segunda-feira, 4 de abril de 2016

Dos infernos fiscais


Perante o enésimo escândalo envolvendo infernos fiscais, podemos repetir duas ou três coisas, baseando-nos em parte numa boa análise desta pouca-vergonha institucionalizada.

Em primeiro lugar, os infernos fiscais são o produto deliberado da acção de muitos Estados desenvolvidos, os principais nós da rede dos paraísos fiscais, da Suíça à Grã-Bretanha, passando pelo Luxemburgo. Os infernos fiscais mais ou menos tropicais são muito falados, mas são apenas as periferias de uma rede.

Em segundo lugar, esta rede foi tecida sobretudo a partir dos anos setenta e é indissociável do fim progressivo, em particular nos países mais desenvolvidos, dos controlos de capitais, parte do processo mais vasto de privatização e liberalização dos sistemas financeiros; no continente europeu, este é o outro nome da integração europeia. Não há crise num banco que não passe por um inferno fiscal.

Em terceiro lugar, os supostos cosmopolitas progressistas, que nos dizem que a solução depende exclusivamente de acordos europeus ou globais, são aliados objectivos deste estado de coisas. Não é que a cooperação internacional não ajude. Ajuda e muito. Mas na sua base têm de estar acções nacionais unilaterais. Estas passam por reinstituir controlos de capitais, por regular o sistema financeiro de forma muito mais apertada, também através da socialização da sua propriedade, por deixar de depender de poupança externa. Por desglobalizar, a começar pela finança, em suma. Só assim os infernos fiscais podem vir a perder alguma da sua relevância.

É claro que há um detalhe que nos interessa por cá: a liberalização financeira está no ADN da integração europeia, do Euro. Em economia política isto está mesmo tudo ligado.

6 comentários:

  1. economia política
    e está tudo dito
    através de instrumentos económicos (polítca monetária, política fiscal, formas de regulação etc) determinar quem é beneficiado e quem é prejudicado
    como se distribui a riqueza gerada
    opções políticas, escolhas
    infelizmente a economia é uma das ciências, (senão a) que mais determina o caminho da civilização humana e pouca gente sabe os seus rudimentos básicos
    é também pouca gente a que conhece a biologia comportamental humana, que animal somos.
    E assim, através da propaganda e do controlo das emoções dos outros (incutindo-lhes, por exemplo euforia ou medo) faz-se passar por democracia o que não é

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  2. A socialização...
    A simplicidade da cousa!

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  3. A captura da democracia representativa...a funcionar!

    Os "representantes", em roda livre na decisão.

    Decisão em nome do Povo...

    ...contra o próprio Povo!

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  4. acabe-se com os monopólios estatais! privatização total! liberdade de circulação de capitais só com liberdade de circulação de pessoas! avante camaradas! vamos acabar com o estado e deixar apenas o direito da pessoa humana!

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  5. Um tipo suspeito fala em "socialização" em termos vagos , colando-lhe o rótulo misterioso de "simplicidade".

    Não se sabe quais os delírios mentais associados a tal associação. Sabe-se sim que desta forma tosca e patética se tenta ocultar as acusações graves de João Rodrigues:

    -"Em primeiro lugar, os infernos fiscais são o produto deliberado da acção de muitos Estados desenvolvidos, os principais nós da rede dos paraísos fiscais, da Suíça à Grã-Bretanha, passando pelo Luxemburgo"

    -Em segundo lugar, esta rede foi tecida sobretudo a partir dos anos setenta e é indissociável do fim progressivo, em particular nos países mais desenvolvidos, dos controlos de capitais, parte do processo mais vasto de privatização e liberalização dos sistemas financeiros; no continente europeu, este é o outro nome da integração europeia.
    -Em terceiro lugar, os supostos cosmopolitas progressistas, que nos dizem que a solução depende exclusivamente de acordos europeus ou globais, são aliados objectivos deste estado de coisas...Por desglobalizar, a começar pela finança, em suma. Só assim os infernos fiscais podem vir a perder alguma da sua relevância"

    Pormenor maior: " a liberalização financeira está no ADN da integração europeia, do Euro"

    A simplicidade como o das 19 e 12 tenta evitar a denuncia do funcionamento do Capital é directamente proporcional à falta de escrúpulos deste? Mas a deterioração está aí patente


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  6. Privatização total?
    Este é um provocador a fazer-se passar por libertador do direito da pessoa humana. Que como se sabe está completamente prisioneiro do Direito do Capital

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