaneamente. A guerra civil nos EUA foi depois travada entre o Norte proteccionista e abolicionista e o Sul escravocrata e defensor do comércio livre, o que indica que a história não encaixa bem nas narrativas convencionais. A história do algodão de resto não engana. Os EUA foram fortemente proteccionistas em matéria comercial pelo menos até à primeira metade do século XX, ou seja, até que estiveram prontos para o proteccionismo dos que se sentem mais fortes, também conhecido por comércio livre.
Em segundo lugar, os anos trinta do século XX são usados e abusados pela sabedoria convencional. Um dos textos de Keynes, uma defesa da reconfiguração pós-liberal de um sistema socioeconómico que pretendia que fosse mais decente, de 1933, aponta para a necessidade de um maior grau de auto-suficiência nacional. Um texto já aqui várias vezes citado e oportunamente recuperado por Jacques Sapir. Quem tem segurança intelectual e política não cede a chantagens sobre eventuais companhias pontuais, porque sabe os fins que prossegue e sabe que à luz desses fins os ditos fluxos internacionais não são iguais (questão de natureza...). Neste contexto, vale a pena meditar nesta passagem:
“Simpatizo com aqueles que querem minimizar, em vez de maximizar, as interdependências económicas entre as nações. Ideias, conhecimento, ciência, hospitalidade, viagens – estas são as coisas que, pela sua natureza, devem ser internacionais. Mas deixemos que os bens sejam produzidos localmente sempre que seja razoável e conveniente, e, sobretudo, asseguremos que a finança seja nacional. No entanto, aqueles que querem reduzir as interdependências devem ser lentos e cautelosos. Não se trata de arrancar a planta pela raiz, mas de orientá-la lentamente para que cresça noutra direção.”
E lembrem-se que foram as instituições económicas internacionais, de matriz liberal, da altura, do padrão-ouro à liberdade de circulação de capitais, que alimentaram a depressão, a impotência democrática e os fascismo na Europa. Do outro lado, a Norte e a Sul, não tendeu a ser assim. Também em 1933, poucos meses depois de tomar posse, Roosevelt rompeu com a “relíquia bárbara”, a expressão de Keynes para o rígido padrão-ouro, para ganhar margem de manobra nacional em matéria de política económica, sem a qual o New Deal não teria sido possível. Hoje, de novo perante a instabilidade permanente, a questão já não será entre globalizar e desglobalizar, mas sim entre quem vai liderar politicamente uma maior desglobalização, que dimensões deste processo de multifacetado regresso das nações serão privilegiadas e que sectores sociais sairão a ganhar e a perder. Também aqui, não há inevitabilidades.
Não bate a bota com a perdigota!
ResponderEliminarVoltamos ao botas ...sem colónias!
Jose é a confirmação chapada do estudo de Eugénio Rosa sobre a paupérrima escolaridade do patronato nacional.
ResponderEliminarAgora para esconder a sua incapacidade foge para as botas...
E foi este tipo um perito...
ou se calhar foi por causa "disto" que fou escolhido como tal
Encaixa perfeitamente nas leis de condicionamento industrial do Salazar. Os tudologos são um espanto
ResponderEliminarO ditador salazar, em alguns dos seus discursos fascistas, afirmava: Pobre sempre os houve, é necessário que os haja"! Só um ditador pode ter este tipo de discurso...
ResponderEliminarSr Cristovão.
ResponderEliminarO que encaixa perfeitamente no condicionamento industrial de Salazar?
O Sr Jose?
ResponderEliminarÀquilo a que chamam de «protecionismo» e´ um processo que vem já do tempo da constituição do Estado. Não e´ americano nem inglês. É-o desde que há forma humana organizada…
Compreendo perfeitamente que já deveríamos ter ultrapassado esta coisa do Protecionismo, mas as sociedades não avançam a´ velocidade do desejo individual.
Estas, por sua vez, andam constantemente em pé de guerra, atingindo o clímax em armamento nuclear – destruição de todas as formas de vida da Terra -.
Basta recordar que todos os avanços civilizacionais das sociedades foram feitos baseados na escravização do próprio homem.
Hoje estamos um pouco melhor que no tempo do «Algodão»
De Adelino Silva
É curioso este senhor Cristóvão:
ResponderEliminarA viver do Estado Social que abomina (pois concorda sempre com todas as políticas anunciadas dos que desejam o seu substancial emagrecimento), vai debitando sapiência (em pensamentos curtos) sobre tudo e sobre todas as coisas.
Pensamentos muito profuuuuuundos, que, certamente, foi buscar ao fundo de alguma mina.
Este sim, um verdadeiro tudólogo: o senhor Cristóvão.