sábado, 17 de outubro de 2015

O empobrecimento competitivo

Assinalando o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza (17 de outubro), o Instituto Nacional de Estatística apresentou ontem - num documento síntese que vale a pena ver na íntegra - os dados definitivos do mais recente «Inquérito às Condições de Vida e Rendimento». O balanço da legislatura que agora termina não podia ser mais claro: Portugal converteu-se num país mais pobre e mais desigual, como demonstram os resultados obtidos pelo INE.


O Risco de pobreza, que se manteve em cerca de 18% até 2011 dispara, em 2013, para 20%. A Intensidade da pobreza sofre um agravamento sem precedentes: aumentando apenas cerca de meio ponto percentual durante a crise financeira (2008-2011), regista um acréscimo de dois pontos percentuais desde então (para passar a situar-se, em 2013, nos 30,3%). A Privação material severa, que traduz a carência forçada num conjunto de itens (como a capacidade para pagar a renda, ter uma refeição de carne ou de peixe pelo menos de 2 em 2 dias, ou manter a casa adequadamente aquecida) atinge os 10,6% (quando entre 2008 e 2011 tinha descido de 9,7 para 8,3%). Por último, a Desigualdade na distribuição do rendimento atinge um rácio de 6,2 na diferença entre a proporção do rendimento dos 20% da população com maiores rendimentos e o rendimento auferido pelos 20% com menores rendimentos).

Poderá pensar-se que estes são os custos inevitáveis do «ajustamento», mesmo quando os dados desmentem a «ética social na austeridade», prometida pelo governo no início da legislatura. Mas o que sucede, na verdade, é que o empobrecimento constitui um dos vectores essenciais da proclamada «mudança estrutural da economia portuguesa», assente na competitividade à custa de cortes nos salários directos e indirectos (e que implica, por seu turno, a desestruturação do mundo do trabalho e o reforço das «zonas de conforto» e dos rendimentos do capital).

É por isso, aliás, que muito do que está em causa nos dias que correm é a escolha, para o nosso futuro, entre uma economia medíocre, que aprofunda o empobrecimento do país, e uma economia aposta na qualificação do trabalho, na modernização dos tecidos produtivos e na coesão social. Pensar que uma e outra se podem conciliar e calibrar, num qualquer Orçamento de Estado negociado com a direita, é não perceber o que se passou nos últimos anos e subestimar a agenda ideológica que se pretende prosseguir, com a ajuda e cumplicidade das instituições europeias. Já bastam, de facto, as dificuldades e constrangimentos que teremos de enfrentar.

3 comentários:

  1. Novidade nenhuma saber-se que reduzir o endividamento é reduzir um bem-estar artificialmente construido em cima do crédito.
    Construir «uma economia aposta na qualificação do trabalho, na modernização dos tecidos produtivos e na coesão social» não é à esquerda ou à direita que se resolve, mas sim na disponibilidade de capital, quantidades massivas de capital, e de empenho quanto baste; não do empenho da treta mas sim do empenho do dever e do sacrifício valores que sempre a esquerda deixa para o pacote de arcaismos que atribui à direita. E se no processo o capital é privado, acresça-se a confiança de não ser apropriado pela sanha distributiva que é bandeira e razão de ser da esquerda.
    Uma política de esquerda, precisa-se?
    Como de lenha para o um incêndio...

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  2. Este caniche do José nem aos fins-de-semana descansa.
    Só em latas de wiskas para pagar tanta hora extraordinária vai ser uma pipa de massa que o dono Passos tem de (nos) gastar: e lá se vai a meta de défice.

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  3. o jjose não deixa de ter razão no que diz na primeira frase, cabe perguntar quem começou a fazer isso, como isso foi possível, o seu erro esta a atribur isso a esquerda, mas o jose se calhar não sabe que foi a direita empresaria com apoio dos governos de matriz neoliberal, que começou a cortar salários, congelar salários, dsiminuir prestações, sustituindo-as pelo cartõ de crédito, a maior dívida que existe em Portugal é a dívida das familias para a compra de casa, quem inciou as politicas de mercado a fim de resolver os problemas de habitação foram os governos do Cavaco, e depois continuo-se porque foi um excelente negócio para bancos e empresas de construção, 70 mil casas por ano, o jose defende a libre iniciativa, mas a sua ingenuidade me espanta, os empresários portugueses , os que ficam são pequenos e medios, os grandes so na distribuição, na pasta e papel, o resto foi todo privatizado e desnacionalizado, as grandes alavancas privadas não existem, nem a banca é portuguesa, o Passos Coelho diz em 2011 que era a hora dos privados de puxar pelo investimento. Jose para opinar é precisso conhecer bem a realidade, deixe a ideologia para la, nenhuma serve, o que nos distingue são os valores, eu creio num empresario inovador, organizador de mercados, exportador, nesse sentido temos que mudar, porque as falencias do BPN, BES, a falencia técnica do Banif, meia oculta do BCP, BPI, mostra que o sector privado sem estado forte vira enemigo do pais,

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