Na passada sexta-feira no Parlamento, durante o debate quinzenal, o primeiro-ministro afirmou algo parecido com isto:
O que o Governo fez, ao longo do programa de ajustamento, "não o fez para agradar", mas fez "o que era preciso fazer". Às vezes, é preciso ter coragem para governar sem agradar. "Não funcionamos para as corporações, mas para os portugueses". "Os nossos objectivos foram alcançados e foi por isso que o programa de ajustamento acabou". "Os valores recentes do desemprego, dos últimos dois meses, preocupam o governo, mas do ponto de vista do médio e longo prazo o que interessa é a tendência. Não estamos seguros que signifique uma inversão de tendência".
Estes "últimos dois meses" referem-se aos dados mensais do desemprego, que o INE passou a divulgar. Pela primeira vez desde o 2º trimestre de 2013, o número de desempregados cresceu. Passou de 684,2 mil em Setembro para 717,5 mil em Novembro. E a taxa de desemprego parou de descer e subiu 13,3 para 13,9%, antecipando uma subida no último trimestre de 2014.
Aceite-se então esse optimismo do primeiro-ministro relativamente aos dois últimos meses de 2014. E olhe-se então para a tendência de fundo, aquela que, "do ponto de vista de médio e longo prazo", importa olhar.
As palavras de Passos Coelho no Parlamento poderiam ser ditas por qualquer dirigente da oposição, se fossem a propósito do desemprego que começou a cair desde 2013:
"Do ponto de vista do médio e longo prazo o que interessa é a tendência. Não estamos seguros que signifique uma inversão de tendência".
"Os nossos objectivos foram alcançados e foi por isso que o programa de ajustamento acabou", disse Passos Coelho no Parlamento.
Claro que esses "objectivos" não foram os do pleno-emprego, mas as metas orçamentais. Mas isso demonstra que o pleno-emprego nunca foi o objectivo primeiro do programa de ajustamento. Mesmo quando o desemprego não parou de crescer desde 2000!
Julgou Passos Coelho – e a troika – que bastava pressionar os custos laborais e flexibilizar ainda mais as regras do Direito Laboral, para tudo desabrochar de novo?
De facto, "do ponto de vista do médio e longo prazo o que interessa é a tendência" de fundo. Porque tem a ver com artroses estruturais. E, sem um diagnóstico correcto, arriscamos a vida do paciente. Aliás, um "paciente" muito paciente, dado o elevado nível de desemprego.
Para atacar este problema de fundo, era importante que o Governo não caísse na tentação de iludir as pessoas, usando expedientes de curto prazo que tendem a jogar com a vida já fragilizada dos desempregados. E atacasse as questões de fundo, pronunciando-se sobre como vai atacar o PROBLEMA do crescimento económico. Já acertou as contas do Estado e mudou a legislação laboral. Não deu. E agora? Ou será que vai apenas prolongar a "tendência"?
Claro que vai. O Governo já anunciou aliás um novo programa de estágios, que se encontra em discussão na Concertação Social. Mas para quê discutir se o Governo tudo fará, mesmo indo contra todas as "corporações"?
Do mesmo modo, era essencial que o PS - como o partido da oposição melhor colocado para ir para o Governo - se pronunciasse sobre o que vai fazer para o país crescer economicamente e, assim, reduzir o desemprego.
Claro que, do ponto de vista táctico, é melhor que o debate político se faça apenas na campanha eleitoral: "Não queimar já todos os cartuchos", "deixar o Governo a lidar com os problemas que criou", "evitar possíveis erros de política que possam ser explorados pelo PSD e CDS", "não ir demasiado à esquerda, para não o centro à direita". Mas isso não é nada.
O problema é que o Governo – como o disse Passos Coelho no Parlamento – vê-se como tendo uma missão, mesmo que vá contra todos. E ainda tem muitos meses pela frente. O PS pode – se quiser - desarmar o risco de prolongamento da "tendência". Basta assumir como pretende reverter as políticas seguidas. E fazer política com P maiúsculo.
Ou será que o PS vai, ele também, prologar a tendência?
Sem querer ser bruxo, presumo que pleno emprego nunca mais vai haver, nos paĩses desenvolvidos.
ResponderEliminarPolítica com P maisúsculo é das expressões que mais me anima quando a ouço invocada.
ResponderEliminarE logo fico à espera de enunciados claros e sutentados: Objectivos, Planos, Meios.
Pena é que apareçam às peças, desprezando objectivos para que há meios, inventando planos para que não os há.
O P vale antes de mais para o Possível, mas isso não aceitam os próceres da política com P Grande.
A "trapalhada" agora anda enredada com o paleio verbalista?
ResponderEliminarParece que há uma política com P grande e uma política com p quê?
Eis a confirmação do caminho que segue a desinformação que nos é fornecida pelos néscios comentadores que pregam a Política com P grande e a "restante" política. Ou de como a política com P grande para uns não é mais do que a abjecta política de quem pretende assumir foros de professor para a manutenção do status quo
( Confessemos que os "enunciados claros e sustentados" ditos por parte de alguém cujos únicos enunciados são os "vivas a la troika" e as declarações de amor à alemanha permitem ver quão longe vai a clareza e a sustentação dos objectivos,planos e meios.
Tal como alguém que se congratula com a acumulação da riqueza em 80 pessoas permite ver que objectivo esse alguém persegue,que plano alimenta, por que meios anseia.)
O P do possível é uma outra estoria. É apenas o convite a pusilanimidade e cobardia , à submissão e ao colaboracionismo. Uma forma assaz matreira de repetir o discurso do possível dos cavacos, catrogas, passos , portas, enquando estes ( e outros) tiram o (mais)possível das acções do BPN, dos tachos governamentais,das tecnoformas manhosas,dos submarinos corruptos.
No fundo ,no fundo , uma repetição do néscio slogan " querem é tudo a todos" com que tentam esconder o "tudo a apenas uns poucos".
(De facto fazem todo o possível para. Sem a dignidade de qualquer inicial maiúscula)
De
De
Para que não haja mal-entendidos face à crítica da denominação do termo política com P maiusculo devo precisar que para o PS a Política com P grande é provavelmente o prolongar da tendência referida pelo João Ramos de Almeida.
ResponderEliminarPara o PSD será exactamente esse também o alto sentido atribuído à sua politica.
And so on.
O comentador que vai à televisão elogiar a seriedade das propostas,a arte do possível e a política com P grande foi o que designei como "néscio".
Declaro com todas as letras que o João Ramos de Almeida não está incluído em tal rol. Bem pelo contrário os seus comentários são um exemplo de clareza e de esforço quase científico para demonstrar as suas posições.
Foi (é) de facto uma belíssima aquisição para o Ladrões
De
Quem fez estes gráficos? O que são aquelas linhas pretas? Que relação têm com a tendência? A tendência é avaliada em que anos? Porque ilustram este texto e qual a relação entre os dois? Tanto trabalho bom e interessante, tantas ideias que poderiam ser bem apoiadas nos gráficos e só vejo linhas pretas que nada têm que ver com os dados reais...
ResponderEliminarCaro anónimo,
ResponderEliminarAs linhas pretas são as linha da tendência desenhada pelo próprio Excel, ao longo da decada e meia.
Claro que se pode escolher a definição de tendência que se pretende e, se fosse alguém defensor da interpretação oficial da evolução do desemprego, teria escolhido uma linha preta que contornava os valores absolutos e, por isso, acentuaria a recuperação dos últimos meses.
O que eu QUIS mostrar é que a tendência de fundo de uma década e meia é bem mais poderosas do que uma ténue recuperação que, ainda por cima, pode estar a ser influenciada em parte pelos critérios estatísticos, que consideram empregados os desempregados que estão em estágios ou contratos inserção, subavaliando o desemprego e sobreavaliando o emprego. Ou pelo facto de haver cada vez mais desempregados que caem na "inactividade".
E não tem a ver com ajeitar a estatística ao que se pretende (vulgo: "martelar"). Tem mais a ver a realidade e como os números estão a representá-la.
Portanto: posso garantir-lhe que as linhas pretas têm a ver com tendência dos valores todos e o quis demonstrar é que a tendência - ideia exposta pelo PM no Parlamento - é bem diferente da defendida pelo Governo. Para que não tenhamos ilusões: Nada de estrutural mudou desde 2011.
O PS vai mudar? Lançando Vitorino, um liberal de direita, para candidato a PR. Axandrem-se com os equívocos.
ResponderEliminarNo que interessa, Costa não deu passo nenhum para a esquerda. O que já era evidente há muito tempo.
Convém ver as diferenças entre o que se diz defender e as acções que concretizem essa defesa.
Com Guterres ainda engolia o sapo, por muito que não me agrade, com Vitorino bem podiamos ter mais anos de Cavaco que não me comoviam a votar nele.
A única dúvida seria com Barroso, que traria atrás todos os estipendiados da CIA, do próprio ao José Manuel Fernandes, passando pela camarada Helena Matos e outros antigos maoístas e pctp.
Caro João Ramos Almeida,
ResponderEliminarAgradeço os esclarecimentos. Tendo em conta essa informação parece que a escolha do tipo de linha de tendência não foi o mais adequado aos dados em causa. No entanto a tendência de fundo é clara e nisso estamos de acordo. Falar de inversão de tendência é nitidamente um abuso mas olhando para os dados verifica-se uma tendência de estabilização nos últimos anos. Acho que o que valeria a pena era desmontar as razões da aparente estabilização e (até decréscimo em alguns valores) para reforçar a ideia de que a tendência não está propriamente a inverter. O texto aborda esta questão mas os gráficos distraem desta questão fundamental para desmontar argumentos. Pelo menos a mim distraem-me.