sábado, 12 de setembro de 2015

Um trabalhista


Nestes tempos cada vez mais sombrios, uma excelente, excelente, notícia: Jeremy Corbyn foi eleito líder dos trabalhistas britânicos com cerca de 60% dos votos, beneficiando de uma extraordinária mobilização cidadã, mais de meio milhão de participantes, contra a austeridade, a fazer lembrar o tipo de mobilização a partir de baixo que, por exemplo, levou o Partido Nacionalista Escocês à posição hegemónica nessa nação.

A Terceira Via, essa odiosa combinação de aceitação da financeirização do capitalismo, relaxamento em relação às desigualdades e crimes contra a humanidade, o melhor sintoma do triunfo de Thatcher, foi hoje enterrada. Os herdeiros de Tony Benn, os que nunca desistiram, estão vivos e são jovens. Os herdeiros de Blair podem ganhar muito dinheiro, como o próprio, mas, até por isso, estão isolados socialmente.

Dada a influência político-ideológica britânica, o “poder suave” de que se fala, trata-se de um acontecimento com relevância mais vasta. Bem sei que todos os anti-socialistas dos Partidos Socialistas, responsáveis intelectuais pelo seu esvaziamento, já falaram de “radicalismo”, mas como sublinharam recentemente vários economistas políticos numa carta, radical é mesmo o contexto austeritário, tanto mais que a Grã-Bretanha ainda dispõe de relativa autonomia no campo da política económica. Corbyn é só alguém que leva a sério a palavra trabalhista: “sociedade decente, igualitária, para todos”, o tal “espírito de 1945”, que continua ser necessário reinventar em 2015.

É claro que, como sublinha com realismo Owen Jones, o do “lexit”, o mais fácil foi feito. Verdade, mas foi uma facilidade reconhecidamente extraordinária.

11 comentários:

  1. João em relação aos detratores "os cães ladram e a caravana passa"só não vê quem não quer ver e por detrás da cortina de fumo dos que nos tentam convencer que por cá não se passa nada é deixá-los pousar que já lá vem outro carreiro...

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  2. Uma excelente notícia. Resta agora saber como vai lidar com a questão escocesa, porque sem a tratar convenientemente não terá os votos necessários para ser eleito.

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  3. Estamos no ponto.
    Não podemos fazer parar a máquina do Tempo. E´ nos dada a oportunidade, de mão beijada, para mudar de Agulha, o Rumo certo e´ o Norte Politico – o socialismo –
    Nunca foi tao importante derrotar a direita como agora.
    O voto em força, sem dispersões, e´ a razão justa da necessidade imperiosa do povo de Esquerda!
    Só nos podemos comprometer com a Democracia Socialista em benefício de todo o Povo. De o “Catraio” com respeito


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  4. A eleição de Corbyn é uma boa notícia e lembra-me a epígrafe do 'DER TERRORIST': "Podem ainda não estar a ver as coisas à superfície, mas por baixo já está tudo a arder"... Para que algo mude, será necessário que quem está por cima comece a sentir medo e que quem está por baixo perceba que se a razão sozinha é impotente contra a força bruta, a razão aliada à força é mil vezes mais poderosa que a força só por si...

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  5. Off topic: Quem ler a entrevista de Pedro Portugal ao caderno de Economia do Jornal Expresso fica com a sensação de que os "ladrões de bicicletas" são pessoas mal informadas ou ideólogos radicais pela "total" diferença de pensamento.
    Afinal, um especialista do mercado de trabalho e reputado economista português saberia perfeitamente qual o partido e as propostas políticas que serviriam melhor os interesses do país e dos desempregados, que o preocupam tanto.

    O que vale a reputação dele? É uma pergunta que parece pouca séria mas que do meu ponto de vista é legítima. E de difícil resposta porque é questionar o meio académico e supostamente científico.

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  6. « o tipo de mobilização a partir de baixo»
    Muito assertiva qualificação de um fenómeno tão universal, desde a ascensão do Hitler à deste novo (?) prócere, que vai anunciando milagres que sempre acabam em desastre.

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  7. Como os britânicos são gente sensata, fui confirmar quando e como é dito “sociedade decente, igualitária, para todos”...Não encontrei!
    A melhor aproximação reza assim: «we don't have to be unequal, unfair, poverty is not inevitable».
    A distância é entre o que sunscrevo e o que repudio!


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  8. Muito promissora esta vitória! Depois de Blair (um apaniguado da Thatcher), enfim um trabalhista...

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  9. Depois de tanto "socialista" a martelo é bom ver um verdadeiro socialista. Os "socialistas" europeus continentais, depois de terem sido ultrapassados, na sua religiosa devoção a Tony Blair, pelo lado direito, preparam-se agora para o serem pelo lado esquerdo por Corbyn. Um caso evidente de falta de pontualidade no chegar ao cais de partida do comboio da História, sendo que, da primeira vez, para além de se terem enganado no horário, também se equivocaram na carruagem em que embarcaram.
    Agora, a parte menos asseada: Herr "José", para mal dos nossos pecados, continua a vomitar esterco: a "reductio ad Hitlerum" de Jeremy Corbyn só lembra ao verdadeiro virtuoso da imbecilidade que esse senhor é.

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  10. Não me acredito que este Jeremy Corbyn venha a ganhar eleições.
    Penso que os Ingleses ficaram vacinados, na década de 70, contra estas politicas.

    cumps

    Rui Silva

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  11. Corbyn, deste lado, Bernie Sanders, do outro lado do atlântico, estão a agitar águas e consciências. Não presumo que vão ganhar o poder em breve, mas creio que ambos dão expressão ao contra-movimento identificado, no seu tempo, por Polanyi.

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