sexta-feira, 27 de novembro de 2015

De novo a Europa com o PS?


A direita está em pânico e não creio que seja apenas porque muitos boys vão ter de ceder os jobs a outros boys. O que mais inquieta a direita é o anúncio de uma política económica que vai tentar romper com alguns dos seus dogmas, que, contando com a cumplicidade dos media, nos foram apresentados como política séria e inevitável. Só o facto de o novo governo assumir a necessidade de um estímulo à procura interna para, fazendo crescer o PIB, mais facilmente alcançar um défice orçamental abaixo dos 3%, é motivo de escândalo. É certo que o impulso dado à procura interna será parcialmente canalizado para importações, exigindo medidas complementares para reduzir essa fuga de rendimento. Receio que a criatividade dos novos ministros para minimizar este efeito não evite um confronto com a Comissão Europeia (CE). Porém, a alternativa proposta pela direita – estagnação da procura interna e promoção das exportações – é ainda mais problemática porque as exportações contribuem pouco para as receitas do orçamento e, sendo essa a política preferida pela CE, não têm potencial para crescer significativamente. Dado que as exportações de uns são as importações dos outros, não admira que a política económica dominante na zona euro tenha produzido uma estagnação duradoura e o permanente risco da deflação, que o próprio BCE reconhece ter dificuldade em travar. Por isso, com a política que acaba de ser despedida, ainda seria mais difícil o cumprimento das metas propostas para o défice. Tudo isto sem questionar a estúpida exigência europeia de uma política orçamental recessiva em tempo de depressão.

Outro dogma em risco, cada vez mais discutido nos media, é o de uma reformulação da carga fiscal sobre o rendimento e o património das famílias no sentido de lhe conferir maior progressividade. Não faltam convites ao jornalismo dos negócios e aos fiscalistas para virem dizer, de preferência no horário nobre das televisões, que os ricos não são taxáveis porque põem o dinheiro fora do país, pelo que fica apenas ao alcance do fisco um pequeno segmento da classe média que, imagine-se, corre o risco da proletarização (“Jornal de Negócios”, 26 de Novembro). Como é evidente, para estes especialistas em fuga ao fisco, que no seu conjunto constitui um poderoso lobby ao serviço dos mais ricos e das grandes empresas, a redistribuição do rendimento por via de um sistema de impostos progressivo é anátema. A cada momento lembram que os impostos prejudicam o crescimento da economia e que, a haver redistribuição, será sempre mais tarde porque primeiro é preciso produzir. Quer dizer, nunca. Para melhor transmitirem a sua mensagem, contam com a cumplicidade dos media para não ser contraditados. De facto, não faltam estudos científicos de grande qualidade a comprovar que a redução da desigualdade na distribuição do rendimento ou da riqueza, para lá das considerações de justiça e bem-estar social, é um importante factor de crescimento económico (ver R. Wilkinson e K. Pickett, “O Espírito da Igualdade”, Ed. Presença; Bill Mitchell, “Rising income and wealth inequality –1% owns more than bottom 99%”). Outra questão é saber se a CE aceitará alterações progressistas de pequena escala, quase cirúrgicas, em nome de um potencial impacto negativo na confiança dos mercados. Tal argumento já é mencionado nas declarações dos fiscalistas quando declaram que “mexer sistematicamente na lei dos impostos quebra a confiança”. Em boa verdade, aos olhos desta classe profissional a mudança de política que a democracia proporciona é incompatível com os interesses dominantes nas economias dominadas pela finança global. Claro, sabemos qual é a sua escolha.

O novo governo vai enfrentar a breve prazo uma oposição feroz da direita, interna e da UE. Com o apoio do eixo Bruxelas-Berlim-Frankfurt, assistiremos nos próximos meses a uma reedição, adaptada às novas circunstâncias, da campanha que esmagou o ingénuo projecto grego de “mudar a Europa”. Talvez o PS conte com promessas de apoio de partidos europeus da sua família política. O mais provável é assistirmos a uma nova traição, mas oxalá esteja enganado.

(O meu artigo no jornal i)

12 comentários:

  1. Diria que tudo depende do que acontecer nas eleições em Espanha. Talvez possamos assistir a uma coligação dos fracos a defrontar a Alemanha, o que será mesmo assim melhor do que a Grécia sozinha contra toda a Eurozona. E, claro, Hollande ganhou espaço de manobra, porque puxou literalmente dos galões e mandou o Tratado Orçamental às malvas. Por outro lado, como já aqui disse, valeria a pena que nos colocássemos ao lado da Alemanha naquilo em que a Alemanha tem razão, ou seja na resolução da questão dos refugiados. Eles saberão mostrar-se agradecidos flexibilizando o Tratado Orçamental... Seja como for, se insistem mesmo em preparar Portugal para a saída do Euro, concentrem-se na resolução dos problemas do sistema bancário. A Grécia foi encostada à parede em Julho sobretudo por causa do estado desgraçado da sua banca...

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  2. «...a criatividade dos novos ministros para minimizar este efeito não evite um confronto com a Comissão»
    dEstranho que os brilhantes economistas deste blogue ainda não tenham tomado a liderança em tal 'criatividade'. Receia-se que não exista!

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  3. Não estou a perceber como o 'brutal aumento de impostos' se torna agora tão pouco brutal que permita pensar que quem já teve taxas acima dos 50% possa vir a ter taxas mais elevadas.
    Fica também estranho que quem viu 'roubadas' as suas reformas as veja agora levadas por impostos.

    Fica bem fundada é a suspeita que é sobre a poupança que vai dirigir-se a sanha da roubalheira. seja mortis causa seja de qualquier outro modo.

    Esquerdalhos sempre rumam na mesma direcção: SAQUE!

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  4. Os gregos foram avisados em Janeiro que havia o perigo de secar os bancos; espertos como são em Junho tinham os bancos fechados.
    Aqui os nossos tudologos e pulhas da desimformaºão, gostam de culpar a UE por não deixar; a UE sé tem de deixar se precisarmos do dinheiro deles; os paises sem defice excessivo fazem o que entendem e a UE não tem nada a dizer, nem diz.

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  5. José, só um aparte:
    -Este País tratado "cirúrgicamente" pela clique Cavaquista, transformou-se num Oásis tão convidativo, tão agradável, tão apetecível, que nem os refugiados Sírios querem vir para cá!...Entre 5.000 refugiados contactados, só 50 aceitaram vir!

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  6. Meireles, até os sírios sabem que em terra de treteiros sempre acaba por escassear o pão.
    E já agora faz as contas, e vê qual foi a camarilha que gerou o último resgate.
    E recorda quem mais ladra na sanha do 'tudo a todos'.

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  7. Os partidos europeus da família política do PS não o vão apoiar pelos seus lindos olhos nem por terem belos sentimentos de solidariedade. Mas vão apoiá-lo se sentirem que a sua própria sobrevivência depende de um corte com o blairismo.

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  8. Zé:
    Quando falas em treteiros deves estar a referir-te aos laranjinhas, certo?...Cavaco está no Poder -entre Ministro da Treta, 1º Ministro e Presidente de Portugal- desde 1980 e já antes andava por lá nobre da Costa, Mota-Pinto, Sá-Carneiro, Freitas do Amaral, Pinto Balsemão, Durão Barroso, Santana Lopes, Passos Coelho...Chega ou queres mais?...Se achas que é pouco.

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  9. E Zé, escassear o pão?
    -Num País que é um Oásis na Europa?...Num País que vive acima das suas possibilidades e onde um treteiro como o Sérgio Monteiro leva 30 mil Euros por mês e ainda exige que seja o Banco de Portugal a suportar os outros encargos com o Fisco e com a Segurança Social?... Escassez de pão? -Para quem?...
    Os Sírios sabem bem é a qualidade dos indivíduos como Passos Coelho, Paulo Portas, Cavaco Silva ou Sérgio Pinto...Como eles existem muitos na Síria.

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  10. E outra coisa meu querido José, quem levou o País à falência foram os teus "camaradas" que foram a correr em 2010 depois de fazerem cair o Governo de Sócrates por causa de um Pac que era muito menos gravoso que aquele que tanto forçaram, fazer queixa à Europa e exigir um resgate Financeiro para fazer em Portugal toda a Política que há muito -desde 1975- desejavam levar a cabo, isto é a destruição dos salários da Função Pública, dos Pensionistas, dos Subsídios Sociais, dos Serviços Médicos e Assistência Medicamentosa, desregular os mecanismos de Contratação Social, acabar com os CCTV e entregar tudo o que eram Empresas de Referência do Estado para as mãos dos especuladores Privados.Cambada de Corruptos.

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  11. 18 anos de Governação Laranja/Azul...
    A culpa foi do Vasco Gonçalves.

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  12. Estou farto de vocês se sentirem inimputáveis!
    Toda essa cambada deveria ir fazer companhia a José Sócrates!...A Cadeia de Évora ficava a abarrotar só com estes meninos...

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