terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Empurram?
Há títulos de notícias que são todo um programa. No Público de hoje, que dedica duas páginas à análise da situação na Grécia (decorrente da não eleição, pelo parlamento, de um novo Presidente da República), afirma-se que a consequente convocação de eleições antecipadas está a «empurrar» o eleitorado grego para uma «escolha» (Syriza) que «preocupa a Europa».
Presume-se pois que o povo grego não vai poder expressar, livremente, as escolhas democráticas que se lhe oferecem no contexto actual. Não, o eleitorado grego está a ser «empurrado» - com a antecipação das eleições - para o voto no Syriza. Agora imaginem uma formulação alternativa: «Fracasso da austeridade conduz a Grécia para uma escolha que desagrada ao FMI e Comissão Europeia». Podia ter sido utilizado um título assim? Podia, claro que podia. Mas não era a mesma coisa.
Adenda: Nos comentários ao post, o Rukka sugere uma possibilidade interessante de título para o artigo do Público: «Eleições antecipadas podem levar a Grécia para uma escolha que dê esperança à Europa». E o José Guinote chama oportunamente à atenção para o editorial da mesma edição do jornal, que vale a pena ler na íntegra.
Ou então:
ResponderEliminar"Eleições antecipadas podem levar a Grécia para uma escolha que dê esperança à Europa"
Caro Nuno, creio que o Rukka tem razão e fez bem em sublinhar uma ideia que suponho completar, no registo afirmativo, a denúncia a que este post procede. Cf., por exemplo, este artigo que o Guardian publicou há já algum tempo — contra "as narrativas de terror" que, vindas da direita ou de certos quadrantes da esquerda, antecipam que uma vitória do Syriza será uma catástrofe ou o prelúdio de uma derrota inevitável e maior: http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/dec/22/greece-radical-left-austerity-syriza-poll
ResponderEliminarAbraço
msp
Há pouco esqueci-me de indicar o link relativo às "narrativas de terror" — expressão do próprio Tsipras: http://www.publico.es/internacional/tsipras-pide-acabar-relatos-terror.html
ResponderEliminarmsp
http://corporacoes.blogspot.pt/2014/12/o-assalto-socialista-ao-poder.html
ResponderEliminaré, parece que os editores dos jornais de referência nacionais estão com a ordem policial em vez de estar com a política democrática.
Se os gregos votarem livremente provavelmente iremos ter in loco as consequências da saída do euro; será bom para nós que podemos "ver" como é sem correr riscos.
ResponderEliminarChamo a atenção para o lamentável Editorial que o jornal dedica ao “problema grego”. Para o Público a situação com que os gregos se deparam é clara: os gregos estarão "entre a soberania e a sobrevivência" . Se quiserem sobreviver deixarão a soberania de fora se quiserem ser soberanos não sobreviverão. Nesta lógica preversa acha o Público que "o exercício da democracia tornou-se uma actividade perigosa numa Europa em crise". Apesar do empobrecimento violento e da perda de direitos das pessoas o jornal entende que o caminho terá valido a pena. "Nenhum dos cenários em aberto é propriamente brilhante, mas, apesar de tudo, o país começou a cumprir os critérios do défice e a economia dá sinais de vida". A possibilidade de os gregos pensarem, com base na sua própria e dolorosa experiência, que a economia deu sobretudo sinais de morte e de exploração extrema, não é admitida. Talvez por isso O Publico acabe a sugerir que os gregos devam "Mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma [pode ser um caminho]" Um editorial lamentável que encerra todo um posicionamento ideológico e um programa politico face às crises da divida soberana e face à austeridade imposta a muitos europeus. Lamentável.
ResponderEliminarhttp://www.publico.pt/mundo/noticia/o-medo-volta-a-pairar-sobre-a-grecia-1680750
Completamente de acordo com jose guinote.
ResponderEliminarO Publico a cada dia que passa a mostrar de que lado está...com a pretensa respeitabilidade das donas de bordel a passar por dama fina.
E cada vez mais enfeudado a.
De
Muito obrigado pelo link, caro Miguel Serras Pereira. E sim, o Rukka encontrou um belo título alternativo para a notícia do Público.
ResponderEliminarUm abraço,
Nuno