Deve ser das férias. Mas não consegui apanhar um único comentário de pessoas da Direita aos mais recentes valores do emprego e desemprego. É pena. É pena porque devia-se ser capaz de deixar a guerra de curto prazo e centrarem-se nas tendências de médio e longo prazo.
Como foi sobejamente divulgado pelo INE, a taxa de desemprego atingiu no 2º trimestre de 2016 um valor de 10,8%, menos 1,6 pontos percentuais do que o do trimestre anterior e menos 1,1 pontos percentuais do que no trimestre homólogo de 2015. A população desempregada estimou-se em 559 mil pessoas, ou seja, menos 12,6% (81 mil pessoas) do que o trimestre anterior e menos 9,8% (menos 61 mil pessoas) do que no trimestre homólogo de 2015. A população empregada subiu 2% face ao trimestre anterior (mais 89 mil pessoas) e mais 0,5% do que no trimestre homólogo (mais 22 mil pessoas).
O INE alertou, contudo, que estes valores não estavam corrigidos de sazonalidade. Era escusado. Mais valia ter o INE divulgado os valores corrigidos, para evitar essa pequena quebra de confiança nos números. Devem ter lá essa série já pronta.
Na verdade, mesmo quando corrigidos de sazonalidade, os valores mantêm essa tendência. Veja-se o gráfico.
Veja-se o gráfico seguinte.
Apesar da descida pronunciada do desemprego, a subida do emprego influenciou a evolução da população activa, fazendo o valor da população activa estabilizar há 3 trimestres, parecendo interromper uma trajectória de queda, pelo menos desde 2011. É essa estabilização que permite descidas prounciadas da taxa de desemprego, tanto em valores em cadeia como homólogos.
Dito isto, convém ter noção de que nada deste cenário é muito sólido.
Primeiro, o nível do desemprego lato - se bem que em retrocesso - mantém-se extremamente elevado, atingindo ainda mais de um milhão de pessoas. Isto sem contar com os activos emigrados (conte-se com 200 mil em termos acumulados) e com os desempregados ocupados (que contarão como empregados) em retrocesso.
Segundo. A interrupção da queda da população activa pode representar um momento em que o mercado de trabalho começa a atrair pessoas. Se assim for, possivelmente inactivos tenderão a procurar emprego (aumentando a população activa e, concomitantemente fazendo baixar a taxa de desemprego). Mas até agora isso parece não se ter verificado. Ou melhor, será preciso olhar com cautela para os inactivos potencialmente activos (fica para um próximo post). Mas enquanto isso acontecer, isso revelará que as coisas não estarão tão sólidas quanto isso. Os níveis de criação de emprego, aliás, ainda são muito fracos. Olhando para os valores em cadeia desde 2011- no gráfico abaixo (não corrigidos de sazonalidade e sem desinflaccionar o impacto dos "desempregados ocupados") - o que se verifica é que, após a imensa destruição de emprego em 2011 e 2012, o emprego criado está longe de colmatar essa destruição. Os valores de 2013, 2014 e 2015 foram fortemente influenciados pelas políticas activas de emprego, pagas com recursos públicos e mesmo assim apenas se criaram 124 mil postos de trabalho (e resta saber quantos voltaram ao desemprego depois desses apoios). Só nos dois primeiros trimestres de 2016 criaram-se 41 mil (e já quase sem ajudas públicas). A retoma do emprego parece estar a verificar-se, embora lentamente.
Terceiro, em 2011 e 2012, o nível de desemprego não reflectiu o rombo na destruição do emprego. Ou seja, a diferença correspondeu à fuga de activos do país e do mercado de trabalho nacional. Apenas muito recentemente o nível de criação de emprego parece ser suficiente para absorver o desemprego criado no mesmo período. Mas resta todo o stock de desemprego criado antes. A população com mais de 15 anos, que se reduziu desce 2012, parece apenas agora, em 2016, estar a estabilizar. Irá recuperar? Conseguir-se-á atrair os emigrados?
Se os valores são positivos, se se observa uma recuperação do trabalho por conta de outrem (ainda que a contratos a prazo), se se verifica uma redução do trabalho por conta própria, a fragilidade do mercado de trabalho não pode deixar de ser um alerta para as políticas de emprego a adoptar. E, pior, tudo se arrisca a perder, caso a União Europeia prossiga esta política de cumprimento do "rigor" orçamental, desprezando a realidade humana e social em que o país vive. Mais uma vez.
Quando mais se insistir numa política cega, mais se acentuará a quebra do ideário comunitário em Portugal, aliás em linha com o que começa a passar um pouco por toda a Europa.
Um dia, tudo isto mudará. Resta saber quando. E como.
E a emigração parou?
ResponderEliminarE os que desistiram de procurar emprego, desapareceram?
E as reformazinhas tiveram uma aceleração?
Acabaram os contratos de formação?
E a tendência nasceu com a geringonça? Ou ainda não houve tempo de a estragar?
Estamos a perder rigor na análise!?
A sua douta opinião Pafiana, contra números e dados oficiais.
ResponderEliminarSempre apareceu alguma análise à direita:
ResponderEliminarhttps://oinsurgente.org/2016/08/12/emprego-uma-historia-de-segundos-trimestres-2/
em compensação já saltaram cá para fora por causa do crescimento.
ResponderEliminarhttp://www.tsf.pt/economia/interior/psd-e-cds-preocupados-com-numeros-francamente-negativos-5335763.html
Caro José,
ResponderEliminarNão deixe convencer pelas suas primeiras ideias. Acaso não reparou que coloquei um gráfico com a totalidade da desagregação dos desempregados em sentido lato? E que coloquei no texto essas referências? Por favor, onde está "ler mais", carregue aí.
Os da "direita" realçarem apenas os defeitos dos da "esquerda" ou as consequências dos seus erros.. tem tanto de estranho, como tem os da "esquerda" realçarem apenas os defeitos dos da "direita" ou as consequências dos seus erros.
ResponderEliminarNo fundo uns e outros são a mesmíssima coisa no que a esse aspecto toca. Tratam questões politicas, sociais, económicas, como se tratassem de futebol.
Praticamente toda e qualquer lei/medida (e seus respectivos resultados, principalmente se forem negativos) criada por um determinado governo, é criticada/atacada pela oposição do momento. (Des)honrosa excepção, às leis/medidas que beneficiam os partidos políticos e seus militantes, aí parecem estar sempre de acordo.
Enfim...