sábado, 20 de setembro de 2014

Reféns de um Banco Central “independente”



No dia 12 de Novembro de 2010, o governador do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, escreveu uma carta ao governo irlandês. A carta era e continua a ser secreta, mas consta que exigia à Irlanda um pedido de resgate imediato sob pena de suspensão do financiamento do Eurosistema à banca irlandesa. No dia 21 de novembro o governo irlandês solicitou o resgate.

No dia 5 de Agosto de 2011, Jean-Claude Trichet escreveu mais duas cartas, uma ao primeiro-ministro de Espanha Zapatero, outra ao primeiro-ministro italiano Berlusconi. Ambas foram mantidas secretas durante muito tempo, mas deixaram de o ser para desgosto do BCE.

Resumo abaixo o conteúdo de ambas as cartas., Mas vale a pena ler os originais. São autênticos programas de governo, escritos num tom impertinente e imperativo do tipo ou cumprem ou… O “ou” está implícito, mas tendo em conta o contexto, é evidente que a ameaça era a suspensão das compras de dívida espanhola e italiana nos mercados secundários por parte do BCE.

As cartas transportavam um veneno letal. Poucos meses depois de as receberem Zapatero e Berlusconi desapareceram do mundo da política ativa. Na realidade Zapatero já havia decidido entregar o poder ao PP, mesmo antes de receber a carta, quando a 29 de Julho de 2011 convocou eleições antecipadas. Mesmo assim Zapatero, não quis desaparecer de cena sem negociar com o PP a alteração constitucional que consagrou a famosa “regra de ouro” do equilíbrio orçamental. Berlusconi tentou sobreviver e conseguiu prolongar a agonia até 12 de novembro de 2011.

No dia 1 de Agosto de 2014, o Conselho do Banco Central Europeu decidiu suspender o estatuto de contraparte do Banco Espírito Santo, SA, com efeitos a partir de 4 de Agosto de 2014, a par da obrigação de este reembolsar integralmente o seu crédito junto do Eurosistema, de cerca de 10 milmilhões de euros, no fecho das operações no dia 4 de agosto.” Isto é o que se passou a saber desde que a ata do Conselho de Administração do Banco de Portugal de dia 3 de Agosto de 2014 foi oportunamente divulgada por um advogado português que a ela soube aceder. Como se pode ler nesta mesma ata, estas decisões do BCE tornavam “insustentável a situação de liquidez” do Banco, isto é, ditavam a sua morte.

Estes quatro casos ilustram o extraordinário poder do Banco Central Europeu e a extraordinária debilidade de Estados e governos da zona euro, perante esse poder.

Sabemos que não há soberania sem moeda e capacidade de emissão monetária. Quem manda é quem tem o poder de dizer “não há dinheiro”. Dizem-nos que os países da zona euro “partilham” essa soberania. Mas o que significa “partilha da soberania” monetária? Pelos vistos sujeição a um Banco Central dito “independente” que não responde perante nenhum parlamento e que não hesita em exorbitar do seu mandato para impor programas de governo com um claro viés de direita e, como no caso do BES, decisões políticas que põem em risco milhares de milhões de todos nós.

Isto é um problema, por ventura o nosso maior problema.


Carta a Berlusconi (resumo)

Na conjuntura presente consideramos que as seguintes medidas são essenciais:

1. a) Liberalização total dos serviços públicos e profissionais, particularmente privatizações em grande escala de serviços municipais; b) Reforma do sistema de contratação coletiva permitindo que os salários e as condições sejam determinados por acordos de empresa; c) Revisão abrangente das regras que regulam a contratação e o despedimento a par do estabelecimento de um sistema de seguro de desemprego e de um conjunto de medidas ativas de emprego capazes de facilitar a realocação de recursos em favor das empresas e setores mais competitivos.

2. a) Reduzir o défice público previsto para 2011, alcançar um défice de 1% em 2012 e conseguir um orçamento equilibrado em 2013, principalmente através de cortes na despesa. Tornar mais exigentes os critérios de elegibilidade das pensões de velhice; alinhar rapidamente a idade de reforma das mulheres do setor privado à do setor público. Reduzir o custo dos funcionários públicos se necessário reduzindo os salários; b) Introduzir uma clausula automática de redução do défice estabelecendo que quais desvios das metas serão automaticamente compensadas por cortes horizontais em despesas discricionárias

c) Controlo firme do endividamento das regiões municípios

3. Grande reforma da administração pública para melhorar a eficiência tornando-a mais amiga dos negócios: uso sistemático de indicadores de desempenho nos sectores da saúde, educação e justiça; abolição de níveis intermédios da administração pública; aproveitamento de economias de escala nos serviços públicos locais.

Carta a Zapatero (resumo)

Na conjuntura atual consideramos essencial a execução das seguintes medidas:

1.a) Reforçar o papel dos acordos no âmbito da empresas com vista a garantir uma real descentralização das negociações salariais; b) Suprimir clausulas de indexação dos salários à inflação; c) Moderação salarial no setor privado em consonância com as reduções significativas dos salários públicos; d) Redução das indemnizações por despedimento e das restrições à renovação de contratos a prazo.

2.a) Redução do défice estrutural em 2011 para 0,5 do PIB; controlo dos orçamentos regionais e locais; b) Publicação das contas trimestrais de todos os subsectores; c) Aplicação da regra que indexa o aumento da despesa à taxa de crescimento tendencial do PIB a todos os subsetores da administração.

3. a) Refletir os custos nos preços da energia e reduzir a dependência energética; b) Promover o mercado de arrendamento habitacional; c) Aumentar a competitividade do setor dos serviços abordando especificamente a regulação dos serviços profissionais.

22 comentários:

  1. E alguns ainda pedem mais poder para o BCE(que como se diz aqui e bem é independente e a caminho de se tornar um FED da Europa)será que não sabem o que estão a pedir??O BCE tem participações de bancos centrais que não fazem parte do euro,caso mais evidente o inglês(que sabemos ser manipulado por banksters privados),como pode ser uma coisa dessas?

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  2. Um post muito oportuno .
    E extremamente revelador.

    Dados objectivos, frios e concretos .
    Para desespero dos cúmplices e dos envolvidos na governança neoliberal.

    Obrigado

    De

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  3. O IV Reich.
    Primeiro enfiaram o barrete a alguns ingénuos governantes (não todos): "gastem, endividem-se".

    Agora que estão seguros pelas bolinhas, seguem o credor, com muito juízo, para onde ele os levar.

    Mas o mais engraçado é que até são directivas que qualquer governo bem formado, genuíno, tería seguido desde sempre.

    Só os PMs sedentos de reeleição é que não seguiram aquelas simples e justas regras.

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  4. Bem, no caso português o BCE passou das palavras aos actos. Cortou mesmo o financiamento à banca portuguesa e deixou de comprar a dívida portuguesa no mercado secundário...

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  5. Sem dúvida que os eleitores elegem uns autenticos incompetenets como governantes. Os jornalistas e comentadores podiam ajudar com informação mais pertinente e adequada, mas os cidadãos preferem a casa dos segredos... e tambem não há cidadãos melhores para importar.
    Que nos valha uns reguladores que funcionem, como o BCE.

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  6. O BCE representa o capitalismo na sua forma mais preversa. É um centralismo borucrático que está a levar a Europa para estruturas governativas autocráticas. A história está a repetir-se. Parece que estamos a voltar novamente à decada de 30 do seculo passado.
    O actual Governo Portugues é um fanático seguidista das doutrinas do BCE.

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  7. Não , estas "directivas" não têm nada de engraçado.

    E um governo " bem formado" ( o que será isso?) nunca as teria seguido.

    A cartilha neoliberal a fazer o seu caminho.Cabe a nós recusá-lo


    Quanto ao papel dos eleitores muito haveria a dizer sobre tal.
    Todavia a absolvição em passo de corrida dos media e dos comentadores tem muito que se lhe diga.
    O terreno não é apresentado em estado virgem e por desbravar.
    A manipulação da comunicação social que se torna veículo do "pensamento único" é reforçada com os "comentadores" escolhidos a dedo para amplificar, reforçar e instrumentalizar a mensagem.

    Todos sabem isso e alguns dos responsáveis deste blog sabem-no na pele. Basta ver quantas vezes quem contraria os ventos neoliberais têm tido acesso aos media

    De

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  8. Seguramente não é ao BCE que compete garantir aos governantes transformarem os orçamentos de Estado num permanente e acelerado gerador de dívida, quando por outro lado lhe são impostos deveres de controlo da inflação.

    Para os políticos da inflação/desvalorização e seus economistas, nunca a UE lhes prometeu suporte.

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  9. "Seguramente não é ao BCE que compete...etc e tal"

    Como? Mas não houve o cuidado de ler este precioso texto de Castro Caldas?

    Desde quando o BCE tem legitimidade democrática para fazer chantagem e impor-se desta forma aos governos que resultaram da escolha dos seus povos?

    -Desde quando são aceitáveis "cartas secretas" sobre o destino dos povos e das nações, por parte duma entidade supra-parlamentar?

    - O suporte prometido pela UE pelos vistos é o da austeridade, o dos interesses do centro versus os da periferia. É a cartilha neoliberal mais desbragada. Mais um motivo, um enorme motivo para
    exigirmos outra UE que não a dos barrosos , junkers, passos, portas, cavacos, trichets,dreguis.

    De

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  10. "A busca das "finanças públicas saudáveis pela austeridade" constitui a "impostura da finança" (Joan Robinson). A dívida é a tirania dos mega-ricos, é a moderna escravidão, destrói os países a menos que sejam tomadas acções para a parar e passar tê-la sob controlo, sendo o financiamento público feito a partir da emissão de moeda pelo Estado.

    O B de P podia proporcionar dinheiro ao Estado sem juros e gerando lucro. O absurdo do banco central não poder fornecer moeda directamente ao Estado representa um ódio ao colectivo, ao social, para entregar dinheiro praticamente sem juros, à banca privada para esta aplicar na usura e na especulação, impondo o garrote da austeridade. É o "vírus capitalista" (Robert Hunziker)

    "A Europa e o euro caminham para o suicídio", afirmou J. Stiglitz: O problema fundamental é que a concepção geral da UE foi errada. Em função dos acontecimentos recentes, a UE teria de se ter dado conta que essas regras não eram suficientes. A união monetária é um problema em si mesma.

    A UE tem 25 milhões de desempregados em termos oficiais, no final de 2012 atingia, em crescendo, 125 milhões de pobres, quase 25% da população; desde a crise a produção industrial caiu 20% e perdeu 4 milhões de empregos industriais. Países como a França, ou a Itália têm a economia estagnada, a produção industrial e o emprego regridem, a dívida cresce. Porém, submetidos aos ditames da Alemanha, adoptam a via da austeridade.

    A Europa está no limiar da catástrofe. As linhas de fractura da zona euro são visíveis no imediato e a interacção entre mercados, instituições inadequadas e condições políticas insustentáveis estão a conduzir a economia europeia rumo à depressão e a zona euro à desintegração.

    O euro tem um problema insolúvel. Os países gravemente endividados, são vítimas de uma falha fundamental na sua moeda. Já antes do arranque do euro se havia advertido que uma moeda única apenas pode funcionar se os países participantes são economicamente homogéneos. Perante o falhanço do euro e das políticas associadas, reclama-se a "austeridade total" e a "integração absoluta". A insistência do poderoso ministro das Finanças alemão, Schauble, faz-nos lembrar Goebells vociferando no início de 1944, pela "totaller kriege", a guerra total…que levaria a Alemanha à vitória. "

    Daniel Vaz de Carvalho

    (De)

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  11. DE, tem da democracia a noção que em tempos tinha por palavra de ordem 'É fartar vilanagem'.
    Tem inventariados os inimigos sobre quem ordenar o fossado espoliador.
    Tem sob reserva o jugo que em seguida cairia sobre a vilanagem.
    A desvalorização do salário em 30%e em escudos seria o princípio
    desse processo democrático e patriótico!

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  12. -Usar a palavra democracia quando se está a falar no BCE só como piada de mau gosto.Ou como fundamentalismo ideológico

    -O termo "é fartar vilanagem" é um termo que define e bem o assalto aos portugueses, aos seus salários e pensões,aos seus dias de descanso, à sua assistência na doença, à sua segurança social por parte do governo de portas/coelho. Nunca a ouvi como palavra de ordem,pelo que há aqui qualquer coisa errada.

    Mas tal não interessa muito ,tal como nada interessa os pensamentos do sr jose sobre a minha pessoa.

    Interessa sim discutir o papel do BCE, agente da troika e responsável pelo rumo actual.Interessa sim discutir de como o BCE é apaparicado pela nossa direita ( alguma da qual extrema) que , esquecida já dos "interesses nacionais" exulta com a servidão do país perante esta estrutura troikista ao serviço de interesses alheios ( as nossa elites são sempre assim: vendem-se e vendem o país a quem dá mais)

    O tema da saída ou não do euro é um tema fundamental, que já foi e é aqui debatido,mas que não constitui o cerne deste debate.
    Reiniciá-lo com esta frase :"A desvalorização do salário em 30%e em escudos" parece-me mais um gesto de propaganda descabelado do que uma tentativa séria de debater o que quer que seja. Ou então (mais uma vez )trata-se de fugir ao que se debate:
    O banco central "independente"

    De

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  13. O Banco Central Europeu

    Criado em 1998 de acordo com o modelo alemão do Bundesbank e instalado em Francoforte sobre o Meno, na Alemanha, o Banco Central Europeu (BCE) é a instituição europeia responsável pela aplicação da política monetária na eurozxona [1] . O Tratado sobre a União Europeia, habitualmente conhecido como o Tratado de Maastricht (1992) criou o BCE e definiu suas missões (art. 105):

    - definir e implementar a política monetária da Comunidade;
    - conduzir operações cambiais;
    - manter e administrar as reservas oficiais de divisas estrangeiras dos Estados Membros;
    - promover o funcionamento estável dos sistemas de pagamentos.

    Sua missão principal, bem como a dos bancos centrais nacionais da eurozona, é manter estabilidade de preço [2] em torno de um nível de inflação anual de 2%.

    As competências monetárias dos bancos centrais da eurozona foram transferidas para o BCE. Proclamado independente, o BCE é governado por banqueiros na pura lógica bancária. Se populações europeias exigirem outras opções monetárias democráticas, o BCE pode muito simplesmente ignorá-las e continuar com os seus dogmatismos favoráveis aos grandes negócios e aos indivíduos mais ricos. Esta chamada independência não é senão uma fachada para nos levar a acreditarmos que as opções do BCE não podem ser questionadas. De facto, são os grandes bancos e instituições financeiras, juntamente com os líderes europeus, que impõem políticas neoliberais sobre os seus povos depois de ouvirem o BCE. Embora políticas do mercado de trabalho não sejam competência do BCE, ele intervém regularmente para criticar direitos laborais e promover os interesses dos grandes negócios.

    Deve-se mencionar que o BCE não compra directamente dos Estados os títulos da dívida pública que eles emitem. Os fundadores do BCE optam por dar ao sector privado o direito exclusivo de financiar a contracção pública de empréstimos. Desde 2010 o BCE compra no mercado secundário dos banqueiros, que os compram no mercado primário e têm dificuldade em descarregar aqueles que já ninguém quer. Isto é um outro modo de BCE financiar os bancos. Se o BCE comprasse títulos públicos no mercado primário ele poderia financiar directamente os Estados. O BCE só promove deste modo os títulos que foram emitidos pelos países que se submeteram às suas políticas brutais de austeridade.

    O Tratado de Lisboa e os estatutos do BCE proíbem-no, tal como aos bancos centrais nacionais, de emprestar directamente aos Estados. Eles emprestam ao sector bancário privado o qual por sua vez empresta aos Estados a taxas de mais altas. O artigo 101 do Tratado de Maastricht, reproduzido como artigo 123 do Tratado de Lisboa, declara: "Facilidades para saques a descoberto ou qualquer outro tipo de facilidade de crédito com o Banco Central Europeu ou com os bancos centrais dos Estados Membros (doravante mencionados como "bancos centrais nacionais") em favor de instituições da União, organismos, gabinetes ou agências, governos centrais, regionais ou locais ou outras autoridades públicas, outros organismos governo pelo direito público, ou empreendimentos públicos dos Estados Membros serão proibidos, como o será a compra directa a eles pelo Banco Central Europeu ou bancos centrais nacionais de instrumentos de dívida". Esta é uma da razões porque este tratado deve ser abolido em favor de uma União Europeia verdadeiramente democrática.
    Eric Toussaint

    (De)

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  14. Ou seja:

    "Os bancos da eurozona têm o monopólio da concessão de empréstimos para o sector público. É proibido para o BCE e os bancos centrais da eurozona conceder empréstimos a autoridades públicas (ver caixa sobre o BCE). Os governos na eurozona têm a possibilidade de tomar emprestado de bancos de propriedade pública quando existem, mas eles não o fazem .

    Os bancos privados obtêm a maior parte do seu financiamento, desde 2008, de fontes pública (o BCE e os bancos centrais na eurozona) a taxas de juro muito favoráveis. A partir de Junho de 2014 tomavam emprestado do BCE a 0,15% e a 0,05% a partir de 4 de Setembro de 2014 (quando a taxa de inflação em 2013 foi de 0,8% na eurozona, o que significa que a taxa de juro real é de facto negativa). A seguir os bancos privados emprestam para países periféricos europeus como Chipre, Grécia, Irlanda, Itália, Espanha, Portugal e os membros da eurozona no Leste Europeu) a taxas de juro altas, mesmo exorbitantes (entre 4% e 10%). Eles emprestam à Bélgica, França e Holanda a 2% e à Alemanha a 1,6% (números de Março de 2014)."

    Eric Toussaint

    (De)

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  15. Devo mesmo ser neo-liberal: não vejo nada de errado nos programas italiano, espanhol e irlandÊs, só tenho pena de o Governo não ter avançado de forma completa com o programa eleitoral a que se propôs.

    Já agora, a Irlanda está a crescer em valores superiores agora que a 7 anos atrás, e após a crise ter estalado a 5 anos (portanto, está melhor que antes?!)

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  16. Deve ser mesmo neoliberal.
    Mas o mais grave nem sequer é isso.
    É não reconhecer que O BCE ( há quem goste mesmo de quem nos anda a tramar mas isso é doutro domínio) extravasa,claramente as suas competências.
    Para além do BCE assumir o papel de chantagista ( há quem goste destes processos de actuação, mas isso é doutro domínio também).

    De

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  17. O post inicial "Reféns de um Banco Central “independente”" tinha 2 vertentes de análise:

    - a questão da actuação do BCE, que de facto, concordo, ultrapassa o que é aceitável de uma instituição que não devia ter poder politico, para o qual não foi eleito, muito menos de chantagem perante estado soberanos.
    Contudo, o programa eleitoral do PSD era conhecido aquando das eleições, e foi escolhido em sufrágio universal. Por muito que isso custe a determinada esquerda.

    - a questão do conteudo das cartas, em termos de politicas a adoptar. Aqui cruzamo-nos com o que se passou em Portugal e Irlanda (só para referir estes 2), as respetivas cartas seguem linhas de politica idênticas: como disse "o governo de passos coelho e de portas não cumpriu o programa que se propôs", que é basicamente a carta portuguêsa. Pois não, se o tivesse feito, como fez a Irlanda, não estariamos na situação desta? A crescer em valores superiores agora que a 7 anos atrás, e após a crise ter estalado a 5 anos, desemprego em baixa, salarios a subir...

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  18. Errado

    Parece que entre a horda neoliberal a memória é coisa fraca.

    Parece que o exposto sobre o palavreado de passos coelho é coisa pouca para alguns dos nossos neoliberais.

    Por outras palavras.
    Contra factos não há argumentos.A palavra do chefe ainda deveria ser a palavra reconhecida pelos seus. Também é próprio de tempos sem valores nem princípios vir-se negar o que se afirmou
    ao cumpridas.

    Na apresentação do calhamaço passos coelho dizia:
    "«as dificuldades financeiras serão ultrapassadas» sem ser «com um caminho de mais austeridade», porque, «Portugal vive em austeridade e o era preciso que essa austeridade fosse partilhada por todos», acrescentou.

    «Não quero contribuir para uma campanha de medo que leve as pessoas a pensar que vamos cortar o 13.º mês, aumentar os impostos, tirar as pensões, cortar os rendimentos, porque há alguém sem o mínimo descaramento que diz todos os dias, a partir do Governo, que é isso que o PSD fará para que as pessoas prefiram ficar como estão do que arriscar a mudança», declarou.

    O resto é conversa para boi dormir. Tal como esta de passos coelho.E como tal deve ser julgado

    De

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  19. O facto do governo neoliberal ultramontano de passos coelho não ter cumprido o que prometeu retira-lhe legitimidade para governar.

    Mas cumpriu outras coisas.Cumpriu o programa da troika. E mais.Nas palavras doutro exemplar gratuito da cupidez dos senhores que se amesendaram, o sr catroga,foi mais longe que a troika

    Com os resultados que se conhecem

    De

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  20. Mas a propósito da "deriva" irlandesa encetada pelo Daniel Ferreira, ela enquadra-se perfeitamente na tal degradação ideológica da direita, tão bem focada por Daniel Vaz de Carvalho.
    Face ao descalabro das suas políticas a direita desligou-se da realidade, mergulhou no que podemos classificar de solipsismo.
    Demos a palavra ao próprio:

    "No solipsismo, a realidade consiste no que cada indivíduo concebe como tal. A realidade torna-se um produto da consciência: o que se pensa, "é". Está na base das "críticas construtivas" dos propagandistas do governo ao dizerem que o problema deste governo seria a "comunicação". Adoptam o lema salazarista de que "em política o que parece, é". As contradições do sistema eram então "suprimidas" pela polícia política.

    A própria base teórica evidencia já uma desconexão da realidade, tomando como real a aparência das coisas. É o caso de assumir como valor o que resulta da oferta e da procura. É o caso do capital fictício dos produtos financeiros, sejam acções, sejam os "produtos derivados", aparência de bens ou serviços que não existem. O rebentamento das bolhas financeiras, as falências bancárias reduzem a nada estas concepções.

    Exemplos de fuga à realidade, são as medidas avulsas dos governos e da UE, sejam para o "crescimento e o emprego" sejam para o "aumento da natalidade". Não passam de cosmética para ganhar tempo e iludir a opinião pública, por parte de gente incapaz de reconhecer que a raiz do problema está nas suas próprias concepções ideológicas: "A questão não é sobre as regras que estão definidas e são reconhecidas é sobre a qualidade da execução".

    O BES como reincidência, à semelhança do que se tem passado por todo o mundo neoliberal, traz evidencia que para troika, Banco de Portugal (BP), governos, a realidade é-lhes opaca quando se trata da oligarquia financeira. Auditorias, análises, estudos servem para a encobrir e ilibar, culpabilizando socialmente as camadas populares que consumiriam sempre acima das possibilidades.

    No caso BES como no BPN as declarações dos governadores do BP e ministros das Finanças são patéticas, a fuga à realidade manifesta-se escondendo-se atrás de formalismos. Outra é a atitude quando se trata de atacar salários, pensões, reformas ou direitos laborais com normas anticonstitucionais!

    A austeridade aparece então como um novo mito de Sísifo, tentando ilusoriamente, à custa das camadas populares, transformar o fictício em real. Ora, não é possível encontrar solução para situações das quais não haja compreensão. Dizia Espinosa no seu "Tratado do Entendimento": "Toda a confusão provém de a mente conhecer apenas superficialmente uma coisa que é um todo ou se compõe de muitos elementos (…) essa coisa terá de conhecer-se não parcialmente, mas na totalidade ou então não se conhecerá de todo".

    A fuga ao real evidencia-se no falhanço das previsões e dos objectivos das estratégias, na atitude perante a renegociação da dívida. A actual maioria PSD-CDS, os membros do governo criam cenários fictícios, divorciados da realidade económica. Os próprios dados económicos são apresentados como abstracções retiradas dos contextos gerais ou muito simplesmente falseados. "

    Há mais.Fica para depois.

    O novo mito que tenta deitar uma cortina de fumo sobre a governação ultramontana neoliberal do governo e o seu fracasso agora chama-se Irlanda.

    Pois.
    Só não é para rir porque é trágico.
    Mas as tentativas de fuga do real à custa de mitos revelam afinal que o rei vai nu.

    De

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  21. Mais uma vez o solipsismo a pairar de forma teimosa e atrevida sobre os desejos do "ir mais longe " neoliberal da dupla passos /portas.

    O falhanço estrondoso da política de submissão troikista seguida pelo governo neoliberal deve deixar inquietos os da escola de chicago, que vêem ir pelo cano abaixo as suas elucubrações teóricas vazias do real e desprovidas de conteúdo

    O recurso a mitos e a estorietas do género "podia cá fazer-se ski se cá nevasse" demonstra de forma um pouco patética o descrito até aqui.

    Passos mentiu para alcançar o poder e para governar de acordo com a cartilha neoliberal ( e para se governar a ele e à sua coorte).

    Fê-lo da forma despudorada, que é característica do grupo, sem pruridos e com a forma de agir dos desprovidos de escrúpulos.
    Mas de acordo com os mais elementares princípios democráticos devia tê-lo feito de acordo com a lei, a CRP. Não só não o fez, como sistematicamente a violou, demonstrando o seu apego aos entorses da democracia (confirmado agora na triste cena que asperge de corrupção as figuras queridas da escola de chicago).

    Coisa que não é para admirar.Quando perante factos que atrapalhem a concretização da sua doutrina económica, os neoliberais não hesitam em cortar a direito com a democracia a a comportarem-se como reles e vulgares criminosos.

    O Chile e o golpe de Pinochet aí estão para o demonstrar

    De

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  22. Quanto ao sítio para onde aconselha a irem beber a deriva irlandesa confesso que contra os meus princípios o fiz e dei-lhe uma vista de olhos. Não gosto nem do local nem do amorim lopes, prototipo da colecção de chicago falada em cima.

    Fiquei desapontado.Uma tristeza de conteúdo, que mete as mãos pelos pés ,testemunho de alguma indigência factual que alberga aquele albergue.

    Nem me dou ao trabalho de desmontar o escrito porque alguns dos seus comentadores o fazem duma forma que fala por si.

    Também confesso que tive já debates com o amorim lopes.Para além da surpresa que constituiu ver o nível argumentativo, o que sobressaiu na figura queirosiana e pedante daquele blogger foi o ódio primário a tudo o que possa ter constituído avanços para a Humanidade. A simples nomeação da Revolução Francesa punha-o a salivar.
    O endeusamento que fez a personagens esclavagistas foi a gota de água para deixar de ter paciência para o aturar.

    De

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