Há dias, entrei numa troca de galhardetes no facebook, a propósito de um artigo de Eva Gaspar, jornalista do
Jornal de Negócios, escrito de forma raivosamente anti-Grécia. A começar pelo título - A grande falácia grega (outras menores e uma sugestão ) - e a acabar em afirmações como: "Talvez gregos e outras esquerdas estejam mais empenhados em falar de reestruturações para tornar a conversa menos antipática, vendendo a ilusão de que é possível zerar contas, mandar
a factura para terceiros, e continuar a viver "business as usual."
Daqui não vem mal ao mundo. A opinião é livre. Mas o que mais impressiona é a forma cega como se debate. Quando se contrapõe que a dívida grega – como a portuguesa – é insustentável e de que nada serve novos empréstimos, os argumentos resvalam apenas para a responsabilidade grega de salvaguardar os compromissos. E a seguir a isso, vêm os argumentos históricos que visam dizer "eles são assim e sempre serão" e que apenas forçando de fora é que lá se irá. Gosto particularmente do argumento de generalização histórica e quase étnica, de uma matriz inevitável, que impede qualquer novidade na sociedade grega, seja de direita, socialista ou de "esquerda radical", e que entronca bem na ideia de expulsão dos gregos do "bom" clube Euro.
E quando se responde “vamos fazer contas juntos, vamos ver que saldos primários orçamentais seriam necessários para a dívida ser sustentável e depois vamos ver que país sobra disso”, a discussão torna-se um deserto. Até há quem defenda que a dívida grega é sustentável porque já se lhe deram condições especiais e outros perdões. Dir-se-á: Mas não será esse um argumento de que a dívida é precisamente insustentável? Não. A seguir vem outro argumento: Em relação a Portugal, "a dívida grega é maior, mas pesa-lhes menos"no PIB "e isso é que conta". Algo que não se percebe onde entronca porque, na realidade, a economia grega afundou e estagnou no fundo, fazendo com que a taxa de crescimento do PIB seja inferior à taxa de juro suportada pelo Estado grego e impedindo a sustentabilidade da dívida.Daqui não vem mal ao mundo. A opinião é livre. Mas o que mais impressiona é a forma cega como se debate. Quando se contrapõe que a dívida grega – como a portuguesa – é insustentável e de que nada serve novos empréstimos, os argumentos resvalam apenas para a responsabilidade grega de salvaguardar os compromissos. E a seguir a isso, vêm os argumentos históricos que visam dizer "eles são assim e sempre serão" e que apenas forçando de fora é que lá se irá. Gosto particularmente do argumento de generalização histórica e quase étnica, de uma matriz inevitável, que impede qualquer novidade na sociedade grega, seja de direita, socialista ou de "esquerda radical", e que entronca bem na ideia de expulsão dos gregos do "bom" clube Euro.
De onde vem esta fúria, este frenesim quase cristão-novo, de mostrar que não se pode nem se deve ceder à Grécia e que se deve continuar a impor reformas à Grécia?
O que é interessante é que este tipo de debates – cegos e militantes – são próprios de momentos de revolução ou de viragem social, em que todas as armas – mesmo as mais pobres - são usadas com a emoção do combate, quase raiva, em que a eficácia que se pretende ter nada tem a ver com o que se diz. Apenas lutas de trincheira. Quando se fala de "algumas esquerdas" nem se está a pensar na esquerda grega, mas nas esquerdas nacionais. E quando se fala da crise grega, está a tentar impedir-se o seu contágio a Portugal. É essa meta-discussão que transtorna um debate sério, porque a emoção primária vence a vontade de pensar.
Se está a ler isto e sente vontade de argumentar mas não sabe ainda como, faça primeiro umas contas. Leia o documento que lhe sugeri em cima e, depois disso, talvez se torne clara a situação grega e dê para falar. Talvez mude de posição. Mesmo em relação a Portugal.
Muito bom
ResponderEliminarDe
Vital Moreira que concorre com Rodrigues dos Santos no ódio aos gregos muito elogia esse artigo de Eva Gaspar.
ResponderEliminarEu votei PSD em 2011 e, apesar de saber que o caminho seria quase impossível naquela altura sem reflação nos paises do Norte da UE, votei de consciência. Alguma havia a fazer embora numa margem muito curta e com navegação à vista e muito precisa. Nada disso aconteceu, cortes a eito, más decisões, pouca compreensão da questão política e subserviência ideológica com motivos escondidos a roçar a ditadura.
ResponderEliminarDemorei pouco mais de 7 ou 8 meses a perceber que isto nunca iria resultar e arrependi-me logo. Pelo contrário, o ratio divida/GDP começou logo a aumentar e bastou-me rever alguma da Macroeconomia aprendida para saber que estávamos a caminhar para o abismo. Mais, eu sempre fui contra a entrada no euro, graças a essas mesmas aulas aquando do meu curso de Eng.Industrial e a um excelente professor que ensinava Keynesianismo e RBC como se deve ensinar. Sem ideologias e com espírito crítico. E neste caso Keynes como aliás seria de esperar.
Em 2013 num debate no Open Europe referi que a Europa iria entrar em deflação numa plateia de "experts" (experts todos eles em falácias neoclássicas, afinal eu e outros tínhamos razão). Quase ninguém levou a sério. Temos pena, talvez agora muitos se arrependeriam.
Mas não chega. Esta gentalha continua a acreditar no virtuosismo religioso, no poder dos credores, ou seja, basea-se em NENHUMA veracidade empírica,nada científico, apenas moralidade e religiosidade.
São maus economistas, ou o não são. E pior, não mudam de opinião perante os factos mais que demonstrados, perante a evolução dos parâmetros, na estagnação, na inflexibilidade política dos paises do Norte. Das duas uma, ou são cegos ou não o são e são hipocritas.
JL
Imaginemos que o 44 tem razão e a dívida não é para pagar.
ResponderEliminarO que é que sobra para a Grécia?
Sai do euro e começa vida nova sem se endividar?
Fica no euro e retoma o endividamento?
A forma quase que boçal como alguém diz isto:
ResponderEliminar"imaginemos que o 44 tem razão e que a dívida não é para pagar" é o exemplo vivo de como os ultras tentam inquinar o debate.
O 44 ( referência directa a socrates, "esquecendo " a contribuição directa dos seus amigos banqueiros e os servis agentes políticos que o servem)não é nenhum exemplo para dar ( atente-se que foram PS. PSD e PP que assinaram o memorando com a troika).
Daí que seja soberbamente sintomática esta forma de iniciar um texto.
As perguntas de retórica que se seguem mostram todavia outra coisa.Parece que jose ( ou JgMenos) não tem acompanhado os debates aqui. Há muito. A saída do euro da Grécia terá tal influência sobre o futuro da europa ( com Portugal à cabeça) que só mesmo um aficionado é capaz destes exercícios de mau gosto.
Mas a intransigência da direita pura e dura, este espírito de cruzada, este rastejar perante o dono, este mercadejar de Portugal e dos portugueses, este regresso à submissão acéfala à alemanha traduzida nesta afirmação sobre o 44 revela também o desnorte de alguns. É que, como diz o João, sentem que há algo que pode revirar-lhes o lugar de"acumuladores" instalados sem qualquer pudor no sofrimento alheio.
Chegou a altura de impor a separação de águas, de escolher caminhos. De passar a factura para o lado dos que se têm apropriado da riqueza produzida pelos que trabalham.Depois não se falará só na cela 44, mas nas celas dos que receberam os votos, o carinho, as genuflexões, os vivas, os arribas do jose...cavaco,portas, coelho, luís. cristas, relvas, e todos os que.
O caminho não será fácil. Mas é altura de parar esta sangria de quem trabalha em benefício dos que cada vez mais têm
Por isso mandam as contas para as urtigas.E a seu modo cantam com outra letra os "viva la muerte"de outras épocas
De
A Europa encontra-se actualmente numa grave recessão economica e cuja recuperação não se prevê. Depois da saida de Jacques Delors Houve uma grande viragem nas políticas Europeias que levaram a a esta situação. Ele proprio já disse por diversas vezes que a Europa caminhava para o abismo.
ResponderEliminarA criação do Euro , uma a moeda bastante forte , conduzio a que países como Portugal e a Grécia passasem de países subindustrializados a países desindustrializados.Nestes países houve uma sabotagem de uma série de actividades económicas devido às políticas que passaram a vigorar na Europa no ínicio do presente seculo.Houve uma grande destruição de activos com o fecho de muitas empresas em toda a Europa do sul, e em Portugal muitas empresas industriais ,ou fecharam, ou passaram a empresas comerciais.isto é , deixaram de fabricar os seus produtos para passarem a importá-los provocando um desiquilibrio no deficit externo.Tentar reduzir o deficit externo Á custa da redução do deficit publico( convenciounou-se chamar de austeridade) é um erro primário que só pode ser cometido por má fé.
Essa tal Eva Gaspar devia era largar o bem bom lá do jornal e ir para a Grécia ver como elas mordem.
ResponderEliminarEstar gordinha e anafada(claro, come do bom e do melhor) é bem diferente de passar fome como passa uma esmagadora maioria de Gregos e já, agora, de Portugueses, em consequência das politicas criminosas da UE.