quinta-feira, 20 de março de 2014
Um amigo de Gaspar?
Vítor Gaspar invocou ontem a autoridade de um “pai fundador” dos EUA, Alexander Hamilton, para defender os inconvenientes do incumprimento da dívida. Os seus aduladores na imprensa, os que confundem jornalismo com opinião, trataram logo de dizer que “Vítor Gaspar demonstrou que tem estudado a matéria”. O primeiro Secretário do Tesouro era de facto contra tal prática em princípio, estávamos no contexto de formação de um novo Estado, mas na realidade Hamilton procedeu a uma significativa reestruturação da dívida no processo da sua assunção pelo governo federal, como está relatado neste artigo do NBER que a compara com a reestruturação mexicana dos anos oitenta/noventa. A história é sempre mais complicada: dessa vez também não foi diferente.
De resto, é curioso que Gaspar invoque Hamilton, dado que este foi um construtor nacional (não, a UE não será um Estado, que os povos dos Estados-nação já existentes não deixam), um dos que forjou os principais argumentos para o proteccionismo, quer por razões de financiamento, quer sobretudo enquanto política de educação para o desenvolvimento das capacidades industriais da nova nação face aos seus competidores. O realismo, com preocupações de segurança e de poder nacionais, de Hamilton está muito longe dos delírios pós-nacionais dos nossos neoliberais capturados pela imaginação do centro. O seu famoso relatório sobre as indústrias é economia política nacional no seu melhor: todos os argumentos proteccionistas posteriores vão ter aos EUA no final do século XVIII e no século XIX, incluindo os do alemão Friedrich List. É a chamada história secreta do capitalismo que se repete: do proteccionismo às reestruturações. Precisamos mesmo dela contra a economia política neoliberal de Gaspar.
Depois do Adam Smith, Hamilton é mais um imbuído do Espírito de Abril ('avant la lettre', evidentemente). Ah, e há ainda os 74 Economistas estrangeiros que apoiam o 'Manifesto dos 74' de cá (http://www.publico.pt/economia/noticia/manifesto-da-divida-recebe-apoio-de-74-economistas-estrangeiros-1628981?page=2#follow). É verdadeiramente uma 'Conspiração Mundial Keynesiana' deve pensar Passos Coelho lá do seu bunker!
ResponderEliminarO V Gaspar ainda não foi para o FMI mas já começou a engraxar os américas, como engraxou o ministro das finanças alemão. De tal maneira o fez e de tal maneira foi capacho dos alemães que em paga - FMI com ele.
ResponderEliminarComo é que o fulano não há-de estar todo satisfeito. Fez o que fez ao seu país enquanto ministro das finanças e agora vai continuar a lixá-lo nos EUA enquanto homem do FMI. Antes homem da troika, hoje homem do FMI que é como quem diz
(continuando) que é como quem diz, Portugal que já tinha um "grande patriota"(da própria barriga ) na Comissão Europeia passou a ter outro "grande patriota" agora no FMI.
ResponderEliminarCom patriotas destes quem é que precisa de inimigos.!?