quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Palavra de Crato (o ministro que acaba como começou)



Decorria o mês de Setembro de 2011. Nuno Crato assumira a pasta da Educação há escassos três meses. A dois dias da cerimónia, o ministro cancela a entrega do Prémio de Mérito (criado em 2008 por Maria de Lurdes Rodrigues), no valor de 500 euros, atribuído aos melhores do ensino secundário (cerca de mil estudantes contemplados). A decisão surpreende directores de escola e indigna pais e alunos, muitos dos quais tinham já sido convocados para a entrega do prémio, contando naturalmente com a percepção do seu valor. Não se tratou apenas de defraudar as legítimas expectativas dos alunos e das suas famílias: tratou-se essencialmente da quebra leviana de um compromisso assumido pelo Estado, num nefasto sinal ético (para os alunos e para a sociedade em geral) sobre «o valor da palavra», dado por Nuno Crato, o proclamado paladino «da exigência e do rigor».

Outubro de 2104. Três semanas depois de ter garantido, no Parlamento, que nenhum professor iria ser «prejudicado» pelos erros do ministério, decorrentes do catastrófico processo de colocação de docentes contratados, o ministro da Educação regressa à Casa da Democracia para explicar que nunca afirmara o que todos os deputados, jornalistas e professores tinham entendido na altura. Para tal, Nuno Crato socorre-se de uma acrobacia semântica pueril, assente numa patética e chico-esperta nuance verbal: «Eu disse os professores mantêm-se. Não disse manter-se-ão». Não se trata apenas - e não seria pouco para que se demitisse - de um profundo desrespeito para com a vida dos docentes e suas famílias, que se converteram assim em vítimas da incompetência do ministro e das trapalhadas da sua equipa. Trata-se igualmente da confirmação de um padrão no que concerne ao significado do conceito de «compromisso» para Nuno Crato, ministro de um governo que - verdade seja dita - tem demonstrando de forma profusa um entendimento irrevogavelmente peculiar do «valor da palavra».

16 comentários:

  1. Um erro processual é um direito adquirido.
    Extraordináriamente original, estupidaente progressistra, bestial!!!

    ResponderEliminar
  2. Eu sei que o José sabe, mas mesmo assim não deixo de o assinalar: o post não é sobre «erros processuais» (bonito eufemismo, diga-se): é mesmo sobre «o valor da palavra».

    ResponderEliminar
  3. O prejuízo mede-de de uma posição de direito até que aí se regresse.
    O resto é semântica.

    ResponderEliminar
  4. Ó Jose aprenda mas é a escrever.

    ResponderEliminar
  5. Um post muito bom que tem para alem de outros o imenso mérito de relacioanr dois episódios da "carreira" desta espécie de coisa de nome crato.E fá-lo na exacta medida em que relembra o que é essa história da "palavra" para um repelnte neoliberal de serviço

    E aqui entronca outra coisa: o sr jose que tem do direito aquela noção fantástica da lei e da ordem desde que aplicada aos mais fracos ( mas que quando ouve falar na Constituição procura pela arma)vem invocar o mesmo direito para esconder uma coisa que ,perdoe-se o termo, é quase abjecta.
    O ministro mentiu, sabe que mentiu e arranjou uma espécie de tábua de salvação na directa proporção da sua má fé. - um tempo verbal.

    Que jose lhe chame erro poroessual é apenas sintomático que crato está a fazer escola quanto aos proessos que utiliza.

    Que depois se tente esconder uma questão que devia ser de honra com "questões de semântica" assume outro cariz- já civilizacional

    Também isto é uma amostra do neoliberalismo sem rebuço e sem prurido.Um feio espectáculo .Mas que promete sempre mais e pior.

    De

    ResponderEliminar
  6. Lendo comentários em posts anteirores sou surpreendido com estas palavras do sr jose:
    "assim regressem valores pessoais à política."

    O espanto. Depois a compreensão.Tratou-se apenas dum "erro processual".
    Ou duma questão semântica

    De

    ResponderEliminar
  7. Só a ignorância e a má-fé desconhece que no mundo da informática e seus agentes as mais absolutas certezas são não raro o caminho para um qualquer desastre. Os 'mistérios' da informática abrigam um sem número de imprevistos, erros humanos e insuficiência de equipamentos.
    A tesponsabilidade política mede-se por ausência de medidas ou medidas erradas.
    Ninguém apela ao despedimento dos incomperentes que desclararam estar certo o errado ou que asseguraram e não cumpriram.
    O gozo mesmo é ter um novo ministro, a pegar em assuntos que desconhece, mais dependente que o anterior do que possam assegurar-lhe!
    Que estes resolvam o problema, e se depois forem para casa, para calar os treteiros deste mundo, surpreende-me nada e já me incomoda pouco.

    ResponderEliminar
  8. A 'mentira' do ministro:
    1 - Mantinha quem não tinha direito e prejudicava quem o tinha?
    2 - Mantinha uns e outros à custa dos contribuintes?
    3 - Fazia uma lei que acomodava o erro e revogava a anterior?

    Perguntas a que os treteiros não querem dar resposta.

    ResponderEliminar
  9. Francamente começa a registar-se uma certa fala de pachorra

    Sejamos objectivos:

    Mundo da informatica?
    Como?
    As palavras do ministro crato são estas:
    "«Eu disse os professores mantêm-se. Não disse manter-se-ão»

    Só evidente ignorância ou desonestidade intelectual na leitura dos textos ou má fé pode querer confinar à informática a falta de verticalidadde dum ministro.
    Quer seja escondida em "erro porcessual" ou em "questão semântica"

    Ponto final parágrafo.

    Outra questão é o assacar responsabilidades pelo sucedido

    Crato não tem condições para continuar no cargo. A coorte de boys que o rodeia e que o aconselha deve também ser responsabilizada
    A porta da rua deve ser o destino desta cambada de auditores e de conusultores, filhos ilegítmos da boçalidade neoliberal

    Que dê gozo a um ou outro a forma como o ensino público é conduzido é uma coisa que me causa uma certa repugnância.Neste ponto não continuo para não ser descortez

    De

    ResponderEliminar
  10. Os factos são duma clareza aterradora.
    Basta ler o escrito.
    Com uma elegância de linguagem notável ( que eu não tenho) , o autor deste blog tentou chamar a atenção do sr jose para a questão fulcral do que era aqui trazido à discussão, a saber, o valor da palavra.

    O resultado é "isto": uma espécie de questionário pueril que foge completamente ao que se discute mas em que se tenta desresponsabiizar política ( e não só) a incompetência tremenda da horda neoliberal.

    Há mais um pormenor que se torna terrível por parte dum que passa a vida a querer "poupar" o dinheiro dos que trabalham

    É a questão do direito, da compensação devida a quem foi prejudicado por estas máquinas terríveis dos computadores que fogem até da vontade dos donos ( já agora tinha sido oferecido ao ministério há muito formas de resolver o problema antes deste o ser de facto . Crato recusou)

    Segundo as palavras do jose " o prejuizo mede-se de uma posição de direito ..."
    Pois claro.Então a que propósito o prejuízo causado pelos incompetentes da direita trauliteira há-de ser pago pelo contribuinte? Desapareceu agora a preocupação com os gastos "excessivos"?

    Lembram-se que o pesadelo do BES não iria ter custos sobre o contribuinte?Hoje assistimos ao número mafioso do passos a ter que admitir, sem o afirmar directamente que afinal a CGD também poderá ser envolvida nos prejuízos

    O espanto. Depois a compreensão.Tratou-se apenas dum "erro processual".
    Ou duma questão semântica

    De

    ResponderEliminar
  11. Respostas? NADA...

    Se o sentido fosse 'manter-se-ão' umas das três opções haveria de ser tomada.
    Quem acusa o ministro de mentir há-de razoavelmente ter entendido que uma dessas opções seria assumida.

    Qual delas tinham tais int+erpretes em mente?
    What?...treteiros!

    ResponderEliminar
  12. Mais uma vez,com a serenidade necessária e suficiente, sem nos arastarmos para a adjectivação monocromática de "treteiros" como alguns gostam de se rotular:

    Alguém que faz esta afirmação:
    "«Eu disse os professores mantêm-se. Não disse manter-se-ão»

    ... é várias coisas. Nenhuma simpática. Todas convergindo para a total falta de respeito com o sentido de honra e de dignidade.E mais umas tantas coisas.


    Daí que é inútil o questionariozinho.Ou,ainda mais sugestivo, uma derivaçãozinha espúria sobre o que iria na mente alheia.

    O ministro mente, sabe que mente e é cobarde. Foge e procura esconder-se ( é habitual entre este género) atrás dum tempo verbal.
    Infelizmente para o jose, os factos são por demais ponderosos para serem desmentidos, quer na língua-mãe , quer em linguajar alheio

    Tal como é extremamente sugestivo o silêncio sobre o onerar do estado por parte da qaudrilha neoliberal.

    Ou a tentativa de colorir a grosseira calinada dos ultramontanos que nos desgovernam.

    De

    ResponderEliminar
  13. Mas para encerrar de vez este assunto, num editorial dum jornal que as mais das vezes cobre a retórica neoliberal governamental, veja-se o que lá se diz.
    Preto no branco:

    "De repente, ontem, no Parlamento, o ministro da Educação e Ciência parecia ter sido atacado por um surto de bom senso. O anúncio de que o seu ministério ia analisar os casos dos professores afectados pelos erros decorrentes dos concursos no âmbito da Bolsa de Contratação de Escola, tendo em vista uma compensação, era uma ideia boa e justa. Afinal, o diabo está nos detalhes… Lidas com atenção, as intenções de Nuno Crato não são mais do que paliativos para iludir incautos. Em vez de analisar vidas desfeitas, famílias divididas, crianças arrastadas para a insegurança de uma colocação incerta, a burocracia ministerial vai debruçar-se sobre o bilhete do autocarro e no mês de casa alugada. E, depois, há aquele pormenor semântico para escamotear acusações de que mentiu ao Parlamento quando prometeu que os professores se manteriam nas escolas e não haveria prejudicados. «Eu disse mantêm-se. Não disse manter-se-ão», tentou explicar Crato. E o ministro mantém-se? Manter-se-á?"

    Só não vê quem não quer ver. Ou outra coisa ainda pior

    De

    ResponderEliminar
  14. Blá, blá, .... se mentiroso não serve, diga-se cobarde, ou outra coisa qialquer porque o importante não é ter razões, o importante é estar com corais afinados e usufruir desse conforto de seguir uma pautia ...

    ResponderEliminar
  15. Infelizmente não pode passar.

    Porque ao contrário do que o sr jose quer agora fazer crer, mentiroso é um qualificativo que serve ao crato.Tal como cobarde. Não se excluem , completam-se.

    Eis um pedaço do retrato, também cívico e ético, da governança neoliberal.E das suas "razões" e do que faz para continuar a afundar este país ao som duma pauta que cheira irremediavelmente a bolor.

    De

    ResponderEliminar