Não percebo nada de xadrez, mas gosto da metáfora.
Um universo de possibilidades que se abre num campo limitado de 64 casas, ampliado pelo movimento diferenciado de peças. E depois, gosto ainda da ideia das simultâneas de xadrez, em que uma pessoa consegue jogar em inúmeros tabuleiros ao mesmo tempo, sendo capaz de ganhar na maioria deles. E gosto da ideia de que, para isso - para ganhar nesse universo limitado, mas infinito, nesse universo concentrado - pensa-se. Pensa-se muito. E pensar é uma condição de vitória. Quem improvisa ou não tem estratégia, tende a degradar o seu terreno e a perder. Aliás, a capacidade de pensar é a única diferença no potencial dos dois inimigos: os "exércitos" são iguais, o que muda é a apenas a capacidade de pensar numa vitória.
Nada na realidade se passa assim. As lutas, as vidas, são desiguais. A História é desigual à partida. Unir é mais difícil do que desagregar. Obrigar duas ou mais pessoas a pensar, por meia hora que seja, sobre um universo limitado de 64 casas é uma tarefa inglória. A dispersão e o ruído são mais poderosos de que a concentração.
Mas essa imaterialidade do combate é apaixonante. Porque permite imaginar que é possível ganhar com uma boa ideia. Ou com uma multiplicidade de boas ideias, cada uma por cada fase do jogo.
Quando se olha para trás, é possível identificar o poder de atracção das boas ideias que ergueram vontades mais dispersas, países inteiros. E infelizmente é possível vivermos hoje em Portugal o que acontece a um país sem ideias. Ou com as ideias de outros.
É possível construir, reconstruir um país. Basta pensar como seria esse país. Nas múltiplas vertentes da sua actividade. E caminhar nessa direcção. Os escolhos e os obstáculos desenharão as opções, os amigos, os inimigos, as alianças, a realidade ou a irrealidade de um soberanismo ou de um soberanismo internacionalista ou de um internacionalismo soberanista. Mas convém ter ideias muito claras e nítidas, e não apenas a imagem fluida da emoção que gostaríamos de sentir nessa altura. Porque quanto mais clara for essa imagem do país, mais clara será a imagem que ficará na cabeça das pessoas com quem conversemos sobre ela, sobre a sinceridade, sobre a realidade da ideia. De quem a tem. E tudo o resto virá por arrasto.
Pelo menos, gosto de pensar que sim.
As peças movem-se pelas casa segundo regras.
ResponderEliminarEssas regras são a realidade reconhecida.
Se ignoradas as regras o combate é de destruição.
Se a reforma consente novos movimentos, a revolução joga-se noutro tabuleiro.
Na vida do dia a dia, constato que os que mais pensam, e debatem, acabam por não realizarem grandes coisas; sonham, inventam teorias, adormecem e quando acordam, já o país vai por aí fora, sem que o seu pensamento e debate tenha produzido mais que paleio. Agora (em vias de chamar os eleitores) assistimos ao fervilhar de grandes pensadores, grandes teorias, mas no real já se começa a desenhar o que das vezes anteriores, se conseguiu (1978...2011) e se realizou... nada!!
ResponderEliminarSe pensar, só por si, fosse condição de vitória ...!
ResponderEliminarÉ por isso que os revolucionários não separam o pensamento da acção.
A uma boa ideia expressa num post que convoca a urgência e a mais-valia do "pensar", faltará apenas o sublinhar da urgência do confluir das multiplas ideias para a acção ( para a praxis).
ResponderEliminarComo um caudaloso rio
Um tipo por aí fala na "realidade". Da forma habitual que é hábito neste tipo de gente, troikista até à medula e tentando fazer passar a "ideia " da "sua realidade"
Chamemos ao debate (veja-se bem) Pacheco Pereira:
"A direita mais radical descobriu recentemente uma filosofia da história. Como os leitores mais simples de Fukuyama, aqueles que só conhecem o nome e o título do livro, entendeu que se chegou ao “fim da história” e o “fim da história” é aquilo a que chamam “realidade”. Uma espécie de muro existente na física das sociedades e das nações contra o qual se vai inevitavelmente quando se abandona o caminho da “austeridade” e se encontra a TINA, o “there is no alternative”. Uma lei a modos que como a lei da gravidade.
...Mas as coisas são o que são e a ideologia da TINA é mesmo próxima daquilo que é a interpretação vulgar do “fim da história”: chegou-se a um estado ideal da sociedade e da política, que não pode ser contestado porque ele é um terminus, vedado pela “realidade” de que não há saída. Querem coisa mais poderosa do que a “realidade”? Estou esmagado.
O que é a “realidade” para a qual “não há alternativa”?
Em primeiro lugar, é o que há, o que existe, e a ideia de que o “que existe tem muita força” e legitima-se por existir. Neste pensamento do TINA existe uma espécie de congelamento da história, ? o que se compreende visto que chegou ao “fim”, ? ...Manifestou-se na conjugação entre resultados eleitorais que deram maiorias a governos de direita, deslocaram os partidos e os governos para direitas mais radicais (visível na economia, mas também no tratamento da emigração, na deriva securitária, etc.), e permitiram uma captura da política pelo sistema financeiro, ou seja pelos mercados. Os mercados não são o que são, são aquilo que o poder político lhes permite ser, pelo menos é assim que devia ser em democracia.
...Em segundo lugar, existe uma enorme confusão entre a “realidade” do “fim da história” e o poder. Aquilo que os gregos encontraram à sua frente não foi o muro da “realidade”, foi o muro do poder. O poder no sentido weberiano, a possibilidade de alguém obrigar outrem a proceder contra a sua vontade. Uma das grandes aquisições da crise grega para a consciência europeia, foi a revelação às claras, sem ambiguidade, sem disfarces, da brutalidade do exercício de um poder. Nos nossos dias isto não é desejado pelos poderosos, que gostam de disfarçar o seu poder na discrição e no segredo, onde ele é sempre maior. Ao revelar o poder, enfraqueceu-o. Dos alemães aos parceiros menores como Passos Coelho, saber-se o que fizeram, saber-se o que impediram e vetaram, saber-se o que disseram, nas portas fechadas do Eurogrupo, e perceber-se que o resultado foi uma imposição punitiva de uma política em que ninguém acredita a um governo e a um povo, cria uma situação sem retorno"
Uma resposta de alguém insuspeito a quem faz da "realidade" um discurso nauseabundo
De
( alguma das datas ciatdas aí pelo António é o da entrada na UE? Ou no Euro?)
ResponderEliminarDe
A "realidade" é a reinvenção do "Brave New Old World", o antiquíssimo mundo onde tudo, pela graça de Deus santíssimo, está no seu lugar: quem nasce pobre, pobre fica; quem rico nasce, cada vez mais rico ficará; o mundo ideal em que há quem mande e quem obedeça; o mundo idílico em que há sempre quem esteja em cima e quem eternamente em baixo fique.
ResponderEliminarUma vez perdidas as colónias e face a um Mundo em que a sua importância é cada vez mais subalterna, a Velha Europa deixou cair a sua máscara democrática e procurou dentro de portas as novas colónias e os novos escravos a explorar. A abundância europeia é, há séculos, o resultado último da predação canibalista. A nova "realidade" é a comprovação de que os canibais voltaram a casa e, nesse seu regresso, fizeram retornar às origens a sua insaciável fome.
Caros,
ResponderEliminarTantas palavras. Fico lisongeado.
Mas eu gostaria que nos pudéssemos concentrar num pensamento simples: objectivos, políticas, medidas.
Caro,
ResponderEliminarQual é o tabuleiro proposto?
Capitalista, Socialista ou treteiro esquerdalho?
Parece que o tabuleiro proposto é o da muito velha ( de acordo até com a provecta idade) má criação típica.
ResponderEliminarFrustrada e ressabiada pela "realidade" que anda a impingir em jeito de missa cantada.
De