sábado, 23 de abril de 2016

Mulher não entra e comunista também não

Para lá da quase ausência de mulheres, ao assistir a um novo programa de debate político na RTP3, com três cidadãos respeitáveis, pude confirmar duas tendências adicionais no comentário político nacional que revelam os limites do pluralismo.

Em primeiro lugar, a opinião comunista está remetida para a clandestinidade televisiva fora dos espaços explicitamente dedicados aos partidos (digo explicitamente, porque os comentadores regulares têm, em geral, filiações partidárias conhecidas). O mesmo se passa ao nível do comentário regular nos jornais. No fundo, pode fazer-se, fica a sugestão, a versão comunista do excelente mulher não entra, sendo que o ladrões de bicicletas é realmente um mau exemplo no que diz respeito à igualdade de género.

Em segundo lugar, a opinião eurocéptica, que vai crescendo, não está propriamente remetida para a clandestinidade, mas encontra ainda pouco eco televisivo, por contraste com o muito mais amplo espaço dado a posições federalistas no comentário. Bem sei que a intelectualidade lusa ainda parece ser maioritária e deprimentemente euro qualquer coisa mais ou menos fantasiosa e perversamente (in)consequente, na linha da recente intervenção de Marcelo no Parlamento Europeu, mas convém não exagerar (já agora, a intervenção do Presidente foi bem descascada pelo eurodeputado João Ferreira).

Estas duas tendências tornam-se ainda mais salientes se tivermos em conta dois desenvolvimentos positivos. Por um lado, a incursão de bloquistas no debate e comentário político televisivos regulares fora do espaço explicitamente dedicado aos partidos (Marisa Matias, Francisco Louçã ou Fernando Rosas). Por outro lado, o crescimento, ainda que lento, demasiado lento, entre intelectualidade, da consciência que a integração europeia é hoje sinónimo dos principais bloqueios à democracia e ao desenvolvimento nacionais (afinal de contas, já lá vão quase duas décadas de estagnação económica e de rebaixamento político no Euro…).

Fica então a questão para debate: quais as causas destas duas tendências, incluindo as que estão relacionadas com a economia política da comunicação social (e como não nascemos ontem, não vale invocar o inacreditável argumento, com o qual já fui confrontado por gente do meio, de uma suposta avaliação mais ou menos imparcial de mérito intelectual)?

7 comentários:

  1. Mais uma vez um bom post

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  2. Fico contente de que o espaço publico tenha uma lógica diferente, do que dar ampliação a propaganda dos partidos. A vida e opiniões diversas só ganham em sair da esfera dos partidos e tornar-se mais variada.

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  3. O problema do euro não é da Política mas sim da Aritmética: se com ajudas já assim estamos, como seria sem elas? Bem sei que a inflação com moeda própria é o paraíso das negociações sindicais e da justa luta dos trabalhadores...mas não acrescenta pão!
    E depois os comunistas são a própria estabilidade opinativa, não dão notícia. Já o Bloco é outra coisa; são fracturas por tudo que é sítio, piruetas acrobáticas, verdadeiro manancial de notícias.
    E o Costa Equilibrista sempre garantindo a adaptabilidade mais dinâmica que é um regalo vê-lo com a sua equipa de optimistas milagreiros.

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  4. Antes de se dizer que se "fica contente de que" talvez seja bom ler de novo o texto.
    O que se denuncia é que a " opinião comunista está remetida para a clandestinidade televisiva" e que "a opinião eurocéptica, que vai crescendo, não está propriamente remetida para a clandestinidade, mas encontra ainda pouco eco televisivo"

    Simples. Não se trata aqui de dar "propaganda a partidos" mas em dar voz a "opiniões". Opiniões que são silenciadas e abafadas. Que passam para lá dos partidos. Mas que passam necessariamente por estes e pelas suas áreas ideológicas.

    Simples. Tentar refutar o que é dito pela pseudo "variedade" de opiniões e pela "saída da esfera dos partidos" é uma fraude. O encurralamento informativo mantém-se,com todas as suas causas e consequências. Não é por se convidar mais comadres do mesmo espectro ideológico que muda algo no panorama mediático.

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  5. O deplorável é os comunistas fazerem o jogo de quem boicota as mulheres. Agora lenbraram-se de vetar a alteração do nome "cartão de cidadão" nome que, no mínimo, é discriminatório e não é uma questão de gramática como algunss pretendem - pelos vistos também não sabem nada de gramática. Cidadão, diferentemente de homem, nem sequer pode pretender ser um epiceno (vão ver ao dicionário).
    A linguagem, como toda a gente devia saber, é sexista, sim, e qualquer alteração no sentido de mitigar essa carga devia ser bem vinda para todos aqueles que dizem defender os direitos das mulheres.

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  6. Ou de como um post, a denunciar o cerceamento de opiniões, é transformado numa apologia a este estado de coisas por parte do das 18 e 55.

    Adivinha-se o ódio boçal aos comunistas , ao bloco, ao próprio Costa. Feito uma pitonisa corrupta de carnes podres, o das 18 e 55 invoca a "estabilidade opinativa" "as fracturas" e os "milagreiros" como álibi. Duma penada tenta ocultar com estes exercícios acanalhados o que é denunciado ,assumindo assim desta forma a sua condição de.

    Mas não é só a apologia do lápis azul.
    Escrevia ele num blog, em pleno tempo de chumbo do governo de Passo/Portas e sentindo as costas quentes da pesporrência militante dos trambolhos de extrema-direita:

    ” bem fez Salazar, enquanto a História esteve do lado dele, de aplicar o princípio à comunada!"

    Esgoto puro

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  7. Guerras de lana caprina não servem a ninguém envolto em guerras bem maiores.

    Ferreira Fernandes, de que não sou grande adepto, é aqui bem claro:
    http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/ferreira-fernandes/interior/pcp-da-licao-ao-be-do-genero-cresce-5138428.html

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