Será que os portugueses querem continuar, através da Presidência da República, com a economia política e moral do cavaquismo depois de Cavaco? Coloco esta questão por causa de António Vitorino, aventado como um putativo candidato de “esquerda”, as aspas nunca foram tão necessárias, com possibilidades de ganhar a Presidência, segundo uma estranha sondagem recente. Quero crer que os portugueses não colocarão na Presidência mais um facilitador, mais um europeísta disposto a esvaziar o que resta da soberania democrática em troca de umas migalhas mal distribuídas do soberano pós-democrático que está em Bruxelas-Frankfurt. Em relação a Vitorino, e por agora, limito-me a recomendar a leitura do último livro de Gustavo Sampaio, “Os Facilitadores”, sobre a economia política dos grandes escritórios de advogados, onde aparece com destaque.
É claro que Guterres, com outro percurso pós-governamental, não é politicamente muito melhor: enquanto Primeiro-Ministro, limitou-se a continuar e até a consolidar a economia política e moral do cavaquismo, com poucas notas de rodapé dissonantes, sendo responsável, entre outras, por maciças e desastrosas privatizações e sobretudo pela confirmação da catastrófica adesão ao euro, com uma das mais equivocadas e reveladoras profissões de fé: “Euro, tu és o euro e sobre este euro edificaremos a União Europeia”. Lembram-se?
No entanto, não creio que o panorama esteja limitado a estes dois putativos candidatos. Não estamos assim tão mal. Felizmente, à esquerda, podem existir candidatos populares, dos tais imprescindíveis, da luta pela educação para todos ou pelos direitos dos trabalhadores, e que não deixarão certamente de pugnar pela realização do artigo 1º da nossa Constituição: “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.”
Manuel Carvalho da Silva devia ter lançado essa corrida logo após Cavaco, mas pelo caminho terá adoecido e perdido fulgor. Nestas coisas parece-me que ganha quem se naturalizar no cargo.
ResponderEliminarManuel Carvalho da Silva não é referência para a esquerda democrática...e o candidato comunista, por norma, nem o eleitorado do PCP segura...so imbecis é que pensam o contrário...
ResponderEliminarA mim quem já me começa a meter nojo é o Sampaio da Nóvoa, com a colagem ao PS a ver se é candidato. Não se ponha tanto em bicos dos pés, que qualquer dia confundem-no com a ordenança do Costa, o Rui Tavares.
ResponderEliminarAlém do mais, tem poucas hipóteses. Há demasiados oportunistas e ambiciosos dentro do PS a cobiçarem o lugar.
O Guterres será provavelmente o candidato, o que parece cada vez mais evidente.
Até porque a outra opção que lhe é aventada, a de se candidatar a secretário-geral da ONU, mais incerta, poderá ser torpedeada por uma candidatura do Lula da Silva, que trucidaria o Guterres.
Se pensarmos bem, a candidatura do ex-presidente brasileiro faz todo o sentido, a menos que este se sinta tentado a retomar o cargo a seguir à Dilma.
Independentemente de apreciações políticas, é dos mais conhecidos e populares políticos do planeta. Mais popular que o Obama, com o apoio seguro dos BRICS, sem que nenhum dos membros permanentes do conselho de segurança da ONU se atrevesse a vetá-lo (o que só poderia suceder, na atual conjuntura, com o governo conservador britânico), capaz de reunir, de um momento para o outro, o apoio de pelo menos uma centena de chefes de estado ou de governo, teria a eleição assegurada, se se dispusesse a isso.
Ao Guterres restaria o consolo da provável eleição de presidente da república portuguesa. Para mal dos nossos pecados que, como bem se lembra no post, não esquecemos as privatizações em escala massiva ou a adesão ao euro e a sua incrivelmente patética e ridícula cena de inspiração bíblica (será que o homem ainda se julga o Salvador?). Ou já agora, entre muitas outras coisas, o antidemocrático e muito vergonhoso acordo com o Marcelo Rebelo de Sousa para referendar o aborto depois da decisão tomada na assembleia da república, que pôs as jovens portuguesas por quase mais dez anos a abortar “em vãos de escada”, sem as mínimas garantias de segurança e higiene.
O Nóvoa ficaria a chuchar no dedo para da próxima não se empertigar tanto nem assediar tão despudoradamente os socialistas.
Passo por alto o imbecil do anónimo imbecil de pai e mãe que comenta 18 de janeiro de 2015 às 13:45,dando a impressão de andar enganado quanto ao blogue, é que isto não é o câmara corporativa.
ResponderEliminarLembro que isso da esquerda democrática (na realidade, esquerda autodenominada) está a querer apoiar Vitorino.
Para alguém com preocupações sociais e de esquerda, esse apoio é mais do que auto-evidente quanto à geometria eleitoral e toponimia do lugar onde se situam os proponentes
Aproxima-se a época em que a frustação da revolução 'desde as bases' se vai sublimar num qualquer projecto de revolução 'desde arriba'.
ResponderEliminarParece-me um merecido período de descanso...
A Merkl, culpada de intervir constantemente nas opçôes nacionaais devia era pagar-nos as dividas e deixar de mandar recados aos gregos.
ResponderEliminarNinguem defende a independencia nacional.
A frustração tem destas coisas.
ResponderEliminarÀs vezes traveste-se de "frustação".Outras vezes passa por "revolucionário" em jeito de frustrado papão.
A mediocridade não tem de facto descanso
De
Espero bem que haja outros candidatos…
ResponderEliminarPois, só nos faltava isso: um facilitador de negócios com uma grande carteira, na presidência. Quanto a Guterres que continue lá por onde anda, que tem perfil para isso.