sábado, 24 de maio de 2014
Saídas
Com a excepção do trabalho de alguns jornalistas, de que o melhor e mais recente exemplo é o livro de Paulo Pena, a comunicação social, como até Camilo Lourenço reconhece no seu pedido de desculpas, tem sido demasiado timorata na cobertura dos mandos e desmandos do poder financeiro em Portugal. Pudera. É que o dinheiro comanda muito respeitinho e tem propriedades estranhas de inversão para as quais a referência clássica continua a ser Marx. Basta pensar no que também acontece em alguma academia por aí: a que tem cátedras BCP, salas BES e atribui Doutoramentos Honoris Causa e outras honras a banqueiros muito respeitáveis e a quem a próspera economia portuguesa tanto deve; a que propagou a ideia de que os mercados financeiros liberalizados são o máximo da eficiência. Basta pensar na eficiência com que o capital financeiro se transmuta em poder politico, a tal “bancocracia”.
Surge esta conversa a propósito da extraordinária entrevista ao Doutor Honoris Causa Ricardo Salgado feita pelo Negócios e do pouco que se vai sabendo sobre a transformação do Espírito Santo em zumbi, para a qual já chamámos a atenção: na melhor das hipóteses, o próprio Ricardo Salgado atribui os “erros” de gestão à opacidade da estrutura do grupo, às “n” holdings, tudo feito certamente para maximizar a transparência fiscal e regulatória, tudo certamente tolerado pela regulação ligeira, pela trela solta da finança. Aliás, a Espírito Santo Internacional estava sediada no refúgio fiscal do Luxemburgo porque o Espírito Santo está sempre onde estão os portugueses. A naturalidade com que fala do Luxemburgo, sem que haja qualquer pergunta, é impressionante.
O resto é a impunidade de sempre até à hipotética queda final do que era considerado até há pouco tempo o homem mais poderoso da economia política portuguesa: devemos estar muito agradecidos, segundo Ricardo Salgado, por este nos ter “poupado” dinheiro ao evitar a capitalização estatal. Também devemos estar agradecidos pelos créditos fiscais concedidos, na ordem das centenas de milhões de euros, referidos de raspão. Enfim, vejamos se as propriedades autodestrutivas de um sistema, que também apostou na austeridade, não deitam tudo a perder.
Não tem nada a ver com o post, mas eu agradeceria que o João Rodrigues aqui colocasse uma citação de Hayek que recentemente leu numa das (creio que na terceira ou quarta) suas conferências na Culturgeste em Lisboa. Uma citação sobre como uma entidade supranacional poderia pôr em prática as ideias políticas dele, Hayek, com aplicação à União Europeia. Se puder diga também a fonte dessa citação.
ResponderEliminarObrigado.
Esta cambada, com a mania de sangue azul dos instalados no poder, que se considera dona e senhora desta plebe da roça à beira-mar plantada, arranja sempre uns correligionários lambe-botas para dar umas pinceladas á coisa!
ResponderEliminarDe vez em quando arranjam uns “Godinhos sucateiros”
(…sem sangue azul! ) para alimentar a turba e o sistema e, do alto do seu pedestal, procuram distanciar-se da… coisa!
Rios… de empresas !
Rios… de conselhos de administração !
Rios… de administradores ! (…não executivos!!! )
Rios… de carros !!
Rios… de cartões !
Rios…?!?!?!
Tudo com ar legal!
Todos serviçais … mas com aquele ar de…tecnocratas !!!
Quantos robalos?!...quantos envelopes?!… quantos compadrios ?!
Coitados dos “Godinhos” !!!
Foi na última sessão que eu usei o Hayek a propósito da tal entidade supranacional. O ensaio de Hayek, de 1939, intitula-se "the economic conditions of Interstate Federalism" e é o último ensaio da colectânea "individualism and Economic Order", de 1948:
ResponderEliminarhttp://mises.org/books/individualismandeconomicorder.pdf
Este é de resto o melhor livro para começar a ler Hayek. Este ensaio de Hayek tem sido usado por críticos e apoiantes dos processos de integração liberal. Veja-se, por exemplo, a entrevista de Gaspar ao Público:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/02/a-vitoria-de-gaspar.html
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