1. O Ricardo Paes Mamede já se referiu aqui à eficácia do discurso com que a maioria de direita se apresentou às legislativas do passado domingo, construído a partir de uma «narrativa» tão simples quanto poderosa (ou justamente poderosa porque simples): «i) o PS pôs o país à beira do abismo, ii) com o empenho e sacrifício dos portugueses conseguimos pôr a casa em ordem e iii) se o PS ganhar as eleições todo este esforço pode estar em causa».
2. A partir dessa base, foi abundantemente explorada - na própria estética da campanha - a ideia de que o governo PSD/PP conseguiu recolocar o país «na rota do crescimento». Num dos tempos de antena do Portugal à Frente, uma criança desenha no ar, com o indicador, a linha da suposta «inversão» da situação em que o país se encontrava, surgindo no final o logotipo da coligação, a formar uma seta, para reforçar a noção de que à «queda necessária» (inerente aos sacrifícios) sucedera a «recuperação».
3. O João Ramos de Almeida já o disse aqui: no decurso da campanha, a esquerda «não conseguiu esvaziar a tese oficial de que a frágil retoma económica que se verificou desde meados de 2013 (...) teve a ver com a política levada a cabo pelo Governo». A desconstrução dessa tese permitiria aos eleitores constatar o fracasso do governo nos seus próprios termos e objectivos, desmascarando eficazmente as manobras de dissimulação da realidade e sinalizando os verdadeiros factores que contribuíram para a percepção de uma melhoria difusa da situação do país (entre os quais o travão à austeridade imposto pelo Tribunal Constitucional ou o papel do BCE na descida das taxas de juro).
4. É verdade que a coligação de direita perdeu a maioria no passado domingo, dado o reconhecimento do seu falhanço por parte do eleitorado. Como é verdade que a desconstrução da «narrativa» que alçou o PSD/PP ao poder, sobre as origens da crise e sobre o «êxito» da governação nos últimos quatro anos, tem vindo a ser feita. E também é verdade que persiste um bloqueio quase total dos meios de comunicação social, sobretudo das televisões de canal aberto, a vozes dissonantes do situacionismo e do mainstream. Mas a perplexidade subsiste: como foi possível à coligação, mesmo assim, fazer vingar a sua «narrativa» e desse modo vencer as eleições, depois de quatro anos de destruição e retrocesso, de mentira e de degradação generalizada da nossa vida colectiva?
Consegue a esquerda fazer chegar as suas mensagens ao mais comum dos cidadãos? Será que apenas alcança - em debates, publicações e iniciativas - circuitos e universos («reais» ou «virtuais») demasiado restritos? Com a ilusão de comunicar de forma ampla, quando na verdade não sai dos aquários em que se move, mobilizando essencialmente os «mesmos de sempre», as militâncias e os já convencidos?
Sabemos bem que a «narrativa» da direita funciona facilmente com imagens e ideias simples, do senso comum. Mas talvez também por isso se torne necessário repensar as estratégias, a codificação das mensagens e os meios para comunicar com as «massas». Talvez seja preciso algo tão bem engendrado e eficaz como o «Observador». Só que de esquerda.
Mais gráficos e mais gráficos. E mais gráficos ainda. Que raio de oposição é esta, meu? E a rua, pá? Tu não sabes ir para a rua lutar, ó esquerda caviar? Os outros tinham 3 frases de campanha. O povo gostou. Tu antes da campanha fizeste 17800 gráficos. Agora continuas com mais gráficos. Não aprendeste nada nos últimos dias. já perdeste as eleições, meu. Tu não tens nada para fazer, meu?
ResponderEliminarA esquerda faz-se ouvir, e como não a ceitam, clama que não se fez ouvir.
ResponderEliminarOuviu-se longa e detalhadamente e não se acreditou o bastante.
Na próxima troika o governo de então vai fazer melhor! Como na Grécia.
1) A maior força da "narrativa" da coligação é o facto de ser colada à realidade, ao contrário das teses da oposição;
ResponderEliminar2) O melhor exemplo é a conversa de que o tribunal constitucional travou a austeridade. Travou? O que o tribunal constitucional disse foi que o resultado que se pretendia não podia ser obtido por cortes da função pública, portanto seria preciso aumentar os impostos, ou seja, do ponto de vista do dinheiro retirado à economia o montante da austeridade é o mesmo. Ora quem conta histórias da carochinha não pode estar à espera que pessoas adultas o live a sério.
Quando a oposição quiser obter resultados o melhor que tem a fazer é deixar-se de negar a realidade e desenhar políticas alternativas para actuar sobre o que realmente existe em vez de pintar realidades paralelas.
henrique pereira dos santos
Concordo em absoluto, Se os canais de comunicação tradicionais estão todos bloqueados porque está TODOS na mão da direita neo-fascista e totalitária, a solução passa obviamente por a esquerda criar canais próprios.
ResponderEliminarMas essa é uma conclusão que já se deveria ter chegado há uns anos atrás.
Desculpe, Nuno Serra, o sr está a esquecer que a narrativa da direita foi muito bem aolitada pelo PCP e BE. Quem viesse "de fora" e ouvisse Catarina e Jerónimo pensaria que o PS tinha estado os últimos 4 anos no governo. Desde o chumbo do PEC IV que a coligaçâo negativa nunca mais se desfez.
ResponderEliminarÓ Henrique vai contar histórias da carochinha para o Insurgente, lá tens uns ignorantes que te darão ouvidos e loas.
ResponderEliminarAqui só estás a gastar caracteres do teu teclado e a poluir a internet com a tua propaganda de salão de cabeleireiro.
"Realidades paralelas" será a manutenção do défice excessivo, uma divida cada vez mais impagável, a miséria a cada esquina, 2 milhões de pobres, 22% de desemprego real, 500 mil emigrados, falhar TODAS as metas a que se propuseram, etc, etc.
eheh Devias era ter cuidado com esses ácidos marcados que andaste a tomar na Jota. Estás a fritar!
ResponderEliminarTudo isso , sim .. mas também a teimosia da esquerda ao ignorar e não querer ter consciência do terrorismo cacique que se exerce sobre os eleitores das freguesias do interior.
As mesas são constituídas só , e exclusivamente por lacaios de raivosos fascistas. Eles imprimem terror nas frágeis cabecinhas dependentes dos seus trabalhitos precários . Os velhos , ah ... esses , são levados até à boca das urnas indicando-lhes o quadradinho exato da cruzinha .
A fraude pratica-se sem qualquer pudor . Estão devidamente instruídos e como fazê-lo. Conhecem os nomes de todos os eleitores . Aqueles que estão ausentes , não há problema... os constituintes da mesa são pressionados a colocar a cruz num boletim de voto e metê.lo na urna .
Esta realidade, a realidade dum pobre país , de cabeças pobres e podres associada à inércia da esquerda concentrada só nos grandes centros urbanos, oferece de bandeja as maiorias a criminosos.
A coligação de Direita tem sempre a vantagem de possuir uma máquina de propaganda de uma comunicação social dependente, muito especialmente a comunicação audiovisual que tem um grande impacto nos meios rurais onde existem as populações menos esclarecidas. A situação económica financeira e social do país continua a ser preocupante e não corresponde de forma alguma ao proclamado pelos partidos governamentais, que nada fizeram com a sua política para que houvesse uma melhoria , antes pelo contrário. A situação do País agravou-se em relação a 2011. Registou-se nesse período a falência de um grande banco e a desindustrialização continua imparável. A emigração durante o paríodo em que o actual Governo tem estado no poder teve valores superiores aos registados na década de sessenta ,(em dois anos emigrou mais de 2% da população do País) em que havia a existência da guerra colonial, que estava a esgotar os recursos materiais e humanos da Nação. Uma situação que levou populações a emigrar para fugir à guerra e também às más condições de vida.
ResponderEliminarA revista francesa " Alternatives Economiques"publicou recentemente um artigo em que é apresentado uma série de gráficos comparativos com Portugal , Irlanda , Espanha e Grecia.Verifica-se no gráfico que relaciona o PIB no tempo o mais desfavoravel é o que diz respeito a Portugal.Mostra precisamente uma recessão económica contínua e uma economia destruturada.
Penso que é importante desmistificar os próprios nomes dos partidos.
ResponderEliminarExistem pessoas que têm medo dos partidos de esquerda. No entanto, as políticas defendidas pelos partidos de esquerda (excluindo o PS, logicamente, por não ser um partido da dita esquerda) são políticas social-democratas. O PSD (que, pelo nome, indica ser social-democrata) é um partido liberal (à maneira dos países anglo-saxónicos).
Este é um velho problema da democracia. As pessoas não estão informadas nem fazem ideia do que estão a fazer quando votam. A percentagem de pessoas que lêem programas políticos certamente é mínima.
As pessoas têm medo e o medo é alimentado pela ignorância.
Outro ponto a repensar é o sistema eleitoral português. 43% de eleitores não votaram. A maioria dos eleitores que votaram não votaram no PaF.
A legitimidade é no mínimo questionável.
Cumprimentos pelo blog e continuem
Daniel C.
É, é preciso um projeto editorial claramente de Esquerda, é preciso pôr a Esquerda a discutir e a gizar planos de ação e não mera retórica, é preciso retomar a batalha cultural para ganhar a política, porque de outro modo acumularemos derrotas atrás de derrotas, como nos últimos 30 anos, é preciso começar pelos pequenos passos porque é assim que se iniciam as viagens...
ResponderEliminarAndré,
ResponderEliminarEstou bloqueado no Insurgente, não posso comentar lá.
E quanto ao meu argumento sobre o tribunal constitucional, há alguma coisa a contrapor?
henrique
O problema não é a mensagem da direita ser mais forte ou mais fraca, é haver duas esquerdas. Enquanto isso se perpetuar, ou governa a direita ou governa o PS, através da captação de votos ao centro de eleitores cansados ou descrentes de qualquer governo de direita. Até quando?
ResponderEliminarO problema é MESMO esse...há o observador e há jornais etc...tudo mais ou menos conservador
ResponderEliminarA vocação da esquerda é ser vítima!
ResponderEliminarNão lhe dão voz, não lhe dão votos, não lhe dão razão!
Possui verdades absolutas; e se não lhas aceitam, naturalmente isso é por factores outros que não as suas razões, que sendo absolutas, são inquestionáveis, insofismáveis e irrecusáveis.
Como uma fé qualquer...
Não há pachorra!!!!
Um jornal de massas e de esquerda, anti-capitalista até. Receita mil vezes apontada mas nunca executada, nem se percebe porquê, uma vez que seria tão fácil encontrar financeiros dispostos a financiar um projecto crítico ao domínio da finança, não é? ;)
ResponderEliminarMJH
Não lhe dão votos? Chama a mais de 50% do eleitorado falta de votos, quando a direita teve menos de 39%? Se lhe falta a pachorra o que é que vem cá fazer? Ninguém o obriga!
ResponderEliminarA mensagem da direita é simplista. Mas tem a vantagem de ser simples.
ResponderEliminarÉ mais fácil explicar um mundo usando só preto e branco do que ter em conta todos os tons de cinzento que vão de um lado a outro.
O que teria sido necessário:
ResponderEliminar1) um discurso unânime da esquerda e relembrar a crise financeira. Tácticas políticas impediram-no e, ao invés, desgastaram quem queria dizer simplesmente que "o império contra-atacou quando se viu cercado" (império, leia-se "mundo financeiro");
2) Ao ler o Ladroes, a Câmara Corporativa, o Pedro Lains, e todos os que, direta ou inderetamente, me são aconselhados por estes, fica bem patente a diversidade da esquerda. Ainda bem. Mas, note-se, o Observador é só um, aparece sempre nas primeiras páginas do google e agrega desde os bombistas do Iraque às "Madres Teresas de Não Sei de Onde".
Podíamos aproveitar a onda e chegar-lhes forte e feio, porque somos mais e melhores.