terça-feira, 25 de novembro de 2014

Contra o discurso da podridão do regime

A sucessão de eventos dos últimos meses – desde o desmoronar do império Espírito Santo e a detenção de Ricardo Salgado, passando pelo processo dos ‘vistos dourados’ e a detenção do director do SEF, até à  prisão preventiva de José Sócrates – contribui para aprofundar na sociedade portuguesa a ideia de que os principais pilares do poder no país estão minados pela corrupção e por comportamentos inaceitáveis.

Daqui à conclusão que vivemos num regime de podridão é um passo. Um passo acelerado, já que os sentimentos fortes ajudam a vender jornais e dão uma oportunidade fácil para a afirmação de projectos políticos sem substância – ou com substância inconfessável. A exploração do medo, do pânico e da desesperança dá dinheiro e alguns votos. O que não quer dizer que produza bons resultados.

Sabemos que a denúncia pode ser útil: ela tem uma longa tradição em Portugal, sendo muitas vezes o que nos resta quando pouco mais se pode fazer. Os romances e os ensaios de Antero de Quental, de Eça de Queiroz e da sua geração, são do melhor que se produziu em Portugal – e foram tudo menos inúteis.

No entanto, não estamos no século XIX, nem no final de um regime político indefensável. Portugal tem hoje uma democracia, guiada pelo princípio da separação de poderes e por direitos, liberdades e garantias. Com todas as suas deficiências, este é um regime que, nos últimos 40 anos, retirou milhões de pessoas da pobreza, do analfabetismo e da doença. Que tornou os poderes económicos, políticos e judiciais menos autoritários e mais transparentes.

Neste regime, muitas vezes os poderes não estão separados e nem sempre os direitos estão garantidos. A igualdade perante a lei e a equidade social ainda são objectivos por alcançar. Há ainda muita falta de transparência e abuso de poder.

Mas os princípios constitucionais continuam a ser assumidos como válidos pelo conjunto da sociedade. E, enquanto cidadãos, continuamos a ter a possibilidade – e a responsabilidade – de nos juntarmos e exigirmos que esses princípios sejam prosseguidos.

Este é o regime em que quero viver. Não tenho a certeza que regime desejam aqueles que navegam na crista do discurso da podridão.

11 comentários:

  1. Só falta o Pinto da Costa ir para a choldra para a limpeza ficar completa.

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  2. Leia-se Cavaco Silva, em vez de Pinto da Costa.

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  3. "Este é o regime em que quero viver."
    Nem mais. É preciso alguma lucidez e não confundir a árvore com a floresta.

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  4. Parece que o Pinto da Costa ter sido investigado várias vezes não chega...

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  5. Parece que haver provas contra o Pinto da Costa não chega.

    E quem diz provas contra o Pinto, diz provas nos submarinos...

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  6. Entre 1910 e 1926 verificaram-se muitas situações semelhantes às que estão sucedendo atualmente.
    Entre 1926 e 1974 o povo beneficiou
    da situação criada com o fim da I República ? Sabe-se que não !
    A II República tem de ser defendida
    e não cair outra vez no mesmo processo.

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  7. Qualquer país que tenha sido governado, ainda que temporariamente, pelo socialismo é corrupto até à medula. A defesa fanática da esquerda ao seu querido líder agora detido é bem prova do tipo de gente e da ideologia da qual o país se tem que livrar. Os socialistas encarregam-se de torrar dinheiro e depois os outros, que também não são santos, ficam com a má fama. Tem sido sempre assim. Espero que o PS tenha uma retumbante derrota nas próximas eleições para aprender a lição. Quanto aos dinossauros mais à esquerda, bom, esses já deviam ter emigrado para Cuba há muito tempo.

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  8. Que grande confusão vai para aí na cabeça de um anónimo de 25 de Novembro de 2014 às 22:13.

    País governado pelo "socialismo"?
    A ignorância vai ao ponto de não saber a gaveta onde o dito socialismo foi colocado?
    E que infelizmente também se registou o abandono do legado social-democrata por parte deste partido socialista?

    Não adianta ridicularizar o comentário cómico dos "outros ficarem com a má fama". É demasiado medíocre e tão facilmente rebatível como a distância que vai do BPN aos vistos gold passando pela tecnoforma e pelos BES, com uma paragem nos submarinos.Isto só no que diz respeito à corrupção. Mas a governança neoliberal tem-se pautado por um trilho terrível que oscila entre a incompetência, o crime e a atitude despudorada e consciente.

    ( ah e ainda há quem replique as medidas salazarentas e podres quanto à deportação dos adversários , com algumas bastonadas a acompanhar os "fluxos migratórios"...)

    " Há que perceber o que é que verdadeiramente liga, potencia, permite os vários casos de corrupção – uns confirmados, outros por confirmar – e o que contribui para a degradação da política e da democracia. Dê lá por onde der este ou aquele caso em particular, o problema não é e nunca será só «aquele ministro», «aquele ex-ministro» ou «aquele banqueiro». São anos, décadas, de maus governos e maus governantes. São anos de leis ideologicamente concebidas, de políticas a preceito de uma determinada lógica de promiscuidade e favorecimento entre poder político e poder financeiro. São legislaturas inteiras pautadas pela submissão das regras da democracia às regras da finança. É todo um sistema poderoso e corporativista, manhoso, oculto, esperto, promíscuo, que perpassa, resiste, conspira e patrocina a alternância entre PS, PSD e CDS, não lhe importando, não lhe fazendo mossa, que o líder se chame Sócrates, Passos Coelho, António Costa ou Paulo Portas. E enquanto não se cortar o mal pela raiz, enquanto o país não perceber que tem de correr de uma vez por todas com os partidos que nos têm governado, o problema vai continuar lá, com repercussões no presente e no futuro de todos os portugueses."
    Ivo Rafael Silva

    De

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  9. Caro Ricardo Mamede
    Compreendo a sua preocupação relativamente aos comentários acerca do regime. Parece que querem culpar o regime pela desonestidade de pessoas que aproveitam as suas funções de poder e responsabilidade para enriquecimento ilícito, etc.
    Por mim, o facto destes casos, com pessoas importantes e ricas chegar a tribunal faz-me acreditar que Portugal é, realmente, um Estado de Direito e que a Democracia está a evoluir .
    Sempre achei que havia corrupção em Portugal. Achava que havia uns senhores intocáveis.
    Parece que agora já não é bem assim, corrupção continua a haver, intocáveis cada vez há menos.
    Abraço

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  10. Ivo Rafael Silva, concordo totalmente consigo! Quero democracia mas esta democracia tem que dar uma varridela gigante a frente da sua porta para o ano que vem. Votar sim mas não sempre no centrão...

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  11. Discordo em absoluto! Nada é eterno nem o Reich da poderosa Alemanha que vinha para mil anos. Há coisas que têm de ser, por muito que nos custe e sem certeza de que o que virá será melhor. Mas o que tem de ser tem muita força. Não sei a quem interessa a manutenção deste bi-partidarismo que mais não é do que um livre-trânsito para um despudorado saque dos recursos nacionais pelos agentes políticos, económicos e financeiros perante um inoperante sistema judicial que, na pressa de mostrar serviço e acalmar as hostes dá um triste espectáculo de si mesmo... Já é estafado o exemplo de Itália após a 'Operação Mãos Limpas' mas a nossa III República já mostrou ao que vinha. Agora venha outra...

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