terça-feira, 12 de julho de 2016

Sem saída 2

Viver o dia-a-dia é um imenso exercício de ansiedade.

E começo logo de manhã ao ouvir a Helena Garrido na Antena 1 a comentar estranhas coisas que devem ser objecto de reflexão governamental:

1) que a OCDE vem dizer que Portugal é dos países com salários mais baixos e insegurança no trabalho, quando tanto a OCDE (vidé Álvaro Santos Pereira...) como a própria Helena Garrido sempre defenderam a redução dos salários nominais e o despedimento livre como forma de modernização;
2) que defender a soberania nacional é populismo, algo só próprio do Estado Novo (sic!);
3) que já vimos onde foi parar esse nacionalismo populista, como no Reino Unido... 

Não acredita? Eu também não quis acreditar quando ouvi, mas veja:
"Assistimos num novo tom de apelos ao nacionalismo e ao patriotismo, em que o governo e o Bloco de Esquerda assumem um protagonismo grande, em que nem consigo entender, uma vez que tudo isto tem raízes no Estado Novo e o PS foi um partido central com o PCP no combate a tudo o que de negativo tinha o Estado Novo que era colocar o país a preto e branco, isolado do resto do mundo. (...) O nacionalismo corre o risco de afastar mais investimento estrangeiro", etc., etc.
A confusão pode ser fruto de muita coisa, nomeadamente da superficialidade de conhecimentos, em particular sobre o Estado Novo. Mas há algo de doentiamente enviesado na intelectualidade actual da direita ao defender que a soberania nacional é coisa do passado. Como se a sua bandeira fosse a levantada pela direita ordoliberal e todos estivessem bem juntos, como única salvaguarda de qualquer coisa.

Como dizia a Sophia: Quando, num casal, os dois pensam o mesmo, há um que não pensa.

13 comentários:

  1. J. R. de Almeida:
    O senhor é jornalista, deve conhecer muito bem o meio.
    Quem pensar hoje «fora da caixa» em que jornais tem hipóteses de trabalhar?
    Tem de ver as coisas também pelo lado prático da vida.
    E a coerência nunca conviveu muito bem com o estômago.

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  2. A mediocridade da direita, da extrema-direita, da horda neoliberal está bem espelhada nos seus próceres.

    Ao levantar da mão na saudação típica e aos berros do Angola é Nossa sucedem-se agora os "Deutschland über alles" . Às cerimónias da brigada do reumático rezando hipocritamente por quem ia matar e morrer em África, sucedem-se estas pantominices medíocres de coisas como a Helena Garrido (ou outro similar), em torno do elogio da globalização e do cosmopolitismo, de quem usa offshores como esconderijo dos ganhos dos seus "investimentos" .

    Mas a ponta que une estes dois mundos é muito mais forte do que o que aparenta.
    Tal como nos idos tempos do dito estado novo o que importava era o saque e os ganhos. Saque das colónias e saque das populações. Enriquecimento dos monopólios,. O país pertencia a meia dúzia de famílias, os donos de Portugal. E as fitas patrioteiras, as missas, as manifestações de braço estendido faziam parte duma liturgia em que se tentava demonstrar a superioridade - do homem branco- mas sobretudo do Capital.

    Agora os seus descendentes, fazendo jus aos seus egrégios progenitores, seguem, por outro caminho , a mesma via de engrandecimento...do Capital. Para tal servem-se de tudo. Desde a mundivalência do lucro, até ao charme podre dos salteadores, como Barroso ou Borges. No fundo o que está em causa mantém-se: o lucro e a manutenção de taxas de lucro adequadas às suas actividades "empresariais"

    Por isso as preces em torno de Portugal uno e indivisível foram substituídas pelos latidos em alemão e pelos rosnares globalizadores. Antes estes tipos diziam que a esquerda inventava Pátrias referindo-se às nossas ex-colónias. Agora simplesmente citam o último discurso de Schauble e salivam entre dentes que Portugal é uma Pátria inventada, esperando que tal entre no próximo discurso do ministro alemão.

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  3. É estranho que essa gente e a Helena Garrido, venha com demagogia querer "iluminar", quem na prática há muito tempo é internacionalista, anti-racista, aberto ao mundo e cosmopolita. Tudo isso, sem abdicar da sua dignidade, da sua soberania. Passar bem... E a antena1 continua a não fazer serviço público, não percebo porquê. Dias

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  4. Quando um Governo de Esquerda defende que o País não deve ser sujeito a sanções pela execução orçamental falhada de um Governo de Direita, que aplicou diligentemente (muito além da troika) a receita de Bruxelas, obviamente a dita Direita deveria neste caso particular e no seu próprio interesse e do País, apoiar tal linha de argumentação sem ambiguidades. Para pessoas inteligentes, isto deveria ser um 'no-brainer', até porque a aplicação de sanções não tornará certamente a UE mais popular em Portugal, e os partidos da Direita dizem-se europeístas. Sucede que eventuais sanções dariam muito jeito porque iriam criar um problema à coligação de Esquerda. Ou seja, sacrifica-se a estratégia em troca de vantagens políticas de curto prazo. Chama-se a isto a tática do 'quanto pior, melhor'. É triste, mas é infelizmente comum em política, as oposições só regressam ao poder se as coisas correrem mal aos governos. Compreendido isto, não há lugar para a ansiedade...

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  5. Sim, é um sacrifício grande ouvir Helena Garrido. Eu faço uma coisa simples porque não sou masoquista. Na semana HG mudo para a TSF.

    Dolores Cabral

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Caro Manuel,
    Realmente, fui jornalista durante muitos anos. E conheço a Helena Garrido há quase tantos anos como isso. E sou amigo dela. Não creio que o caso da Helena seja aquela que retrata. É, na minha opinião, outra coisa: quando a realidade se exacerba, as posições extremam-se e as cabeças mostram-se pouco capazes de olhar fria e menos emotivamente para os problemas.

    A Helena tem crenças muito fortes, formadas sobretudo pela Universidade Nova. Tem um olhar do mundo e adapta-o às circunstâncias. Ainda num debate recente em que foi apresentado um trabalho do Observatório sobre as Crises e Alternativas relativamente à imprensa económica - em que ela esteve presente, bem como o Nicolau Santos, e o João Vieira Pereira - foi isso mesmo que a Helena disse, quando confrontada com a responsabilidade social dos jornalistas ao defender a aplicação do Memorando. E em momentos de confronto - porque cada vez mais, desde 2011, é isso que se verifica nos nossos tempos - nem sempre é fácil mudar de crenças. E isso fica patente nas crónicas da Antena 1.

    Este mecanismo intelectual obviamente não é exclusivo da Direita, se bem que sejam as ideias da Direita que tenham dominado desde os anos 90. Mas todos temos responsabilidades - e às vezes contra mim falo, quando lhe mando comentários ao que diz e defende - em fazer com que seja fácil às pessoas mudar de opinião e não acantoná-las em atitude de defesa permanente. Que é, na minha opinião, claramente a atitude da Helena agora que as suas ideias são questionadas todos os dias.

    Dito isto, claro que as redacções estão progressivamente a ser chefiadas por pessoal com ideias de direita, mas isso é outro assunto.

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  8. Fica-me a estranha sensação que os portadores do sonho, os idealistas munidos de instrumentos de análise científica irrecusável (marxismo), perderam a noção de que os enunciados para serem tese têm que ser demonstrados.

    A geringonça especializou-se - e foi esforço demorado e meritório - em enunciados, mas sempre recusa revê-los face aos factos. E esta acredito ser a razão maior das perplexidades dos seus seguidores e da impaciência dos seus opositores!

    O governo anterior foi além da troika, e não chegou?
    A troika fez um mau trabalho e geriu um mau plano, e não é esse o cerne da questão e da acção de demonstração do injustificado das sanções?
    O Plano do Governo é o caminho correcto, fruto de uma cuidada e informada análise de cinco anos de protestos e originalíssima congregação de esforços, e ninguém vê os resultados?
    E não me devolvem as massas do IRS? Já mo reino da Dinamarca...

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  9. Os portadores do sonho, os idealistas etc e tal ...pelos vistos são marxistas?

    Ainda bem que há quem se reivindique de portador do sonho. Um poeta ( não do SNI) dizia que o sonho comanda a vida. Antes isso do que Vampiro.

    Ou entusiasmado defensor da vampiragem , chamando à pressa as melgas para ver se disfarça o cheiro.

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  10. "As massas do IRS" chora desalmandamente um que anda com uma agenda dos coitadinhos no bolso

    Mas qual IRS? Já lhe vasculharam as rendas? É que este afirmou alto e bom som que os offshores lhe serviam de escape para o produto do saque

    Veja-se como o rótulo de vende-pátrias lhe serve que nem uma luva: saliva pelas sanções.E como levanta a mão em protesto contra os protestos que enfrentaram os vampiros que nos governaram.

    Percebe-se porquê Era um dos que gritava e berrava pela ida além da troika.

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  11. "Claro que as redacções estão progressivamente a ser chefiadas por pessoal com ideias de direita,"

    Esses tempos verbais, JRA, esses tempos verbais.

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  12. Cuco, esse teu problema de transformar ideias em cheiros merece avaliação especializada...

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  13. Cheiros ou cucos.
    Tudo serve.

    Mas,deixando de lado o problema familiar dos cucos a depositarem ovos em ninho alheio, não nos afastemos da questão:
    A Helena garrido e a comunicação social que temos

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