segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O objectivo da ciência económica é mostrar que os mercados funcionam (ou não)

Os modelos básicos de microeconomia dizem que o aumento do salário mínimo leva a uma redução da procura de trabalho por parte dos empregadores - ou seja, a uma redução dos empregos disponíveis. Logo, os governos que aumentam os salários mínimos com base em argumentos sociais estão na verdade a provocar um aumento do desemprego e, possivelmente, um aumento das desigualdades (já que o emprego é fonte mais importante de rendimentos).

David Card (na foto) foi um dos economistas que mais contribuiu para questionar esta visão, através de estudos realizados na década de noventa e que lhe valeram importantes prémios. Nesta interessante entrevista fala sobre isso e muito mais.

Particularmente notável é a parte em que explica por que deixou de fazer investigação nessa área: "Em primeiro lugar, as minhas conclusões fizeram com que perdesse um monte de amigos. As pessoas que eu tinha conhecido durante muitos anos, por exemplo, alguns dos que eu conheci no meu primeiro emprego na Universidade de Chicago, ficaram muito irritados ou decepcionados. Eles pensaram que, ao publicar o nosso trabalho, estávamos a trair a causa da Economia como um todo."

É assim, para uma grande parte dos economistas académicos o objectivo da ciência económica é mostrar que os mercados funcionam. Quando a conclusão é outra, ficam irritados.

8 comentários:

  1. Gostava de ler a entrevista a que o texto faz referência. Julgo que ficou omissa a ligação?

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  2. O objetivo da Ciência Económica deveria ser encontrar meios para lidar com a incerteza (que alguém brilhantemente disse ser de natureza ontológica). Sempre entendi o keynesianismo nesse sentido. A nível macroeconómico, isto implicará o estabelecimento de regras, de natureza empírica ou matemática (quando possível), que assistam à conceção de políticas de desenvolvimento. Tendo essas políticas sempre objetivos ideológicos (porque a noção de bem depende da visão do mundo), elas terão que ser concebidas à luz da crítica providenciada pelas ditas regras. É uma característica geral do progresso científico que este não determina tanto possibilidades, como determina sobretudo proibições...

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  3. «I think my research is mischaracterized both by people who propose raising the minimum wage and by people who are opposed to it.»

    COM the ability to use statistics creatively E TERMOS COMO negligible impact on employment levels, E minor impact on employment levels,

    A possibilidade de ignorar os riscos é uma certeza para a geringonça

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  4. Aqui está: https://www.minneapolisfed.org/publications/the-region/interview-with-david-card?sc_camp=D2D7EAD48F9F4F2A84517C9654C994E1

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  5. ci·ên·ci·a
    (latim scientia, -ae, conhecimento, saber, ciência)

    1. Conjunto de conhecimentos fundados sobre princípios certos.


    Os cientistas da NASA conseguiram pôr o Homem na lua porque seguiram princípios certos, empregaram cálculos matemáticos complexos imagino, e com grande exactidão, exactidão cientifica alcançaram um feito extraordinário.
    O “cientista” economista defende ideias, diz ao político para seguir certas ideias, depois quando essas ideias falham continua a ter ideias…

    Religiosos e evangelistas de outros tempos, hoje démodé no ocidente, porque não entendiam ou aceitavam a natureza humana infligiam castigos ao “pecador”…
    Hoje os evangelistas da moda dizem aos pecadores “andaram a viver acima das possibilidades”, logo, não há alternativa têm que ser punidos.
    A grande maioria dos economistas dão provas em catadupa que têm conhecimento trivial da natureza humana, pior, o seu conhecimento trivial é eclipsado pela putativa cientificidade da Economia e a sua ignorancia amplificada pelos media.

    Qualquer economista e/ou político que se preze devia ter conhecimentos históricos acima da média, e como a média é rasa, qualquer economista e/ou político devia ter um entendimento da História bem acima da média.
    É o conhecimento da História que permite evitar erros futuros, as folhas de Excel devem ter a sua utilidade mas é muito pouco...

    Não consigo levar a sério um economista que não tenha conhecimento razoável da História, e é exatamente esse tipo de economista que nunca entra em ruptura de stock, são esses que têm o monopólio do espaço mediático.

    Economia ainda vai ter que caminhar um longo, longo caminho até poder se equiparar às outras ciências, e isto é se alguma vez acontecer...

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  6. Fazer juízos de intenções é muito bonito. E se lhe dissessem que o senhor só querer mostrar que não funcionam por uma motivação ideológica de esquerda?

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  7. O comentário do anónimo das 19 00 eleva o nível do debate que tinha sido curiosamente afundado por um ( 15 e 53) que que tem declarados interesse na matéria. Pagavam-lhe precisamente para isso (quem?)

    De que tenta "fugir" o coitado que vive apertado entre a geringonça e os cucos?
    Do questionar da visão de muito economista por parte de David Card. Questionar a visão de"que os governos aumentam os salários mínimos com base em argumentos sociais estão na verdade a provocar um aumento do desemprego"

    E porque foge o coitado? Porque não sendo economista(é apenas perito do grande patronato nas relações de exploração com os trabalhadores) é precisamente mais um que tem a visão aqui denunciada por RPM.


    Mas há mais: quando se demonstra que os mercados não funcionam, fica irritado. E investe contra qualquer coisa em jeito de fuga apressada e cobarde.

    E aí entra invariavelmente a "geringonça", no seu limitado esbracejar.

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  8. Boa Tomás, boa.

    Um"útil" argumento para o debate. A seriedade ( mesmo que se discorde) com que o tema é apresentado em contra-ponto com esta "tontice" de Tomás.

    A motivação ideológica de esquerda incomoda este tipo que fica incomodado pelo facto de se mostrar que os mercados não funcionam mesmo

    Ou seja. Incomoda-o o facto de se denunciar, mostrando.Um apelo cinzento e tosco, ideologicamente comprometido, com a censura?
    Percebe-se que Tomás não quer que se mostre tais coisas. E invectiva quem o faz, de ser motivado ideologicamente pela esquerda.

    De forma tosca Tomás revela aqui uma outra coisa. A superioridade também moral da dita esquerda por ousar mostrar aquilo que os tomazes desta vida preferiam esconder.


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