«A caracterização do eventual governo do PS como uma “geringonça” foi feita por Vasco Pulido Valente e repetida com evidente gozo por Portas, dando o mote para vários deputados do CDS que costumam repetir o chefe. Muito bem, não me parece que haja qualquer problema em aceitar a classificação, tanto mais que ela não é tão pejorativa como eles pensam. Mas proponho outra simétrica para o governo PSD-CDS, muito menos ambígua e que não há imaginação criadora que lhe encontre qualquer sentido positivo: a avantesma. A geringonça apareceu para que não nos assombre a avantesma.
Geringonça não é uma designação tão má como isso. É verdade que é "coisa mal feita, caranguejola, obra armada no ar". Mas perguntem ao MacGyver e dêem-lhe um canivete suíço. A primeira máquina a vapor, a primeira lâmpada, o avião dos irmãos Wright podiam ser designadas como geringonças, mas as máquinas a vapor, as lâmpadas e os aviões que vieram a seguir já não eram geringonças. É que, para uma maioria dos portugueses, que votou "contra o governo" – insisto a única interpretação sólida dos 62% de votos –, ficarem lá "os mesmos", seria o pior dos pecados e é essa força invisível e visível que permitiu a geringonça. É também por isso que o cimento da geringonça não está nos acordos, nos "papéis" como diz pejorativamente a direita, mas no que permitiu que eles se fizessem.
Vamos à avantesma. Os nossos dicionários são inequívocos "aparição de uma pessoa morta", "pessoa ou objecto assustador, disforme ou demasiado grande". Morto está, mas o Presidente da República ainda lhe permite que mexa, para ainda maior susto dos portugueses. Mete medo? Mete e ainda devia meter mais. Todo o processo da avantesma, o seu "conceito" como agora se diz, está bem explícito na história da devolução dos 35% da sobrecarga do IRS, que agora se verifica ser zero. Porque é que a história da devolução do IRS fantasma está na massa do sangue da avantesma? Porque foi isso que reiteradamente semana sim, semana sim, a coligação fez nestes últimos quatro anos e continua a fazer como quem respira.»
José Pacheco Pereira
PS, BE e PCP já podiam ter acabado acabado com esta novela se, pura e simplesmente, tivessem feito um acordo único assinado por todos em simultâneo. Mas, como bem notou Francisco Louçã, não se pode prometer "um Governo estável, responsável, coerente e duradouro na perspetiva desta legislatura" (António Costa) e depois os 3 partidos não serem capazes sequer de estar na mesma sala ao mesmo tempo para assinar um acordo conjunto. Repare-se:
ResponderEliminar- Foi António Costa quem estabeleceu as expectativas: não tinha de o fazer, e muito menos nestes termos, mas fê-lo;
- O resultado afinal são 3 acordos com 3 partidos que não são capazes sequer de estar na mesma sala ao mesmo tempo para os assinar.
O PS bem tenta mas BE e PCP não são capazes de fazer um esforço simbólico (os acordos até podiam ser os mesmos!).
O Pacheco quase me comove com aquele ar de bom menino mal-compreendido.
ResponderEliminarOu talvez seja porque o compreendo, tão estudioso da Política com suas ideologias, da Sociologia com todos os seus dramas e vêm dizer-lhe que só a Economia garante a felicidade do povo?
A baixeza de subordinar tão altos desígnios ao resultado das exportações de coisas comezinhas dependentes das decisões de gente comezinha, ignorante, reaccionários até.
E haver um goveerno que reconheça essas coisas...sem elevação no discurso, só falando em números, que sempre mudam, abandonando as grandes frases que revelam grandes pensamentos, perenes...
Venha a geringonça, abundante em palavras, hostil a números, com suas bandeiras e fanfarras.
Enfim, a felicidade. Enfim a relevância!
O anónimo de 23 de novembro de 2015 às 13:09 deve ser o Cavaco
ResponderEliminarSó argumentos a servir a direita e ainda por cima ignorando as várias convergências já assumidas e comprovadas.
A coincidência de frases nas recepções com Cavaco, a eleição de Ferro, a eleição de Lacão e Pureza, a convergência na votação da(s) moçõe(s), a manutençao dos argumentários em sucessivas entrevistas sem perderem o essencial.
Tretas, 23 de novembro de 2015 às 13:09 deve ser o Cavaco, tretas. qualquer coisinha que pareça crítica À esquerda alimenta essas esperanças.