sexta-feira, 22 de julho de 2016

A montanha do desemprego e a Direita

Fonte: IEFP
Aquele montanha que surge a partir de meados de 2011, foi o resultado da mensagem de terror que o Governo PSD/CDS lançou sobre o que seria necessário fazer para o país se endireitar.

O volume de pessoas que apareceu nos centros de emprego - fosse desempregada ou não - para pedir um emprego não parou de subir desde então. O terror apenas se atenuou quando a troika e os dois partidos chegaram à conclusão de que não era possível continuar com a anterior política. Todo o programa foi interrompido. Manteve-se o aperto fiscal que ainda não foi desatado, sob pressão comunitária. Desde aí, desde 2014, que o mercado de trabalho tem reanimado um pouco. Os dados divulgados ontem mostram-no. Ainda assim, são 700 mil pessoas que procuram um emprego. Caso se estime o desemprego lato pelos dados do INE - juntando os desempregados, os inactivos desencorajados ou indisponíveis e o subemprego - essa realidade ainda abrangia no 1º trimestre 2016 cerca de 1,133 milhões de pessoas, quando já foi 1,469 milhões no 1º trimestre de 2013.

Para esta evolução, têm contribuído diversos elementos. Veja-se este gráfico que apura os fluxos de ano para ano em cada uma daquelas realidades. O que se vê?



1) O desemprego em sentido lato tem estado a reduzir-se desde 2013, mas a ritmos cada vez menores, a ponto de poder começar a subir em 2016. Esses dados corroboram a evolução das pessoas que em cada mês se têm dirigido aos centros de emprego para se declarar como desempregadas. Esses valores nunca pararam de crescer desde 2002. Eram 30 mil por mês em 2001, passaram para 50 mil em 2007, e saltaram para um valor médio de 60 mil no período do Governo PSD/CDS. Mas desde 2014 que se têm atenuado. E continuaram a descer em 2016, estando ao nível de 2012.

2) Simetricamente, o emprego assalariado subiu desde 2013, mas aparentemente de forma artificial até 2015, já que a subida do emprego em 2013 e 2014 parece corresponder de sobremaneira ao acréscimo dos empregos apoiados pelo IEFP. Diga-se que em 2014 e 2015 foram apoiadas 200 mil pessoas em cada ano. Esses apoios estão a reduzir-se em 2016. E apesar disso, o emprego tem continuado a manter-se num ritmo uniforme - embora insuficiente - ao redor dos 50 mil por ano.

3) Sim, em parte, a redução do desemprego lato também se deveu a outra montanha - a dos emigrados permanentes. Em 2010, eram 23,1 mil. Em 2011, saíram 44 mil. Em 2012, mais 52 mil. Em 2013, mais 53,8 mil. Em 2014, mais 49,6 mil. E em 2015, mais 40,4 mil (dados INE). Ou seja, a emigração permanente está ao nível anual do emprego criado em cada ano! Ao todo, nesses seis anos, saíram permanentemente 263,4 mil pessoas. Só de 2013 a 2015, foram 143 mil.

A situação do mercado de trabalho revela-se, pois, de uma enorme fragilidade. O emprego criado - insuficiente para absorver a montanha de desempregados e emigrantes - assenta em valores de rendimento salarial muito baixos (o salário mínimo nacional atinge uma larga percentagem dos assalariados), na precariedade dos contratos. Um ambiente laboral, de fracas ofertas de emprego, que ainda não desmotiva a fuga do país.

Mas a Direita insiste em voltar à política de terror. Voltou a agitar o perigo de 2011. Que vivemos numa mentira e que tudo vai rebentar. Parece assumir o discurso de Trump ao afirmar que quem não vê que tudo se está a degradar, não está preparado para governar o país...

A situação não é, de facto, das mais sólidas. Mas não se entende por que é que:
1) a retoma do emprego que foi tão saudada por esses partidos até às eleições legislativas de Outubro 2015, passou, depois, com a criação de um governo de PS, a estar à baira da bancarrota outra vez.
2) ou por que é que o Governo de Direita, que contribuiu fortemente para a situação actual - vide profundas alterações da legislação laboral - não recebeu os frutos da economia e o emprego se mantém numa tão frágil situação, a ponto de poder ser - de novo - aproveitada pela Direita.

5 comentários:

  1. Grandes mistérios que a geringonça vai desvendar a curto prazo.

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  2. "mensagem de terror que o Governo PSD/CDS lançou"

    A vários e múltiplos níveis.
    O terrorismo social passou de facto por aqui

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  3. Seria interessante este estudo se fosse clara a destinção entre emprego/desemprego no privado e no público, incluíndo empresas intervencionadas, pelo Estado, e funcionalismo público em todos os seus níveis, bem assim como temporário e "com hipóteses de ficar nos quadros do Estado".

    Qualquer semelhança entre esses dois tipos de "emprego/desemprego" é um erro elementar na análise.

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  4. "Grandes mistérios que a geringonça vai desvendar a curto prazo."

    Parece que não há mesmo grandes mistérios, pelo que a frase é apenas retórica. Uma tentativa particularmente desastrada, no âmbito da propaganda, de cumprir os objectivos da direita e da extrema-direita que é de voltar à política de terror.

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  5. JS acha que este estudo seria interessante se.

    Acontece com demasiada frequência esse tipo de atitudes, que radicam as mais das vezes no desejo de simplesmente minimizar o estudo em causa. Como as leituras não vão de encontro às perspectivas de quem assim age, então vai-se de lado, apontando as varáveis que faltam.
    Pecha velha mas que aqui encontra uma variante interessante. Exige-se que se fale no binómio emprego/desemprego. E até nas "empresas intervencionadas pelo estado" não se sabendo se tais empresas são olhadas de lado, como pecadoras, ou se olhadas com olhos de gula,como potenciais empresas a comer.
    Por trás disto está muitas vezes a confusão que ainda reina quer sobre as funções do estado, quer sobre quem manda de facto nos empregados do estado. A que se adiciona o desejo de arranjar bodes expiatórios para as catástrofes que nos assolam.
    No passado eram os judeus e os comunistas. Mais modernamente são os muçulmanos. Mas os funcionários públicos estão ali à mão e servem de alvo a toda a boçalidade.

    Nota: O a "todos os níveis" do funcionalismo público refere-se a quê?
    Aos governantes e secretários de estado? Ou aos múltiplos boys que entram via directa nas chefias das empresas e nos departamentos governamentais e que depois ficam lá a fazer o trabalho de boys durante todo o tempo que querem? Onerando o orçamento e constituindo pretexto para termos que aturar depois os chefes dos boys que os meteram lá,no seu trabalho sujo e divisionista?


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