segunda-feira, 27 de julho de 2015

A força material da ideia

Não percebo nada de xadrez, mas gosto da metáfora.

Um universo de possibilidades que se abre num campo limitado de 64 casas, ampliado pelo movimento diferenciado de peças. E depois, gosto ainda da ideia das simultâneas de xadrez, em que uma pessoa consegue jogar em inúmeros tabuleiros ao mesmo tempo, sendo capaz de ganhar na maioria deles. E gosto da ideia de que, para isso - para ganhar nesse universo limitado, mas infinito, nesse universo concentrado - pensa-se. Pensa-se muito. E pensar é uma condição de vitória. Quem improvisa ou não tem estratégia, tende a degradar o seu terreno e a perder. Aliás, a capacidade de pensar é a única diferença no potencial dos dois inimigos: os "exércitos" são iguais, o que muda é a apenas a capacidade de pensar numa vitória.

Nada na realidade se passa assim. As lutas, as vidas, são desiguais. A História é desigual à partida. Unir é mais difícil do que desagregar. Obrigar duas ou mais pessoas a pensar, por meia hora que seja, sobre um universo limitado de 64 casas é uma tarefa inglória. A dispersão e o ruído são mais poderosos de que a concentração.

Mas essa imaterialidade do combate é apaixonante. Porque permite imaginar que é possível ganhar com uma boa ideia. Ou com uma multiplicidade de boas ideias, cada uma por cada fase do jogo.

Quando se olha para trás, é possível identificar o poder de atracção das boas ideias que ergueram vontades mais dispersas, países inteiros. E infelizmente é possível vivermos hoje em Portugal o que acontece a um país sem ideias. Ou com as ideias de outros.

É possível construir, reconstruir um país. Basta pensar como seria esse país. Nas múltiplas vertentes da sua actividade. E caminhar nessa direcção. Os escolhos e os obstáculos desenharão as opções, os amigos, os inimigos, as alianças, a realidade ou a irrealidade de um soberanismo ou de um soberanismo internacionalista ou de um internacionalismo soberanista. Mas convém ter ideias muito claras e nítidas, e não apenas a imagem fluida da emoção que gostaríamos de sentir nessa altura. Porque quanto mais clara for essa imagem do país, mais clara será a imagem que ficará na cabeça das pessoas com quem conversemos sobre ela, sobre a sinceridade, sobre a realidade da ideia. De quem a tem. E tudo o resto virá por arrasto.

Pelo menos, gosto de pensar que sim.

9 comentários:

  1. As peças movem-se pelas casa segundo regras.
    Essas regras são a realidade reconhecida.
    Se ignoradas as regras o combate é de destruição.

    Se a reforma consente novos movimentos, a revolução joga-se noutro tabuleiro.

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  2. Na vida do dia a dia, constato que os que mais pensam, e debatem, acabam por não realizarem grandes coisas; sonham, inventam teorias, adormecem e quando acordam, já o país vai por aí fora, sem que o seu pensamento e debate tenha produzido mais que paleio. Agora (em vias de chamar os eleitores) assistimos ao fervilhar de grandes pensadores, grandes teorias, mas no real já se começa a desenhar o que das vezes anteriores, se conseguiu (1978...2011) e se realizou... nada!!

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  3. Se pensar, só por si, fosse condição de vitória ...!
    É por isso que os revolucionários não separam o pensamento da acção.

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  4. A uma boa ideia expressa num post que convoca a urgência e a mais-valia do "pensar", faltará apenas o sublinhar da urgência do confluir das multiplas ideias para a acção ( para a praxis).

    Como um caudaloso rio


    Um tipo por aí fala na "realidade". Da forma habitual que é hábito neste tipo de gente, troikista até à medula e tentando fazer passar a "ideia " da "sua realidade"

    Chamemos ao debate (veja-se bem) Pacheco Pereira:
    "A direita mais radical descobriu recentemente uma filosofia da história. Como os leitores mais simples de Fukuyama, aqueles que só conhecem o nome e o título do livro, entendeu que se chegou ao “fim da história” e o “fim da história” é aquilo a que chamam “realidade”. Uma espécie de muro existente na física das sociedades e das nações contra o qual se vai inevitavelmente quando se abandona o caminho da “austeridade” e se encontra a TINA, o “there is no alternative”. Uma lei a modos que como a lei da gravidade.
    ...Mas as coisas são o que são e a ideologia da TINA é mesmo próxima daquilo que é a interpretação vulgar do “fim da história”: chegou-se a um estado ideal da sociedade e da política, que não pode ser contestado porque ele é um terminus, vedado pela “realidade” de que não há saída. Querem coisa mais poderosa do que a “realidade”? Estou esmagado.

    O que é a “realidade” para a qual “não há alternativa”?

    Em primeiro lugar, é o que há, o que existe, e a ideia de que o “que existe tem muita força” e legitima-se por existir. Neste pensamento do TINA existe uma espécie de congelamento da história, ? o que se compreende visto que chegou ao “fim”, ? ...Manifestou-se na conjugação entre resultados eleitorais que deram maiorias a governos de direita, deslocaram os partidos e os governos para direitas mais radicais (visível na economia, mas também no tratamento da emigração, na deriva securitária, etc.), e permitiram uma captura da política pelo sistema financeiro, ou seja pelos mercados. Os mercados não são o que são, são aquilo que o poder político lhes permite ser, pelo menos é assim que devia ser em democracia.
    ...Em segundo lugar, existe uma enorme confusão entre a “realidade” do “fim da história” e o poder. Aquilo que os gregos encontraram à sua frente não foi o muro da “realidade”, foi o muro do poder. O poder no sentido weberiano, a possibilidade de alguém obrigar outrem a proceder contra a sua vontade. Uma das grandes aquisições da crise grega para a consciência europeia, foi a revelação às claras, sem ambiguidade, sem disfarces, da brutalidade do exercício de um poder. Nos nossos dias isto não é desejado pelos poderosos, que gostam de disfarçar o seu poder na discrição e no segredo, onde ele é sempre maior. Ao revelar o poder, enfraqueceu-o. Dos alemães aos parceiros menores como Passos Coelho, saber-se o que fizeram, saber-se o que impediram e vetaram, saber-se o que disseram, nas portas fechadas do Eurogrupo, e perceber-se que o resultado foi uma imposição punitiva de uma política em que ninguém acredita a um governo e a um povo, cria uma situação sem retorno"

    Uma resposta de alguém insuspeito a quem faz da "realidade" um discurso nauseabundo

    De

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  5. ( alguma das datas ciatdas aí pelo António é o da entrada na UE? Ou no Euro?)

    De

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  6. A "realidade" é a reinvenção do "Brave New Old World", o antiquíssimo mundo onde tudo, pela graça de Deus santíssimo, está no seu lugar: quem nasce pobre, pobre fica; quem rico nasce, cada vez mais rico ficará; o mundo ideal em que há quem mande e quem obedeça; o mundo idílico em que há sempre quem esteja em cima e quem eternamente em baixo fique.
    Uma vez perdidas as colónias e face a um Mundo em que a sua importância é cada vez mais subalterna, a Velha Europa deixou cair a sua máscara democrática e procurou dentro de portas as novas colónias e os novos escravos a explorar. A abundância europeia é, há séculos, o resultado último da predação canibalista. A nova "realidade" é a comprovação de que os canibais voltaram a casa e, nesse seu regresso, fizeram retornar às origens a sua insaciável fome.

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  7. Caros,
    Tantas palavras. Fico lisongeado.
    Mas eu gostaria que nos pudéssemos concentrar num pensamento simples: objectivos, políticas, medidas.

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  8. Caro,
    Qual é o tabuleiro proposto?

    Capitalista, Socialista ou treteiro esquerdalho?

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  9. Parece que o tabuleiro proposto é o da muito velha ( de acordo até com a provecta idade) má criação típica.

    Frustrada e ressabiada pela "realidade" que anda a impingir em jeito de missa cantada.

    De

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