sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Culturas políticas, economias sempre políticas


Agora que António Costa considerou o caso Galp encerrado, talvez valha a pena reabri-lo de outra forma, regressando ao tema dos múltiplos canais através dos quais o poder económico tenta comprar poder político, usando para este propósito um texto de Miguel Poiares Maduro no principal blogue das direitas. Maduro está convencido, vejam bem, que fez “parte de um Governo que, seguramente com erros e omissões, foi talvez aquele que mais procurou combater” uma cultura política de promiscuidade entre o poder político e o económico.

Em primeiro lugar, não é possível deixar de referir o topete óbvio de quem partilhou o conselho de ministros com Passos Coelho, Paulo Portas, Miguel Macedo, Miguel Relvas ou a actual representante da Arrow Global na AR, Maria Luís Albuquerque. Em segundo lugar, sublinhemos, em linha com a investigação de Os Donos de Portugal, que o PSD sempre foi partido com as mais densas ligações aos interesses capitalistas, embora a parte sem s do PS tenha feito um esforço para tecer uma rede e tenha sido bem sucedida. A novidade talvez seja a importância cada vez maior do capital estrangeiro nestas redes. A cultura política de que fala Maduro de forma etérea está materialmente vinculada a uma economia política construída por três décadas de neoliberalização.

Despachados estes dois pontos, concentremo-nos na ficção intelectual implícita, segundo a qual a suposta retirada do Estado da economia, por via de privatizações e liberalizações, diminuiria as condições para o poder do dinheiro sem fronteiras institucionais, ou seja, para a corrupção. Defendo a hipótese contrária: o Estado nunca se retira, dado que privatizar e liberalizar dão um trabalhão político, sendo antes reconfigurado de um modo que pode facilitar a sua captura por um poder económico que, mesmo em condições de concorrência acrescida, ou até por causa delas, tem mais incentivos para tentar moldar as regras políticas do jogo económico que sempre estruturam os mercados realmente existentes.

Uma palavra: GALP. Uma das privatizações ruinosas para o erário público criou uma concentração de poder privado com impactos públicos, uma das empresas que está no centro do actual debate sobre a tentativa de compra de influência. Há muitas mais em mercados liberalizados. O capital sem freios e contrapesos políticos e sociais que o desafiem e disciplinem politicamente tem sempre a tendência para influenciar o inevitável Estado no capitalismo, que desta forma se torna mais capitalista.

Entretanto, outras tecnologias neoliberais, como as parcerias público-privadas ou o chamado Estado-garantia, proposto pelo PSD e pelo CDS, o que financia sectores sociais, mas não os provisiona necessariamente, criam o caldo de cultura acrescido para a promiscuidade. Juntem-lhe as desigualdades económicas e a menor confiança institucional que lhes está associada e têm de novo um tempo em que parece que tudo se compra e que tudo se vende, de forma directa ou indirecta. E isto quando sabemos há muito tempo que para haver esferas em que há preços, e estes podem e devem ser formados de múltiplas formas, têm de existir esferas onde os preços são recusados: economia mista.

Como já aqui defendi há uns anos, as políticas socialistas de afirmação de uma ética de serviço público, de combate às desigualdades, de controlo público directo de sectores estratégicos, de combate à fraude e evasão fiscais, também por via do controlo de capitais, podem desenhar linhas mais fortes entre o que pode ser comprado e vendido e o que é de todos e deve estar ao serviço de toda a nação. Uma nova cultura política assente numa outra economia política.

13 comentários:

  1. Está na hora da esquerda radical (aquela à esquerda do PS) recuperar os termos do seu próprio discurso sobre a realidade, a
    democracia socialista , o amor livre, à natureza, aos direitos humanos e até à cor vermelha, que lhes foram roubados pela ideologia dominante.
    Não dá para esperar que o PS faça isso, pois ele não irá fazer nenhuma guinada à esquerda. E por isso mesmo, é preciso fazermos algo mais, nós mesmos.
    O PS há muito meteu o Sociaslismo na gaveta!
    Por isso mesmo temos de articular um discurso que explique as massas que o erro do PS foi ter abandonado o Socialismo, O sucesso desta empresa dependera´ so´ de nos, democratas convictos e de esquerda. De Adelino Silva

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  2. «...e o que é de todos e deve estar ao serviço de toda a nação.»
    Toda a cultura socialista se traduz na competição individual para dispor desta classe de bens.
    Longe vai o tempo em que as placas «Estado» povoavam tudo que era propriedade pública...

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  3. Não há bela sem senão. A existência de um sector empresarial público cria as condições para a sua colonização pelos Partidos que exercem o Poder, a privatização de serviços e o estado assistencial criam as condições para a exploração rentista de sectores onde não há praticamente concorrência, para não falar dos processos de privatização ruinosos, normalmente feitos à medida de amigos políticos do Governo do dia. Ora, numa era em que os recursos colocados à disposição do Estado têm que ser bem geridos, ora porque são escassos, ora porque a população (e bem) assim o exige, o problema é como deve a Esquerda conceber os limites do sector empresarial público de modo a minimizar os problemas enumerados acima. A isto junta-se a discussão da própria noção de serviço prestado por esses sectores, que deve levar em conta quer os legítimos interesses daqueles que aí trabalham, quer (e sobretudo) a qualidade do serviço prestado à população. Não esquecer que quando no final dos anos 70 os sindicatos britânicos esticaram a corda, a população respondeu-lhes elegendo Thatcher, e não só a face do sindicalismo britânico mudou para sempre (nunca recuperou da ofensiva lançada pela 'Dama de Ferro'), como o próprio capitalismo britânico mudou para sempre, abrindo caminho à primeira vaga de financeirização ocorrida na Europa. E o que se diz de um sector empresarial público pode dizer-se por exemplo do SNS... A manutenção da Esquerda no Poder requer muito particularmente a satisfação das aspirações de vários sectores sociais, cujos interesses não são sempre consentâneos. Aconselha-se por isso prudência aos diferentes atores relativamente às reivindicações que fazem, por muitos legítimas que sejam...

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  4. Opá, o Poiares não está, certamente, a falar do governo Passos e Portas. Não pode.
    A não ser que julgue que controlar a comunicação social e a Justiça seja garante de que a verdade, com o tempo, não vem à tona.
    Certamente que vem, mas os tempos serão outros e ninguém se importará com as desventuras destes palermas que nos desgovernaram durante uns longos 4,5 anos.
    Talvez, então, se devesse perguntar diretamente à GALP, à EDP, à Jerónimo Martins e a outras, quem assistiu a jogos do Benfica, Sporting e Porto, em bons camarotes, entre 2011 e 2015. E viagens (não só de iate, que esse rapaz já não precisa), e jantares e algo mais que a vida está difícil para todos.
    E que personagens pularam das negociatas públicas para cargos bem remunerados em empresas privadas.
    E que empresas financeiras beneficiaram com a destruição do bem público? E quem estava e está atualmente nessas empresas?
    Ah, José Gomes Ferreira, Medina Carreira, Camilo Lourenço, Ricardo Costa, entre outros, que bem que vos ficava tentar responder a estas perguntas. Faziam um brilharete (e sempre podem recorrer ao subsídio de desemprego).

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  5. Sem duvida. É preciso por termo a caldos de cultura geradores de situações como as do BES. O exemplo mais gritante da promiscuidade entre o poder económico-financeiro e o político. Só uma densa teia de interesses, favores e cumplicidades, pode explicar que Ricardo Salgado permaneça em liberdade sob a capa de uma prisão domiciliar, mas com direito a gozo de férias.

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  6. Ladrão eu? Se és ladrão não me podes chamar ladrão, logo (!!!) sou inocente!

    Lógica sectário-socialista!!!

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  7. Uma nota sobre cultura e política.

    Ninguém do LdB se disponibiliza para avaliar a situação da Venezuela e suas causas?

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  8. Ninguém do LdB, nem visitantes, estão disponíveis para dar-te trela, troll.

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  9. Já há tempos alguém aqui nos LdB´s suscitava conversa sobre a Venezuela como se este país fosse o paradigma da desgraça…Sim senhor, porque não?
    Antes de mais lembrar que a Venezuela situa-se no chamado “Páteo traseiro dos USA” -. Que em consequência da Revolução
    Bolivariana de Hugo Chavez – Anti-imperialista – Sofre agora o cruel ataque do TIO SAM.
    Ameaça com a poderosa lV esquadra naval – guerra económica, social e politica para obrigar este país e seu povo a se dobrarem perante o altar do capitalismo financeiro – Washington.
    Compreende-se que queiram rir da desgraça de um povo que luta há seculos por libertar-se das garras imperiais, sejam espanholas ou norte-americanas, porque “quem não tem vergonha todo o mundo e´ seu”. Reparai no Haiti ali tao perto, que me dizem? De Adelino Silva

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  10. Agitado, afobado, inquieto, atarefado, com a mona descoberta e o suor em bica..eis como alguém reage perante o desnudar dos seus amados colegas da choldra.

    A fuga para a Venezuela é apenas um sinal rasteiro da tentativa canhestra da protecçso da vampiragem.

    Ó herr Jose. Este post acertou em cheio para o deixar nesse estado deplorável.

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  11. Já regressaste dos banhos Cuco?
    A cultura socialista em acção na Venezuela não te interessa?
    Por falar em desnudar, vou-me até à piscina que tenho no quintal.

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  12. Preciso é herr Jose dar um mergulho não se sabe muito bem onde. No sofá dum ammigo belga ou na própria casa onde os cucos fizeram ninho.

    Não interessa mesmo. Acentua-se a imagem da fuga. Persiste indelével a impotência na defesa da choldra e do gangue. Com o picaresco de agora à Venezuela se juntar a decrepitude da sua própria nudez a banhos com o patético

    Mais um testemunho, quiçá involuntario, da agitação e sudaçao que o consomem.

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