Só hoje vi o debate entre Catarina Martins e António Costa na TVI24. Aconselho a quem não viu, que o veja. Mesmo para quem não seja um partidário de alguma das duas barricadas.
Foi um debate profundo a abordar assuntos complexos, dentro do que é possível em poucas dezenas de minutos de televisão. Foi diferente dos restantes. Foi um debate em que ficaram a nu as fragilidades nos programas de ambos os lados, que na realidade são mais as fragilidades de um pequeno país integrado numa Europa de poderosos, no seio de uma moeda única cristalizada. E em que essa mútua nudez pode ser útil para a consciência entre nus conscientes desse facto.
Primeiro, essa mútua nudez pareceu tornar possível dialogar. Havia muitos terrenos comuns. Uma linguagem comum. Também, estranho seria se não houvesse, ao fim de 4,5 anos de coligação de direita. Mas é sempre bom enfatizar o que une e não o que separa porque já é muito.
Depois, há uma restrição conhecida e que é tóxica. São 9 mil milhões de euros de serviço da dívida pública, dívida que se sabe ser insustentável, porque as taxas de crescimento do PIB serão inferiores às taxas de juro subjacentes a essa dívida. Não vai dar porque à medida que o tempo passa só agravará a situação. Como viver, pois, sob o Tratado Orçamental e com esta restrição?
Sabe-se que a resposta a esta questão divide a esquerda. Mas esta questão poderia unir a esquerda. Até porque ambos os lados da esquerda respondem a ela baseados em profissões de fé que entroncam nas respectivas matrizes de identificação e, já agora, em História acumulada.
À esquerda do PS, desconfia-se da sinceridade – e até da seriedade - do lado socialista. Acredita-se na proposta antiga e válida da desalienação dos povos, no rompimento das cadeias de quem nada tem a perder. Acredita-se que há vantagens num quadro de defesa íntegra da soberania, até às ultimas consequências. Mas o plano ainda não está completamente desenhado, tanto nas vantagens e desvantagens, como nos instrumentos a usar. Talvez porque o problema essencial é não ser possível definir completamente o desenho. No PS, por seu lado, acha-se esta posição vazia de realismo e acredita-se antes no virtuosismo de negociar com a Europa para a alteração de um quadro orçamental irracional.
É isto inconciliável? Parece, mas não é. O caso grego mostrou até agora que uma negociação não é fácil. Passos Coelho negociou da forma mais soft, conseguiu algumas melhorias, alguns adiamentos, mas não resolveu em nada o problema de fundo, até porque nem sequer contribuiu para o identificar. A Grécia identificou-o claramente e adoptou uma posição de força, mas foi vergada.
Olhar friamente para o terreno, de forma conjunta, pode ajudar a encontrar um pensamento conjunto. Depois, encontrar um terreno comum para a negociação pode ser útil, mais não seja para melhorar a posição de quem negoceia, mas inclusivamente – caso falhe – para provar aos socialistas que a negociação é inviável no actual quadro da Europa.
Todo o tempo que se “perder” em conjunto, é tempo ganho para se encontrar uma solução. Porque tem de haver uma solução. Ou então vamos empobrecer todos em conjunto.
Ha muito que não lia algo aqui que poderia subscrever quase ipsis verbis. O PS tem um caminho a percorrer para se libertar do seu Europeísmo acrítico, a sonhar com uma Europa Federal que nao existe e que so existira nos sonhos dos Socialistas, ate porque a Alemanha atual parece ter perdido o interesse no Ocidente, e parece querer voltar-se de novo para Leste. A Esquerda da Esquerda precisa, como diz, de encontrar uma Estratégia para a Alternativa, porque uma Alternativa sem Estratégia não e nenhuma Alternativa. Nao basta dizer que e preciso renegociar a divida e no limite sair do Euro, e preciso explicar como fazê-lo. As Guerras nao se vencem pela Forca dos Princípios mas pela das Armas. O Syriza chegou a Bruxelas com nada mais senão os seus princípios e acabou a defender uma posição que não envergonharia Passos Coelho. Para isso, prefiro as meias-tintas de Costa que e bem mais astuto do que a dupla Tsipras-Varoufakis. E prefiro já agora Catarina Martins e o BE, que parecem ter aprendido alguma coisa com a Crise Grega. Sera bom que os Partidos da Esquerda, qualquer que seja o resultado a 4 de Outubro comecem a cavar trincheiras. Isto passa pela questão da necessidade absoluta de títulos de imprensa a Esquerda, que combatam a hegemonia intelectual da Direita, passa pela construção de modelos macro e micro-económicos que simulem o choque de uma saída do Euro, passa pelo desenho de medidas de curto prazo em caso da dita saída, passa no fundo por fazer a Guerra a Direita no campo dos Princípios, das Ideias e das Políticas. Como muito bem diz, um futuro Governo de Esquerda que queira quebrar grilhetas, não pode apresentar-se nu em Bruxelas, tem que ao invés que la chegar bem couraçado...
ResponderEliminarO problema é que o que une António Costa e o PS à coligação PSD/CDS é muito mais do que o que o une aos partidos à sua esquerda. Isso foi bem confirmado no debate de ontem. A bem dizer, Costa o máximo que conseguia era dizer que o seu programa não era tão mau como o da direita.
ResponderEliminarDe resto estão unidos no fundamental. Só para pegar nos temas de ontem: na oposição à reestruturação da dívida, na conformação ao tratado orçamental (façam-se as leituras, mais "inteligentes" ou mais estúpidas, que se fizerem), na descapitalização da segurança social.
Há sempre a possibilidade de dialogar ou fingir que se dialoga.
ResponderEliminarA Sra. propôs encontrar-se com o futuro patrão no dia seguinte as eleições se ele aceitasse essa chantagem… teve o desplante da imaturidade … querem unidade e no entanto a primeira coisa que fazem antes da pregação e´ dividir o eleitorado a` esquerda. Para que tanto partido dito de esquerda?
Porque e´ que o PS haveria de ceder…e não o BE a essa tramoia?
Há muito que assumo a unidade das forças antifascistas que não e´ a mesma coisa que unidade das forças de esquerda.
Acho ate imperiosa essa tarefa conjunta…mas não esqueço o divisionismo burgues que o PS com Mário Soares, praticou ainda em tempos ditatoriais. Ao aceitarem a NATO e a U.E. não poderão em tempo algum unir-se!
Convém entender que a U.E. e´ um alvo a abater por sua vassalagem aos ditames do Imperio. De Adelino Silva
obrigado João, que não consegui ver o debate
ResponderEliminarJá me cheira
ResponderEliminarExercícios dialécticos em torno do 'faz de conta que há um mundo diferente'.
ResponderEliminarjOSÉ,
ResponderEliminarum mundo diferente dos oliveiras costas,dias loureiros,e dos mata velhinhas, seu psicopata de merda!