sábado, 30 de abril de 2016

Memória, hegemonia e subversão


«Há vários critérios para apreciar o trabalho académico: ineditismo e inovação, relevância na especialidade, impacto público, criação de escola. Fernando Rosas distingue-se em todos. E, ainda por cima, teve a disponibilidade e o sentido cívico para se empenhar politicamente. Anoto isto com o à vontade de quem nunca pertenceu aos mesmos movimentos políticos. O resto que se diga em contra é conversola ou medíocre viés político.»

António Hespanha (facebook)

Fernando Rosas dedicou a primeira aula do resto da sua vida à memória. À memória como revisionismo, à memória como farsa e à desmemória. Às formas de manipulação pelo «apagamento de acontecimentos, de processos históricos e de valores que transportem do passado um potencial subversor da nova ordem que se pretende estabelecer», de modo a inculcar «a aceitação acrítica da lei do mais forte, da injustiça social, da destruição das forças produtivas».
O historiador que nos escancarou as portas do salazarismo e do Estado Novo exemplificou: «é mais fácil impor as 10 ou 12 horas de trabalho aos operários da indústria automóvel se se lhes apagar a memória dos rios de sangue que correram para que a classe operária europeia ou americana conquistassem a jornada de oito horas de trabalho». Palavras sobre o passado que ecoam certeiras neste início de século. Para lembrar que a memória também é futuro.

10 comentários:

  1. Deixo agora aqui um comentário que deixei Sexta-feira no blogue «Duas ou três coisas».
    «José Pacheco Pereira disse ontem na Quadratura do Círculo que Fernando Rosas foi muito prejudicado pelas suas opções e militância políticas.
    Está muito marcado na extrema-esquerda (primeiro foi do PCP, fugazmente, depois do MRPP, agora do BE).
    Só isso o impediu de receber um dos grandes prémios que existem em Portugal pela brilhante e consistente obra que construiu sobre o Estado Novo, que desmontou na sua essência para se perceber como e porque durou tanto.
    J. P. Pereira referia-se, por exemplo, ao Prémio Pessoa, que já contemplou, que me lembre, 3 historiadores: José Mattoso (historiador da fundação da nacionalidade), Cláudio Torres (historiador da presença muçulmana) e Henrique Leitão (historiador da ciência).
    Mas o que ficará para a história é a sua consistente obra: os prémios são fugazes e pessoais, a obra é intemporal e da colectividade nacional.»
    É a minha simples e despretenciosa homenagem a Fernando Rosas.

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  2. À parte os recorrentes tributos aos mantras esquerdalhos - inevitável em que se assume como crente dessa fé - Rosas tem trabalho meritório e de grande fôlego.
    Sobre Salazar tem contributos relevantes para estabelecer a falsidade das imbecilidades que adornam o discurso da esquerdalhada.

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  3. Uma homenagem justa a Fernando Rosas, com o contributo lapidar de António Espanha.

    "A memória também é futuro" . E isso deve corroer por dentro os negacionistas do fascismo e do seu avanço.

    Não é , ó das 10 e 20?

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  4. Recorrente mantra inevitável em que se assume como crente dessa fé.

    E não só, e não só. Não é apenas a fé nos mercados, nos lucros e nos offshores o que faz mover quem utiliza como oração sistematicamente coisas coms "os mantras , os esquerdalhos, as tretas,os treteiros e outras ambrosices".

    Mas como exemplo de mantra e de fé não está mesmo nada mal, lolol

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  5. Claro que os contributos de Fernando Rosas para estabelecer o que era o fascismo e o salazarismo são inestimáveis.

    "Fernando Rosas destaca cinco factores fundamentais... da durabilidade do regime: a violência (preventiva e punitiva), o controlo das Forças Armadas, a cumplicidade da hierarquia da Igreja católica, a organização corporativa e o projeto totalitário do regime. A questão da violência encontra uma centralidade e uma problematização que não esconde o seu objetivo de
    responder a algumas tendências recentes de apresentar a sua utilização pelo regime como relativamente limitada, quando comparada com outros contextos políticos contemporâneos e mesmo com outros momentos da história
    nacional...A distinção entre violência preventiva e punitiva leva Fernando Rosas a sair do simples debate contabilístico de prisões e mortes com que essa historiografia ( a dos rui ramos e companhia) tenta legitimar a ideia de uma ditadura “branda”. Por um lado, Rosas desconstrói a ideia de um Estado Novo “limitado pela moral e o direito”, mostrando como essa “moral” e esse “direito” nunca constituíram formas de “heterolimitação” do seu poder, mas sim uma forma de auto-legitimação do poder discricionário. Por outro lado, esse poder foi, no salazarismo, transformado numa “gestão politicamente racional” da violência, que se baseava essencialmente
    numa “surda socialização do medo” (p. 200) e no carácter exemplar da punição. Nessa “economia da violência”, a ação punitiva era assim reservada para
    os que “ousavam desafiar a “ordem estabelecida” , e o seu caráter brutal
    (prisão sem culpa formada e por tempo indeterminado, recurso frequente à
    tortura, assassinato político) surgia como aviso para todos os que estivessem
    tentados a pisar o risco delimitador da ordem"

    Um contributo inestimável de Rosas, pela mão de Manuel Deniz Silva, que provoca muita azia, raiva, impropérios nos defensores da "ditadura branda" e dos crimes da canalha

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  6. Um dia qualquer haverá um lugar no Panteão Nacional para o artista, que sabe como ninguém, da sua Arte - O Cavador – O Pescador - O Cadeireiro e….Um dia qualquer haverá!
    Sem menosprezar os premiados, acho que e´ a hipocrisia que domina este processo elitista. Por isso o “Premio”…
    Prémio esse que por vezes tem o valor de muitos anos de trabalho produtivo do cavador…do mineiro ou …
    Este cavador que também faz parte integrante de partido político, que foi preso politico, que morre em combate pela Pátria e ETC. E TAL e´ o “herói” que alguns enaltecem na mira do “Premio” . de Adelino Silva

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  7. "...entre os seus três fundadores, encontra-se o actual director do «Luta Popular», que na sua primeira prisão, ainda militante do P«C»P, denunciou vários nomes à polícia. Na segunda, apesar das suas responsabilidades no MRPP, fez copiosas declarações sobre actividades políticas que terá tido na já referida «Esquerda Democrática Estudantil», depois de alguns (escassos dias de sono), sem que isto tivesse merecido qualquer censura ou sanção, apesar de tais factos serem públicos e notórios..." - in "O M.R.P.P. Instrumento da Contra-Revolução", autor Saldanha Sanches, páginas 113/114

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  8. cagalhão zé

    conta lá que falsidades são essas
    defende lá os teus amigos

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  9. Ó das 10 e 20.
    "contributos relevantes para estabelecer a falsidade das imbecilidades que adornam o discurso da esquerdalhada."?
    Tretas. Nunca leu Fernando Rosas.
    Não passa duma fraude. Intelectual. Sem coluna vertebral e sem vergonha.
    Confere.

    Repescado dum post ao lado:
    "Fernando Rosas mostra-nos que o salazarismo foi, no essencial, um projecto análogo às outras ditaduras fascistas da época. Faz-se a este respeito uma distinção entre o fascismo enquanto movimento e o fascismo enquanto regime. O primeiro, representado em Portugal pelo MNS e integralismo, seria apenas um dos esteios em que assentou o segundo. Ocasionalmente, inclusive, esse fascismo enquanto movimento entrará em conflito com o Estado Novo feito regime. A detenção e posterior exílio na Espanha do líder integralista Rolão Preto será um exemplo dessa dissidência pela direita.

    Quanto ao fascismo feito regime, ele só se pode compreender como uma aliança das diversas direitas em volta de um programa totalitário que visava aumentar as margens de lucro da classe dominante – esmagando, consequentemente, o movimento operário de classe, como já foi referido. Do ponto de vista ideológico, o corporativismo salazarista procurará a sua legitimidade numa reaçcão contra os valores herdados da Revolução Francesa:
    Era o programa do novo regime: a recusa do demo-liberalismo, a constatação da falência universal do parlamentarismo, a apologia do nacionalismo orgânico e corporativismo, do Estado Forte, o intervencionismo dirigista na economia, do imperialismo colonial"
    'Salazar e o poder' de Fernando Rosas - Joseph Ghanime

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  10. Repescado num post ao lado:

    "Como é que a direita portuguesa de Salazar e a espanhola de Franco se tornaram fascistas?

    Fernando Rosas na apresentação da obra de Manuel Loff " O nosso século é fascista" salientou o «processo ideológico de fascistização das direita portuguesa, espanhola e italiana». «Como é que se dá esse fenómeno em que honrados católicos, republicanos, conservadores respeitáveis, se transformam em apoiantes do nazismo e fascismo, como é que as direitas se rendem à necessidade de liquidar o estado liberal, de reprimir o movimento operário, de acabar com o parlamentarismo do demo-liberalismo, como é que esse processo de reconversão ideológico se dá num quadro da hegemonia das ideias da nova ordem, que se tornam as ideias de um vasto sector da direita unificada»

    É ler o livro de Loff e Fernando Rosas. Mas também estar atento aos sinais emanados dos agora escondidos apoiantes do fascismo e do nazismo de outrora, convertidos no presente em entusiastas europeístas a cacarejar em alemão e a saudar a Troika como antes saudavam as tropas do eixo

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