terça-feira, 7 de junho de 2016
Berra por escrito
Manuel Carvalho, em crónica no Público do passado Domingo, que me ficou atravessada, clama contra uma “forma estúpida de pensar” das esquerdas, em matéria de redução do horário de trabalho na função pública e dos seus potenciais efeitos contagiosos para o sector privado, de resto defendidos pelos sectores sindicais mais consequentes; clama também contra “os estivadores que berram” e que supostamente impedem novas contratações (graças à luta dos estivadores, estas aumentaram, sendo que o trabalho temporário precário foi, e bem, bloqueado em Lisboa); Carvalho clama ainda contra as benesses acumuladas pelos trabalhadores da função pública (o mesmo de sempre, vale tudo para ignorar as verdadeiras desigualdades); todo o seu clamor destina-se supostamente a impedir a mesma “cegueira irresponsável” que culminou, sugere, na ingerência da troika. É caso para dizer que as crónicas de Manuel Carvalho ilustram uma forma de pensar totalmente desprovida de senso e de sensibilidade.
Em primeiro lugar, sugerir, em 2016, que a ingerência externa da troika se deveu a uma “cegueira” de política económica e social é de uma desonestidade ou de uma ignorância atroz. A subida do défice deveu-se à crise, e à virtuosa acção dos estabilizadores automáticos, e não a qualquer surto significativo e deliberado de investimento público. O problema foi a reacção dos mercados numa Zona Euro que subtraiu aos Estados instrumentos de política económica e que não estava preparada para uma crise como a que se iniciou em 2007-2008, para a qual de resto os seus arranjos liberais contribuíram decisivamente. O governo Sócrates já estava em modo austeridade antes do resgate, que aceitou, bem como em modo redução dos direitos laborais (estas tendências acentuaram-se com a troika, com resultados catastróficos, numa economia estagnada desde a viragem do milénio).
Em segundo lugar, Manuel de Carvalho, de forma grosseira, faz demagogia em torno de uma secretária do sector privado e de outra do sector público, em torno das diferenças de horários, procurando concentrar a atenção em desigualdades horizontais, que a luta social sempre contribui de qualquer forma para atenuar, por bom exemplo e por imitação estimulados sindicalmente. Carvalho faz de tudo para que se esqueçam as desigualdades que importam no capitalismo realmente existente: as verticais. E estas até são menores no sector público, que constitui um exemplo. Não é aliás por acaso que, da Troika ao Banco que não é de Portugal, se esforçaram para que os cortes salariais, directos e indirectos, no sector público contagiassem o sector privado e para que as maiores desigualdades salariais no sector privado, por sua vez, contagiassem o mais igualitário sector público. É ao contrário que temos de fazer. E para fazer ao contrário é necessário o empoderamento dos trabalhadores, como até a investigação do FMI confirma: trata-se sempre de um processo que ocorre a diferentes velocidades, sendo os seus feitos igualizadores cultivados, como temos defendido, por organizações que encarnem os interesses comuns do mundo do trabalho assalariado.
Enfim, o artigo de Manuel Carvalho é apenas a enésima destilação do ódio de classe, mesmo que em versão social-liberal, contra a tímida recuperação organizada dos trabalhadores depois da devastação dos últimos anos. Carvalho berra por escrito, ampliando a mensagem dos que assim não precisam de elevar a voz. Se depender da maioria dos que transaccionam ideias em segunda mão, certas fracções do capital, as mais medíocres, falarão sempre mais alto.
também li esse vómito do manuel carvalho.
ResponderEliminarHá gente que não se lê a não ser em papel, que nos sites eles contabilizam os hits e dão-lhes mais espaço por isso. Tavares, Carvalho, São José, Teresa Sousa são dos meus ilegíveis.
ResponderEliminarCarvalho é pago para berrar, além de ficar nas graças do patrão.
ResponderEliminarCada mais é mais notório o medo do “contágio”.
A cantiga desta estirpe de empreendedores, é sempre a mesma: apropriar-se do tempo de trabalho de quem trabalha, se possível sem remuneração, de forma a ter mais lucro.
O ódio que os Maneis de Carvalho desta vida têm a quem realmente produz a riqueza os cega.
ResponderEliminarO que julgarão estes fanáticos que restaria da sociedade se a agenda neoliberal fosse aplicada a 100%?
Julgam eles que as seus tachos lhes garantem proteção num mundo arrasado?
Se calhar não, no mundo violento que os neoliberais estão a produzir mesmo aqueles que ainda têm alguma segurança o mais certo é a perderem, eles e os seus descendentes.
Estes Maneis, estes Passos, estes Joses são casos clínicos e merecem atenção urgente!
Muito bom.
ResponderEliminarAfinal, quais são os interesses legítimos?!
ResponderEliminarEstes fazedores de opinião,
enchem a boca com conversas a denegrir os interesses corporativos;
Surpreende-me a desfaçatez desta carga negativa, nas bocas que estes gabirus mandam, quando confrontam um interesse de grupo.
Se fôr interesse,
do "grupo" dos operadores do Porto de Lisboa...
de um dos "donos disto tudo"...
de um, que reivindica decidir por mim...
parece que já está bem!
Os cães ladram ( berram ) mas, a caravana vai passando!
Os perigosos, são os que não ladram!
Já é tempo, de não berrar...
O empoderasmento dos trabalhadores na Venezuela, aparentement está dar resultado na igualdade : falta quase tudo a todos.
ResponderEliminarSerá que o aplauso do congresso do partido do governo ao amigo que ajuda o Santos Silva a gastar os milhões quer dizer que os apoiante do governo acham que o mesmo caminho da Venezuela é que é bom para Portugal?
Paspalho Cristóvão
ResponderEliminarQuando conseguires balbuciar algo de jeito eu respondo-te
entretanto vou afiando o autoclismo para o cagalhão zé
ele vai aparecer--- então o tema salário mínimo nacional tenho a certeza que lhe merecerá alguns perdigotos, baba de raiva e umas baboseiras imbecis de permeio
uma pena que a maior parte dos defensores da PaF que aqui aparecem sejam tão básicos
tão básicos que fazem um gajo como o Diogo Feio parecer inteligente
apesar desses meninos serem todos mentirosos há uns que ainda tentam dar luta com alguns argumentos com sentido misturados com falsidades e outros truques
agora o paspalho Cristóvão e o cagalhão zé são mesmo de nível de conversa de café
manda-se umas bocarras que se ouviu no prós e contras ou se leu no Observador, no i, no Sol ou noutras cagadas do género e está feito
não há que pensar muito
esta merda de gente ignorante encontra o seu eco em ranhosos escribas de serviço aos donos dos media e pronto...não é preciso pensar
Ah a Venezuela…falta quase tudo a todos…coitados não sabem o que querem… o bloqueio a Cuba uma miséria… e´ na Argentina, Paraguai, Honduras e agora no Brasil que a coisa vai bem, o México então e´ o Edem, não esquecendo as primaveras árabes entre muitos outros…Autênticos paraísos…Ora senhores…
ResponderEliminarO que nos vale e´ que o remorso quando vem, e´ sempre tarde, no fim da linha.
Em termos de compensação sádica/masoquista terão de assistir a´ morte por inanição das crianças somalis e etíopes e já agora em Moçambique.
O drama dos refugiados no mediterrâneo nada vos diz..?
Quando o ser humano chega a este estado de insensibilidade mal vai a humanidade!
Já repararam que não são eternos, que a vida e´ curta… para que apressar então a morte com sofrimento dos outros?
De Adelino Silva
Li o artigo do Carvalho e nada diz que não sejam factos irrecusáveis.
ResponderEliminarA reacção tem novidade nenhuma mas a tirada científica de que «A subida do défice deveu-se à crise,....» estabelece o princípio mais caro à esquerda inteligente: a divida nunca é problema desde que não se pague!
Daí decorre que com dívida bastante dos privados e do perímetro exterior ao Estado o produto sobe, as conquistas progressistas podem avançar e o défice do Estado não se nota.
Sócrates assim pensou e fez, e deixou uma carrada de discípulos.
A UE, essa grande praga, alargou o perímetro do Estado e faz outras contas!
A ideia que tenho formada sobre a gestão dos portos de Portugal já tem longos anos e nunca vislumbrei coisa boa. (Lembra o filme - Há Lodo no Cais - com Marlon Brand no protagonista).
ResponderEliminarDesde os tempos de Pombal que O Estado Português retirou aos Portos a importância estratégica que que se lhe deve. É que não é só carga e descarga de navios ou entrada e saída de passageiros
O espaço vital de um Porto, em especial os Portos Atlânticos não podem ficar entregue ao Livre Arbítrio de qualquer um cidadão ou empresa particular. É a minha opinião, vale o que vale…de Adelino Silva
Um grande e excelente post de João Rodrigues.
ResponderEliminarTexto de João Rodrigues que motiva o ódio de classe inevitável dum que se apresta solidário com Manuel Carvalho.
ResponderEliminarA denotar ainda aqui o incómodo que a reacção e a trupe neoliberal têm perante a desmistificação dos seus plumitivos de serviço.
O resto é mesmo paisagem. Mete dó e assume foros de patologia ortopédica alguém vir falar em dívida, quando esse mesmo alguém elogia da forma boçal característica a fuga aos impostos de grandes passarões. E elogia a debandada para os offshores, alvo predilecto dos mafiosos e dos canalhas.
Aqui, a dívida para com todos nós já não é problema.
O papá não se reconhecia numa coisa assim,pois não?
"A UE, essa grande praga, alargou o perímetro do Estado e faz outras contas!"?
ResponderEliminarEste tipo andou na escola para saber o que é o Estado ? Foi colocado numa privada para poder ter "rendimento escolar" ?
Ou trata-se apenas duma manobra assaz acanalhada para esconder o triste facto que a extrema-direita vende o cú e dez tostões a tudo o que lhe cheire a aumento da taxa de lucro? Pelo que a venda do país e do Estado Português surge assim envolta neste palavreado tonto e ignorante.
Quererá vender a ideia que a UE já será o Estado. Ainda não, ainda não. Hitler também falava num Reich de mil anos e foi o que se viu. Falava também noutras contas e por essas contas se bateram os aficionados do anterior regime. Não se lembrará do facto, o pobre exclamativo?