sábado, 17 de outubro de 2015

Hoje temos aula


Para lá do óbvio economicamente ululante – o fracasso retumbante da austeridade inscrita na zona euro ou a insustentabilidade da dívida e a necessidade da sua renegociação e reestruturação –, acaba por ser frustrante ler Yanis Varoufakis no Público. No início da entrevista, o reconhecido erro de avaliação da economia política da zona euro – “o meu grande erro foi imaginar que esta era uma negociação honesta e genuína” – desemboca, no final da entrevista, na forma ainda intelectualmente mais vistosa de fuga para a frente e de impotência políticas – “chegou a altura de os cidadãos europeus se juntarem e formarem um movimento pan-europeu”, aparentemente à revelia das dinâmicas políticas nacionais. Pelo meio, vem a recusa não argumentada de “planos credíveis para a saída do euro”. Credível para quem?

As perguntas a colocar multiplicam-se, começando pela que considero principal – afinal, de que é quem têm medo e de que é que temos medo? – e que foi formulada também a pensar nas fórmulas ditas kantianas de Varoufakis; apelos à ética das elites muito difundidos à esquerda, mas ausentes na prática da direita. Esta no fundo sabe de que é que é feita a política, a sua política – de poder e dos seus instrumentos.

Há muitas outras perguntas. Por exemplo e para não ir às mais óbvias sobre a experiência grega: Será que não se aprendeu nada com a experiência fracassada dos fóruns sociais europeus? Não acha que considerar o modelo federal dos Estados Unidos como horizonte normativo é a melhor demonstração da irrelevância da esquerda face à potência do vírus liberal? Quem paga os bilhetes para a deslocação das classes populares a Bruxelas, a Berlim ou a Frankfurt e para onde se liga quando se quiser falar com tal movimento, desdobramentos radicais da famosa pergunta realista de Kissinger, que hoje tem desgraçadamente uma resposta? A política pan-europeia é absolutamente necessária, mas será que a que não seja feita a partir da aprendizagem com, e do contágio de, experiências políticas democráticas nacionais vitoriosas e transformadoras, do enraizamento comunitário, poderá ser mais do que um jogo de elites intelectuais e políticas, os tais passageiros frequentes facilmente perdidos nos não-lugares de Bruxelas?

Bom, lá estaremos hoje na aula de Yanis Varoufakis. Aprende-se sempre e sobretudo com quem se discorda à partida, mesmo que seja só em alguns pontos. A entrada é livre e há transmissão em directo.

8 comentários:

  1. Cito-o: 'apelos à ética das elites muito difundidos à esquerda, mas ausentes na prática da direita. Esta no fundo sabe de que é que é feita a política, a sua política – de poder e dos seus instrumentos.' Lembro-lhe apenas que sempre que a Esquerda adotou esta visão puramente maquiavélica da Política, os resultados não foram brilhantes. Existe um espaço de contestação para a Esquerda Radical, mas convém que se lembre que o eleitorado detesta ruturas e que nunca poderá, dentro dos constrangimentos do sistema representativo em que nos movemos, fazer algo que vá contra a sua vontade durante muito tempo. É que se a via que defende é outra, terá ao menos que ser mais claro quanto a isso...

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  2. Lendo o seu texto, João Rodrigues, assalta-me logo a ideia de que, para si, só a linha dura - e pura, claro(!) - é a da saída do Euro!...E não há mais discussão!...Mas será que os partidos comunistas "clássicos" se poderão dar ao trabalho de ESTUDAR A SÉRIO OUTRAS SOLUÇÕES PARA A CRISE EUROPEIA - E SÓ FALO DESTA - SEM SER A VOSSA? É que ainda não nos demonstraram o IMPACTO A LONGO PRAZO para no mundo actual podermos "viver sós no nosso cantinho"...!?!

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  3. Desde quando é que sair da moeda única é a mesma coisa que autarcia?! Não é...

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  4. M.G.P.MENDES é que sabe. Saído de tal cabecinha, tanto brilho que cega.

    M.G.P.MENDES defende a dura linha empírica, cujos resultados foram por demais comprovados e prevista em toda a linha pela tal linha dura de que fala (e onde até se vislumbra joão ferreira do amaral, aristocrata, mas engordado de décadas de criacinhas ao breakfeast) contra a linha por demonstrar, diz ele, dos que acertaram em toda a linha.

    Os sábios que nos garantiram que era só facildiades e nos soterraram no esgoto social com o benefício da dúvida, os que nos alertaram e foram insultados, vistos como radicais loucos

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  5. Acho curioso, esta intransigência na defesa desta “ democracia representativa “ ,

    que está farta de dar provas, de não passar de um logro para o POVO.

    A direita, quererá ser servida e, como tal, este faz de conta… serve-lhe.

    Isto não vai lá com paliativos.

    Qualquer estrutura organizativa, que impossibilite as decisões do POVO de serem consequentes …

    Nota:

    Faltou perguntar ao Varoufakis,

    como punha os “representantes” a…
    efectivamente representarem!

    Se é com a boa vontade… nem a Representação nem a Europa vão lá!!!

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  6. Será que a Heloísa Apolónia já pariu?
    Agora, em vez da voz do próprio e o seu eco, parece que temos no Ladrões a voz do próprio, a do seu eco e o eco do seu eco.
    Fosca-se, entre o caniche do José e este DE (em triplicado) venha o Diabo e escolha.

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  7. Béu, béu, Manelinho?

    Andas nervosinho? Tem calma que está a chegar a naiora de esquerda e não vai faltar festa e divertimento!

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  8. Infelizmente, há sempre a possibilidade de tanto o projeto transnacional do Varoufakis quanto o teu projeto soberanista serem fugas para a frente.

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